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“ODE” AO MESTRE MBANDE, PROFETA DA CULTURA CHOPE/TXOPI

Por admin

E eles, quer ouçam quer deixem de ouvir (…), hão-de saber que esteve no meio deles um profeta”. Ezequiel 2:5

Bayeeethiye!à memória do Mestre Venâncio Mbande! Mais o quê!? Que cada um dos Grupos Étnicos da população que compõe a grande Nação Moçambicana do Rovuma ao Maputo e do Zumbo ao Índico, tem os seus usos, os seus hábitos e os seus costumes que no seu todo contribuem para o enriquecimento daquilo que se chama Cultura Moçambicana. Infelizmente a nossa História como Povo, está longe de ser completa, enquanto não estiver documentada, sobretudo no que tange à nossa Cultura. Assim, cada Etnia, vai marcando a sua presença no mosaico cultural Moçambicano, através da transmissão oral, dos seus “mais velhos”, isto é, de pai para filho e deste para os netos. É o caso da cultura dos Va Chope/Va Txopi. Quando no século XIX, se verificou a grande invasão Zulu, com Ngungunyana pressionando os Va Tsonga (nativos do Sul de Moçambique) a pagar um tributo, os Va Chope/Va Txopi, diferentemente dos outros que usavam somente a Lança (Azagaia), eles usavam o Arco e Flechas, (Wulaho ni Siholoma/Ti Galala/Ti Ndomi) para se defenderem e ou atacar os seus inimigos (Ku Chopa/Ku Fula). Mesmo assim, foram fortemente mesclados vendo-se assim dispersos pelos Distritos de Zavala, Inharrime, Homoine, Mandlakaze, Morrumbene e Massinga. Hoje pode pensar-se que a cultura Chope/tXOPI, apenas circunscreve-se no fabrico, toque e dança do instrumento conhecido por MBILA, cujo plural é TIMBILA reconhecido pela Unescocomo  Património Cultural Oral e Imaterial da Humanidade. Mas há mais. Txi Nveka, Txhopo, Ngalanga e Masesa, são igualmente manifestações da cultura dos Va Txopi. Ofalecido Pai do meu falecido Pai bem como o seu falecido sogro, que ambos eram da Etnia Chope, trespassaram para mim, alguns usos e costumes da sua (nossa) Etnia, designadamente saber evocar os seus antepassados até no mínimo dez gerações, que designa-se por “Ku ti Thopa/Ku Hlambanya”. Por isso é que sei que sou Kandiyane, wa matuva Kandiya, wa Ngilazi, wa Makupulane, wa Makanze, wa Litole, wa N´Dzime, wa Nyatxiwise, Makhwite, wa Zulu, os quais, segundo o princípio dos Va Chope não morreram, (não existe na língua Chope a palavra Cemitério), pois os antepassados simplesmente deixam-nos, (va hi side) ficam feios (va bihide), desaparecem (va mwalede).A Wukhwera ouInSungi “Circuncisão”, conhecida hoje como um dos meios de prevenção contra doenças de transmissão sexual,era (é), um dos ritos de iniciação dos Va Chope, feito a sangue frio (sem anestesia) num matagal cerrado, sem o qual um Machope, dificilmente podia ter mulher. A destilação dos Óleos de Mafurra (M’tona/Munyanzi e Matolo), o primeiro que se constitui num delicioso condimento alimentar e o outro como unguento para o tratamento da parturiente, das suas vestes e do “enxoval” (Si Beso) do seu Bebé, são também costumes dos Va Chope. O fabrico de Dithevele (espécie de caleira), a partir de tronco da figueira africana (Ntshalo), para destilar aguardente e o fabrico e porte deNdzanga (pequeno machado), no ombro pelo homem, é também uma manifestação cultural dos Va  Chope/Va Txopi. E mais e mais! Por isso digo “Bayeeethiye!” à alma do Mestre Venâncio Mbande, grande Intérprete e promotor da Cultura dos Va Chope/Va Txopi. Que a sua alma descanse em Paz Mestre Mbande.

Kandiyane Wa Matuva Kandiya

 

nyangatane@gmail.com

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