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“Ziva taku”: saiba de si

Por admin

O amanhecer resplandece a luz, traz esperança e renova a mente. Denuncia rostos alegres e tristes. Cada ser humano, de forma aberta ou não, deixa escapar o que lhe vai na alma. Nessa azáfama, o indivíduo ou o grupo ostenta seu matiz.

Os chapeiros e alguns comerciantes criam seus rostos, tornam-nos chamativos através de expressões hilariantes, ao mesmo tempo cheias de ensinamentos, gravadas em automóveis e estabelecimentos de venda. Trata-se de um modo de estar no trabalho, de gritos de guerra em que praticamente se recomenda ZIVA TAKU! A nossa reportagem traz essas manifestações e convida o leitor para uma digressão deleitante.

Neste mundo de ideias divertidas, domingoapreendeu o ensinamento segundo o qualTATINENE WUTIMAHELA ‘cada um faz por si algo bom’. Este foi o princípio que norteou a vida da família Mahema, proprietária de um estabelecimento comercial, localizado em Quissico, Inhambane, que tem como rosto aquela frase sugestiva.  

Vítor Mahema explicou que a expressão foi gravadaquando o seu irmão construiu a primeira barraca de venda de produtos variados. De acordo com o seu pensamento, era o início de uma vida risonha, cheia de sucessos. “Com o negócio, abríamos espaço para o nosso bem-estar e, sobretudo, para um futuro melhor, através do nosso esforço”. E a avaliar pelo semblante de Vítor, a vida vai muito bem e obrigado, o que deixa alguns vizinhos e clientes intrigados, pois“acham que estamos a fazer zombaria de quem não tem tanto ou simplesmente não tem nada”.

 De qualquer forma, tivemos o entendimento de que se trata de uma expressão inspiradora, ou seja, uma base para criar UM FUTURO MELHOR. Pois bem, talvez se esteja no caminho certo, pois Mateus Simango, proprietário de um estabelecimento comercial no bairro de Maxaquene, que ostenta esse nome (Futuro Melhor), apoia-se nesse grito. Na verdade, sempre se apoiou o que lhe conferiu o presente maravilhoso.

Sr. Simango iniciou a sua luta há bastante tempo. Primeiro, “veio a barraca de venda de produtos, depois o salão de corte… Tinha que ser dessa forma, pois “uma vida bem-sucedida advém do trabalho, muitas vezes de actividades árduas. De noite e de dia, existem pessoas que suam a camisa, carregando xidjumbas ‘trouxa’de produtos para venda; manejam pás… eu, por exemplo, tenho machamba em Palmeira (a sua residência localiza-se na cidade de Maputo). Diariamente, desloco-me até lá, em busca de um futuro melhor, para mim, para minha família e demais pessoas, já que pratico a agricultura e colho benefícios dessa actividade”.

São lições de vida a tirar. Entretanto, tudo deve ser feito de maneira que não existam percalços. Os chapeiros, no seu espaço, ensinam esse caminho e afirmam: TENHA CALMA. É o que France Simbine, motorista, tem escrito no seu instrumento de trabalho. Tudo porque o seu campo de actuação é marcado por “barulho, inveja…”. Seu patrão encontrou, portanto, uma forma de parar com esses incómodos gravando no seu carro aquela expressão “para fechar a boca do inimigo”. Entretanto, essa mesma escrita serve para levar a que os passageiros entendam que aquele transporte faz a viagem nas calmas.“As pessoas tranquilizam-se. A polícia também”, disse aos risos.

Ahhhh…, trata-se de coisas da vida. Mas AKELLA VIDA de chapeiro só o próprio chapeiro entende. O dia-a-dia deste profissional é difícil. Sérgio Rombe, motorista, exibe esse desabafo, em parte certa do seu veículo: “algumas vezes sofremos por falta de passageiros. Mas, o que torna mais dolorida a lida é a falta de humildade dos nossos clientes. Eles tratam-nos como se estivéssemos nesta actividade a pedir esmola. Exige-se muita paciência”. Pelos vistos Aquela Vida não é pêra doce.  

