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CARTA A MUITOS AMIGOS RECAPITULANDO VIVÊNCIAS SOBRE DATAS EM SETEMBRO

Por admin

Para os moçambicanos e patriotas três datas especiais marcam este mês de Setembro:

1.    O Dia 7 Dia da Vitória.

2.    O Dia 25 início da luta armada de libertação nacional.

3.    O dia 29 aniversário natalício de Samora.

Relembrar estas datas revitaliza a memória dos mais velhos e talvez ajude os mais novos a descobrirem melhor o trajecto da sua pátria, sabendo que um povo sem história vê-se arrastado pelos ventos impostos por aqueles que nos procuram ocupar, explorar e espezinhar como outrora aconteceu.

Depois de uma guerra de perto de dez anos, com o envolvimento de todas as potências racistas da África Austral e apoios da OTAN, a 7 de Setembro de 1974 Portugal deu por findo o desastre colonial e reconheceu o nosso direito à independência marcada para 25 de Junho, data aniversário da FRELIMO, como reza o acordo. Entregou, nos termos do Acordo de Cessar Fogo todo o armamento e bases, com a permissão dos soldados embarcarem com as armas ligeiras e permanecer uma companhia no nosso território para recolher a bandeira portuguesa na noite de 25 de Junho. Da nossa proposta apenas se retirou uma cláusula a pedido dos homens do 25 de Abril, a que se referia ao julgamento dos crimes de guerra.

Um punhado de colonos fanáticos, encorajados pelo General Spínola, tentou travar o vento com as mãos ocupando os emissores da rádio e lançando palavras de ordem tão loucas como inúteis. A reacção de Samora levou as forças armadas portuguesas a pôr termo à idiotice mas, infelizmente, deteriorou o clima que facilitaria a continuação em Moçambique de portugueses de boa vontade e honestos.

O 7 de Setembro culminou a saga empreendida a 25 de Setembro de 1964.

O Comité Central, mais exactamente, Mondlane, Marcelino, Magaia, Samora, Jeremias Nyambir, Oswaldo Tazama, Feliciano Gundana, Alberto Chipande, Raimundo Pachinuapa haviam fixado para uma data anterior, todavia um grupo de aventureiros ligados à extinta MANU assaltou uma missão em Nangololo e assassinaram um sacerdote italiano respeitado pela população. O inimigo alertado movimentou-se e forçou que se alterasse a data para 25 de Setembro.

O 25 ocorreu em Cabo Delgado e em Niassa, sob a direcção de Alberto Chipande e Oswaldo Tazama. Tete e Zambézia devido às manobras anti-africanas de Hastings Banda só puderam desencadear a luta posteriormente. Nestas duas províncias a cumplicidade entre o Malawi e o colonialismo forçou a paralisação do combate, Tete retomando em 1968 a partir da logística vinda da Zâmbia e a Zambézia em 1974 alimentada por Tete.

A grande viragem da luta ocorreu com o fracasso da ofensiva aventureira de Kaúlza de Arriaga, denominada Nó Górdio. A concentração das forças portuguesas no norte de Cabo Delgado desguarneceu as demais posições inimigas, permitiu a travessia para o Sul do Zambeze e o alastramento da luta para Manica, Sofala e os confins de Gaza e Inhambane. Em 1972 as FPLM submeteram uma proposta ao CC da FRELIMO com o título Nova Década Novos Combates. O CC reunido em Dezembro de 1972 aprovou a proposta e num documento intitulado Ofensiva Generalizada em Todas as Frentes deu a palavra de ordem para a ofensiva final.

Nos inícios de 1974 as forças armadas portuguesas face à iminência da derrota militar depuseram o governo colonial fascista e iniciaram o processo de negociações conducentes às independências das colónias.

Samora Machel nasce a 29 de Setembro de 1933 em Chilembene, completaria agora oitenta anos. Os portugueses haviam baptizado a terra com o nome de Madragoa, nome de um bairro de Lisboa. Na brincadeira dizíamos para o provocar que nascera na Madragoa, o que nada lhe agradava.

Filho de camponeses a quem haviam arrancado uma boa porção de terra, lutou para estudar, para fazer o exame da 4.ª classe frequentou uma escola de missionários católicos que o forçaram a um baptismo, católico, embora houvesse já recebido esse sacramento na Igreja Presbiteriana. Enfermeiro percorreu o país, viveu o sofrimento dos muitos e amadureceu a vontade de libertar a pátria. Em 1963 foge e junta-se à FRELIMO. Indagado por Mondlane se queria ir estudar, respondeu que saíra para combater. Faz parte do segundo grupo que treina na Argélia e em 1964, cria e dirige o campo militar de Mbeya e mais tarde Nachingweia.Inculca no treino conceitos fundamentais como a unidade nacional, a recusa do racismo, do tribalismo, do regionalismo, a definição do inimigo em função da sua atitude para com o povo, o sentido de servir o povo e as massas trabalhadoras, a recusa de não se tornar o primeiro no benefício, mas aceitar o sacrifício. Este o Samora assassinado pelo apartheid a 19 de Outubro de 1986 e os valores que para algumas elites caíram no desuso.

Recordemos também Agostinho Neto que a 17 de Setembro completaria noventa e um anos. O nosso ícone jurídico e combatente da clandestinidade Rui Baltazar completa agora oitenta anos.

Um abraço a todos que celebram as datas da pátria,

Sérgio Vieira

P.S. O Papa Francisco I denuncia as guerras comerciais e reza para que não se agrida a Síria.

Obama recebeu um Prémio Nobel da Paz, não fechou Guantanamo como prometera, apoiou agressões contra a Líbia, promoveu as ditas primaveras árabes que se tornaram pesadelos. Agora queria à força liquidar a Síria e entregar de mão beijada o país a fundamentalistas.

Abraço os que conseguiram travar o belicismo insensato,

SV

R. P.S. Bom que o Conselho Municipal de Maputo se lembre da História da nossa pátria honrando um José Moiane, a Casa dos Estudantes do Império e outros nomes, instituições e eventos. Está de parabéns.

Continue e com um abraço,

SV

 

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