Divida, guerra e pobreza disputam vitimas
Dizem que todos somos povo de Deus, Allah ou outro Deus todo poderoso. Os africanos originários estão, entretanto, a sobreviver numa altura em que outros povos respiram ar puro, saúde e dinheiro. Entre finais das décadas de 1980 e 2010, a pandemia de HIV/SIDA dizimou
milhares de africanos, incluindo jornalistas, professores,
médicos, enfermeiros, militares, agentes da Polícia
e muitos outros anónimos não menos importantes na
sociedade. Governos africanos tomaram medidas impopulares
para conter a propagação da chamada doença
do século. Orçamentos foram desviados de projectos de
construção de estradas, escolas, pontes, hospitais e de
outras infraestruturas socioeconómicas para financiar a
guerra sem quartel contra HIV/SIDA.
O povo africano foi chamado a fazer sacrifício.
Na África Austral, região mais infectada do Mundo,
com África do Sul à cabeça, os conflitos armados selvagens
em Moçambique e Angola matavam gente sem
piedade e a pobreza empurrava a população para o fundo
da linha da sobrevivência humana. Em Moçambique, os governos da primeira e da segunda
repúblicas endividaram o país em prol da defesa
da soberania ameaçada e da luta contra a pobreza. No
final da década de 1980, foi introduzido o Programa de
Reabilitação Económica com receitas do Fundo Monetário
Internacional, Banco Mundial e companhia. O povo
foi de novo chamado a fazer sacrifício com a promessa
do futuro melhor. A guerra acabou e a divida foi largamente
perdoada. O alívio foi sol de pouca dura. No início
de 2008 e finais de 2010, a população apertada pelo
custo de vida foi à rua pedir indulgencia económica. O
governo liderado pelo filho mais querido do maravilhoso
povo anunciou um pacote de medidas de austeridade.
Foi um balão de oxigénio para alguns e marmelada ou
osso para outros.
O verdadeiro bife estava a ser consumido de faca
e garfo algures. Dirigentes políticos cantavam vitória
da batalha contra a pobreza, no meio de uma guerra
mais complexa sem revelar que as armas e munições
usadas tinham sido emprestadas à calada da noite.
Ignoraram alertas de economistas e activistas sociais
de que a pobreza estava a ganhar terreno em todo o
país, comportando-se como o Ministro de Informação
de Saddam Hussein durante o iminente assalto militar
norte-americano a Bagdad que culminou com a queda
do líder iraquiano. O segredo das armas e munições emprestadas à
porta de cavalo escapou do controlo e caiu como bomba
atómica sobre o maravilhoso povo, colocando-lhe de
novo em apuros. A dívida, a guerra e a pobreza voltaram
a disputar vítimas. O perigoso tribunal da opinião pública
pronunciou a sentença contra culpados através das
redes sociais.
Só que parece muito tarde para salvar o maravilhoso
povo da dívida, guerra e pobreza.
PS: África do Sul perdeu esta semana frente ao Egipto
o segundo lugar da economia mais poderosa do continente
em termos de Produto Interno Bruto passando
para terceira posição depois da Nigéria e dos Faraós. O
desemprego subiu para 26.7 por cento. A liderança do
populista Presidente Jacob Zuma soma derrotas económicas
e vai deixar a marca negativa de ter fragilizado o
poderio do país mais industrializado de África. (x)
Simião Ponguane