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Liga Muçulmana: digno campeão com sigla em “contra-mão”

Por admin

A Liga Muçulmana é, de novo, o campeão nacional de futebol. Pela forma categórica como se impôs, como equipa mais regular e forte, não ficam dúvidas de que tem, inegavelmente, o “esquadrão” e a organização mais indicados para representar com ambição a alma dos moçambicanos além-fronteiras.

A festa da consagração envolveu gente de todas as raças, origens e credos religiosos.

Mas esta Liga Muçulmana é uma bela com um grande senão: uma designação que limita, divide e afasta, mesmo que só a nível do subconsciente, uma franja considerável de moçambicanos. Será apenas uma sigla e nada mais? Há pessoas que gostam da capacidade de organização, do seu futebol, mas não do nome.

Como cidadão de um país agnóstico, que aceita mas não protege particularmente qualquer religião, eu estou no grupo dos que não se sentem confortáveis em ser representados fora de portas por uma colectividade de raiz religiosa.

Que me entendam os meus amigos daquele clube. E que equacionem a possibilidade de a “moda” pegar e… replicar. Teremos um campeão com a designação de Igreja Universal, Católica, Mazione e por aí fora, a ganharem Moçambolas e a participarem, em nome de todos nós, em competições africanas. Procurei casos análogos pelo Mundo e constatei que quase não existem. Os clubes representa, cidades, bairros, grandes núcleos com tradição e pouco mais.

 

RAZÕES QUE

JÁ NÃO SÃO RAZÃO

A Liga Muçulmana surgiu como um clube de amigos, que professavam a mesma religião. Tudo normal e aceitável até um determinado nível. Isto porque qualquer um na sua igreja ou rua, pode criar um clube e dar-lhe uma designação de circunstância. Nada de censurável. Mas quando os voos começam a ser altos “mexendo” com o estatuto do país, a coisa muda de figura. Há que pensar no choque que as siglas representam para os milhões de cidadãos cuja bandeira o nosso clube pretende cobrir.

As razões da criação da Liga Muçulmana, já não são as mesmas hoje: divertir um grupo de cidadãos de uma religião, que, provavelmente defrontavam pessoas de outras religiões, castas etc.

À frente desta grande colectividade, posicionam-se jovens com visão realista e futurista do país. Ao longo das jornadas desportivas, sabemos todos, a adjectivação do público, é exacerbada e agitada pelo muçulmanismo do clube. Que se diz a cobrir um multi-religioso, mantendo um título que desmente tudo isso.

 

UMA SIGLA “EM CONTRA-MÃO”

Ninguém me deu uma procuração para sair em defesa ou em ataque desta agremiação. Que parece ter vindo não só para ficar, como para crescer. E, amiúde, nos cobrir a todos de alegrias.

A história não se faz só do passado, mas também das grandes decisões. O Maxaquene, que representa um populoso bairro de Maputo, já tem história com este nome, embora orgulhando-se do Sporting que foi. Outro exemplo é o Costa do Sol.

Uma eventual mudança de nome por parte da Liga Muçulmana, certamente teria que ser internamente bem “mastigada”, porque em todas as mudanças há resistência. Mas o bom senso e a razão, sempre vencem.

Neste caso, creio, o clube já há muito abandonou o rigor de só enquadrar muçulmanos – depreciativamente chamados de “monhés” – para passar a ser multi-racial e multi-religioso. Assim sendo, se a batalha principal já foi vencida, porque continua a ser usada esta sigla, que funciona claramente em “contra-mão”, relativamente aos propósitos desta grande nação que privilegia a união, colocando num plano secundário as diferenças de opinião ou de religião?

Como membro de liderança na frente desportiva, a Liga Muçulmana deveria repensar a sua separatista designação!

 

Mas, à semelhança do que aconteceu nos triunfos dos Moçambolas passados, há um sentimento profundo que divide os moçambicanos devido a uma palavra, única, na designação do nosso campeão: trata-se da palavra muçulmano, que não cobre a totalidade dos cidadãos deste país, antes coloca uma forte barreira na nossa identidade.

 

Estamos em presença de um clube que voa alto, porque o merece, que nos pretende cobrir a todos, mas cuja base é uma religião que só um determinado núcleo professa.

Não é um bom.

 

 

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