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Houve um debate académico com métodos não académicos

Por admin

No dia 23 do mês que acaba de nos deixar, realizou-se um debate no centro de conferências das Telecomunicações de Moçambique, aqui em Maputo, que se propunha fosse académico e juntou estudantes e a chamada sociedade civil. Voluntariamente não me refiro aos políticos.

Pretendeu-se analisar a economia, a governação e no fim colocar-se-iam os desafios e propostas. Ao que se sabe, só houve conclusões, somente políticas, talvez por isso tendenciosas, daí que minimizo a presença dos políticos que parecia terem vindo pintar a plateia, quando na verdade tinha sido seu, o principal mote da conversa. Chumbou-se o primeiro ano de governação de Filipe Nyusi.

As conclusões foram em coro, segundo se pode ler em determinado órgão de comunicação social, tendo como base o discurso de tomada de posse do actual chefe de Estado. Sem nada dizer sobre o que falhou dum presidente que em curto espaço de tempo recebeu os principais actores sociais e políticos e ainda outros que se dão ao luxo de perder essa oportunidade, sem algum esforço intelectual, foi-se dizer que o presidente defraudou as expectativas.

É daqueles momentos em que prefiro não ser académico, porque alguém me ensinara que essa palavra encerrava ciência e, qualquer análise que se pretende académica devia seguir métodos científicos para o ser.

Uma análise que se aproximasse da verdade, sobre a economia em Moçambique, nunca se basearia em apenas o que se vê, porque para tal não precisaríamos de académicos nem cientistas dos vários ramos do saber. Aos cientistas exige-se que expliquem as causas dos fenómenos a que se propuseram quando se candidataram às especialidades que lhes dão o título.

Quando um economista ou analista da área pretende analisar o desempenho económico do governo de Nyusi sem pôr os pés em Moçambique, país que está a sofrer uma severa e rigorosa estiagem e seca dos últimos 30 anos, ao mesmo tempo que está a ser destruído na sua parte setentrional por uma impiedosa chuva, estamos literalmente tramados.

Quando um grupo de pessoas, em nome da academia ou ciência, ignora o que está a acontecer no mundo inteiro, como a desvalorização das moedas nacionais face ao dólar, aonde não escapa também o Euro, que nesta semana cedeu, estamos perante outra gente, menos académicos.

Mesmo que se compreenda a voracidade política do grupo, valendo-se do seu anti-Nyusi ou Frelimo, o facto de utilizarem os títulos para emitir as suas opiniões, não admite desmedida miopia. Pede-se alguma cientificidade no tratamento de opiniões públicas para quem não quer passar vergonha.

Evitar dizer que a instabilidade política, incluindo a tensão militar, provocada pela Renamo, a única que ataca bens públicos e privados, condiciona a mobilidade de pessoas, com a imobilidade a riqueza pára e mata os produtores da riqueza, só pode ser uma caricatura de um academicismo que nenhum país gostaria de domesticar.

Se como fomos informados, para falar precisamos do patrocínio de embaixadas (Espanha, Noruega, Dinamarca, Suíça) e do DFID (Departament For International Development), da Grã-Bretanha, para além do Mecanismo de Apoio à Sociedade Civil (MASC), o CIP, o que seria Instituto de Estudos Sociais e Económicos (IESE) e o forçado Observatório do Meio Rural (OMR), algo não anda bem.

Há-de ser por causa dessa promiscuidade que se afastaram do debate os métodos académicos ou científicos para avaliar a actual situação por que hoje Moçambique passa. A paixão pró-Renamo falou mais alto e interferiu na destruição dos alicerces do debate que se queria interessante.

Estamos à espera de mais estórias, incluindo o pseudo- estudo sobre a abstenção aos processos políticos em Moçambique, que conclui que “ os valores encontrados coincidem com o nível de insatisfação popular face ao governo do dia”. Que arte de não fazer serviço! Desta forma, vale a pena dizer por não dizer…

Pedro Nacuo
nacuo49nacuo@gmail.com

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