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DESENVOLVIMENTO MUNDIAL A DUAS VELOCIDADES

Por admin

Racismo ressuscitou em Moçambique e na África do Sul

Sou moçambicano originário ou seja negro moçambicano – segundo a teoria do Dr António Palange revelada em conferência de imprensa da apresentação do seu moribundo ou extinto partido político – PALMO, no recinto do Hotel Cardoso na cidade de Maputo nos primeiros anos da década de 1990.

Nasci e cresci no campo sem brancos. Os brancos mais próximos eram cantineiros de origem portuguesa que estavam nas pequenas aldeias comerciais de Manhenje e Rio das Pedras, há cerca de duas dezenas de quilómetros da minha aldeia de Nhahuchua, no interior do distrito de Massinga, em Inhambane. Ainda me lembro de um ou dois nomes de cantineiros brancos como Mungolane e Mandevane que de vez em quando vinham à nossa casa de carros de tipo Land Rover carregarem sacos de castanha de caju. Tínhamos muito respeito por eles e eram considerados amigos dos meus pais.

Depois da independência nacional, a Frelimo no reinado do líder verdadeiramente visionário, Samora Machel, desdobrou-se em campanha de educação político-cívica contra o racismo.

Na minha escola primaria de Nhauchua, o professor Felisberto Nguenya famosamente conhecido por Crocodilo mandava-nos cantar canções antirracistas tais como Hiva moçambicanohikwero. Aku na mulungo, aku na mundau – hiva moçambicano hikwero – somos todos moçambicanos…não há branco, não haNdau..somos todos moçambicanos.

Cresci com essa ideologia. Masno curso de Jornalismo, em Maputo, fui vitima da manifestação de racismo quando um chefe  branco do então Ministério da Informação prejudicou uma turma inteira do primeiro Curso Medio de Jornalismocom falta de professor de inglês. Arranjou professor para dar aulas de Aritmética do nível da Quarta Classepara alunos que tinham terminado Décima PrimeiraClassealegando que era para sabermos fazer contas de três simples de conversão de rublos soviéticos para meticais moçambicanos.Ele nem ficou à espera do fim do curso. Emigrou para Estados Unidos da América onde trabalhou vários anos como professor universitário, dando aulas em língua inglesa deixando moçambicanos originários em casa sem aulas de inglês, considerada língua internacional de negócios.

Felizmente, com esforço pessoal agora sei ler, escrever e falar a língua de William Shakespeare.

Na África do  Sul, o regime racista caiu em 1994.

No entanto, hoje 22 anos depois da queda do governo que institucionalizou a segregação racial, considerada crime contra a humanidade pelas Nações Unidas, o racismo está vivo em todos os sectores socioeconómicos, políticos, académicos e culturais.

O Presidente Jacob Zuma lançou o debate nacional contra o racismo na África do Sul democrática.

Depois do apelo do Presidente, o debate começou na comunicação social e no Parlamento com brancos e negros a acusarem-se mutuamente de pratica de racismo prejudicial.

O ANC que lutou cerca de um século contra a segregação racial exige a criminalização do racismo no pais.

Em Moçambique o racismo combatido e derrotado pela Frelimo no consulado do visionário Samora Machel ressuscitou: negros e brancos manifestam racismo de uma ou de outra forma. (x)

Simião Ponguane

 

 

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