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FUTURO DA RENAMO: UM FUTURO ANUNCIADO

Por admin

Vários cenários têm sido colocados na mesa relativamente ao futuro da Renamo enquanto partido político/movimento armado, tendo por base as vicissitudes do mesmo, com Afonso Dhlakama como autor moral e material de tudo quanto tem acontecido à Renamo.

Para nós nascidos no período pós-independência, este movimento tornou-se conhecido, entre nós, por “matsangas”, o mesmo que discípulos de André Matade Matsangaíssa, seu primeiro líder. Este grupo, cujos mentores foram os regimes sanguinários e racistas do Apartheid e Yan Smith e os sequazes e reminiscências do fascismo português, especializou-se na pilhagem de recursos de civis, assassinatos bárbaros e actos de pura sabotagem à nossa economia, com o único fito de manifestar apetites pelo poder, não conseguido pelas vias formalmente consagradas.

O discurso da democracia só começou a ser propalado, após lavagem cerebral, cujo ideólogo se acha na África do Sul, uma forma menos barulhenta de justificar a carnificina que era protagonizada e apelar à compreensão dos moçambicanos. A prova inequívoca de que a Renamo nunca personificou a democracia é a forma como o partido tem sido dirigido e os moldes de actuação no xadrez político.

Felizmente a boa-fé e o espírito misericordioso dos moçambicanos permitiu que a Renamo convivesse lado a lado com as suas vítimas, sem que se manifestasse qualquer espécie de remorsos e ódios. Infelizmente, há evidência irrefutáveis de que a Renamo não só não soube agradecer o gesto de misericórdia, como também pensou ser dono da vontade de todos os moçambicanos, a ponto de se viver debaixo de permanentes chantagens que, felizmente foram sendo amainadas graças à boa vontade do Presidente Chissano. Porém, foram 20 anos de uma paz precária, pois a mesma dependia dos milhões de dólares que eram drenados para Renamo, ora pela Lonrho, ONUMOZ e do erário público, via Assembleia da República, num exercício de compra da paz. Não estranhámos que Afonso Dhlakama se referisse ao Presidente Chissano como seu irmão, só comparável a um irmão mais velho que tenta acalmar os ânimos infantis do seu caçula, com recurso à uma xuxa. Aliás, sempre que houvesse sinais de diminuição das benesses, Afonso Dhlakama recorria aos seus militares aquartelados em Sofala, como meio de pressão.

Infantilmente, Dhlakama pensou que com o Presidente Guebuza a drenagem de fundos públicos para comprar a paz continuaria. Por outro lado, os sucessivos e vertiginosos desaires que se abateram sobre a Renamo diminuíram as verbas mensalmente a si atribuídas, pois desde 2009 este partido tem cerca 1/5 dos assentos no Parlamento. Mas não ignoramos os vários negócios da Renamo mal geridos e forma tipicamente feudal e artesanal como Afonso Dhlakama gere pessoalmente os fundos do partido, o que em boa medida não podiam, em consciência, recomendar a que se continuasse a drenar fundos públicos para mimar o caçula.

Uma vez que a xuxa acabou e decresceram os valores alocados via Assembleia da República e, tendo consciência de que em política o dinheiro é importante, Afonso Dhlakama e seus acólitos mais próximos tentaram pôr em cheque um Estado todo, saltitando de exigência em exigência, confundindo o país com as suas próprias vontades. Nunca houve dúvidas de que o maior inimigo da Renamo hoje são as eleições, tendo clareza da copiosa derrota que irá averbar, justamente porque se já não havia estratégia e trabalho político vistosos, nos últimos anos a Renamo acomodou-se no seu belicismo, ignorando a necessidade de se preparar para a luta eleitoral.

Ai começou a ganhar forma o desnorte total e completo da Renamo, que iniciou já em 2010 aquando da tomada de posse dos deputados, à revelia do líder. Tudo quanto se passou até os dias que correm é apenas o reflexo do que dissemos antes, aliado à ausência de estratégia, ideologia e projecto políticos na Renamo. O estilo de liderança linhageira já levou a que quadros como David Aloni, Raúl Domingos, Vicente Ululu, Deviz Simango, Manuel de Araújo, entre outros, fossem sumariamente afastados dos holofotes, sob pretexto de fazerem sombra ao líder. Ganham protagonismo na Renamo pessoas que fazem a imagem a imagem do líder, com discursos inflamatórios e odiosos, tais como Manuel Bissopo, Ossufo Momade, Armindo Milaco, António Mulhanga e Afonso Mazanga, numa clara demonstração do que não se pode fazer em política. No conforto das mordomias da Assembleia da República e claramente demarcados do líder e da ala belicista, estão os deputados que ainda aspiram respirar politicamente com saúde, com Saimon Macuiana à cabeça.

Desmantelado o Quartel de Santunjira, estando a Renamo dividida em duas: a do mato (personificada pelo líder e os belicistas) e a do asfalto (que se subdivide em duas: a Piquete – personificada por Fernando Mazanga, António Mulhanaga e Gerónimo Malagueta) e a dos fatos e decotes – a dos deputados. A par disso, temos Afonso Dhlakama em parte incerta, o qual teve pela primeira vez a humildade de reconhecer que havia perdido o controlo dos seus membros.

O quadro actualmente vigente levanta várias inquietações acerca do futuro da Renamo, cabendo à Renamo do asfalto determinar o destino do partido. Sendo estes os que ainda podem respirar politicamente, cabe-lhes decidir se continuam a fingir obedecer Afonso Dhlakama e, por isso, ficarem sem norte ou reagrupar-se, reestruturar-se para enfrentar os pleitos eleitorais de 2014, nem que seja por via de uma Renamo-Renovada. Assim é porque não vejo que vislumbre algum futuro político para a Renamo do mato a quem a história e as dinâmicas sociais encarregar-se-ão de fazer desaparecer.

Eu prefiro apostar na hipótese de uma Renamo-Renovada, com Saimon Macuiana à cabeça. A ver vamos!

Alexandre Chivale

alexandre.chivale@sapo.mz

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