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MUTONYEDHO: Saibamos perdoar a esses e outros…

Por Idnórcio Muchanga

Por António Barros

Quando saí do alcatrão e entrei na estrada de terra batida, o Mitsubishi Pajero de duas portas, verde metalizado, perdeu velocidade, porque com os solavancos da estrada que era péssima não podia passar dos 60 quilómetros/hora. Num e noutro troço, podia acelerar um pouco mais, mas a trepidação característica das estradas de terra batida obrigava-me a desacelerar e, muitas vezes, tive de andar dezenas de quilómetros a 40 Km/hora.

Nesta viagem que fiz dois anos depois da guerra dos 16 anos, decidi levar o meu tio Joaquim, irmão mais novo da minha mãe (que a sua alma descanse em paz) para me fazer companhia. Ainda cheirava à guerra e o ambiente era de medo e receio. O objectivo era visitar alguns distritos da Zambézia para ver com os próprios olhos os estragos causados pela guerra que colocou a economia da província abaixo do zero.

Passei por alguns distritos e localidades, roteiro previamente definido, começando por Macuse, sede da Companhia do Boror, distrito de Namacurra, onde a minha mãe enterrou o meu cordão umbilical. Aqui, o que encontrei foi uma destruição parcial dos edifícios e os milhares de hectares das suas plantações de coqueiros abandonados pelos trabalhadores. A campa do Conde Estuque de Quai, que ali plantou as primeiras palmeiras, olhava triste para o cenário e não acreditava no que via. As feiras comerciais, Voabil e Garrafa, nem vivalma, o silêncio ensurdecedor. Metia medo, mais pareceria um cemitério em noite sem luar. Todas as lojas fechadas e nas suas varandas os habituais alfaiates já lá não estavam. Depois de uma visita rápida no mesmo dia, saí com a triste e plangente recordação de tudo que lá passei na infância e adolescência: pessoas e coisas e factos. Aliás, cenário igual ao da sede do distrito, Namacurra, onde lojas e restaurantes estavam fechados, a fábrica de descasque da castanha de caju destruída. Naquilo que eram os arrozais, o capim alto tinha tomado conta e o cheiro a arroz novo e a matago há muito que tinha desaparecido. Na Maganja da Costa, do gado que abundava tinham ficado algumas cabeças tresmalhadas. O senhor Silva, trabalhador dos Armazéns Pebane que nos levava a fazer umas caçadas antes da guerra, tinha morrido, vítima de ataque cardíaco. Leia mais…

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