Mas, lamúrias à parte, embarque-se, neste momento, ao encontro de AQUELE MOÇO. O tal moço é, afinal, um homem da praça. Tornou-se AQUELE para ser diferente. Mas a verdade é que… “sou eu”, disse Nécio Castelo, motorista de chapa.

Apartando-nos desta explicação confusa, quisemos saber da reacção das pessoas. Criaria alguma curiosidade nos passageiros por conhecer o tal moço?Impaciente, Nécio respondeu que essa não era a sua preocupação. “A escrita está lá para toda a gente ver, no entanto, centro a minha atenção em uma condução segura e tranquila. Sobre o resto, não tenho nada a dizer, senão que Aquele moço sou eu”. Erecolheu-se.

Nada mais nos restou, senão confortar os nossos ânimos em direcção à PISTA DA ATERAGEM. Sim, ATERAGEM, com um ‘r’ a menos, pois se trata de uma aterragem diferente das pistas do Aeroporto de Mavalane. Aliás, foi a pista de verdade que inspirou a escolha do nome para o estabelecimento comercial de venda de bebidas. “Todo mundo aterra aqui. Este é um ponto de encontro para a diversão”, disse-nos Adérito Valente.

Fora das pistas, encontra-se O GOSTOSO. Ele esquina-se, a caminho do Aeroporto de Mavalane. Trata-se de um estabelecimento onde “tudo é gostoso: a comida, o atendimento…, disse-nos Rosa Chaúque. 

A colocação desse nome foi ideia do dono do negócio, no entanto, quem sofre por responder a perguntas um tanto a quanto indiscretas relacionadas com esse título são os funcionários. De qualquer modo, ele atrai a muita gente, conforme garantiu dona Rosa. “Atrai, principalmente, os jogadores de futebol, inclusive os das províncias. Quando vêm fazer jogos em Maputo, aparecem aqui para se divertirem”.

E o giro do domingocontinuou, até que se deparou com os MALFALADOS WWW. HUTXUZA. Esta escrita gravada no vidro de um transporte de passageiro, visa “irritar os invejosos” pois, segundo sugeriu Horácio Muthambe, “há pessoas que não gostam do ver o outro a progredir e passam a vida falando mal”. Desmanchando-se um pouco mais, Muthambe afirmou que o seu patrão é mal falado “porque acham-no abastado”. Esse patrão, leva também a culpa por ser fã de Rick Ross (artista musical norte americano) o que faz com o seu chapa seja “o carro mais bling (cheio de ostentação)da praça”. O seu aspecto parece trazer vantagens: “os passageiros procuram-nos a todo o custo e”, por motivos não avançados, “chamam-nos Avião Terrestre”.

Verdade ou não, certeza de singularidade só se tem quando o assunto envolve o omnipotente, omnisciente e omnipresente: GOD IS ONE.

Contrariando os estratagemas escolhidos pelos companheiros da praça, o patrão de Basílio Santos optou por esta escrita no seu transporte para espantar o mau-olhado entregando tudo ao Senhor. “O dono do carro é que escolheu. Ele é religioso e acha, portanto, que gravando esta expressão no carro abençoa os seus caminhos, livra-se de percalços”, e, claro, atrai outros religiosos, afinal a mensagem é forte e profícua.

Entretanto, há quem opta por dizer MONA HANSI, “para fazer com que a maldade fique do lado de fora do carro. Quem dá esta explicação é Inácio Mate, motorista. Na sua alocução referiu que há passageiros que se comportam de forma agressiva atacando, inclusive, os outros passageiros.

Mas, este mesmo recado serve para os colegas da praça que, amiúde,“provocam guerrinhas desnecessárias na estrada, tais como barramentos, roubo de passageiros…”. Então, recado dado!

Assim sendo, a nossa reportagem dirigiu-se ao ESTADO MAIOR, transportado pelo MATSAKISSO, nome adoptado por Keneth Kanda, motorista, com o intuito de proporcionar alegria aos passageiros dentro da sua viatura. domingo compactua com a ideia mas, acima de tudo, deseja que HAJA SEGURANÇA!

Texto de Carol Banze

carolbanze@yahoo.com.br

Fotos de Jerónimo Muianga

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