As autoridades de Saúde em Tete asseguraram ontem ao domingo durante uma visita aos doentes internados nas enfermarias do Hospital Provincial de Tete que uma grande parte das 108 pessoas que contraíram ferimentos na tragédia de Caphiridzange já está fora de perigo, apesar de ainda carecer de cuidados médicos.
“Alguns doentes ainda acamados já estão a registar melhorias embora careçam de assistência médica. Mas podemos afirmar que estão fora de perigo” – explicaramao domingo os médicosespecialistas que estão a assistiras vítimas.
Por outro lado, a administradora do distrito de Moatize, Maria Zé Torcida, referiu que muitas entidades estão a prestar o seu apoio aos infortunados, canalizando produtos alimentícios de primeira necessidade, urnas e voluntários para apoiar as cerimónias fúnebres dos perecidos na tragédia, entre outras manifestações pontuais de solidariedade.
“Estamos a receber apoios de vários quadrantes da sociedade civil. Há muitas pessoas que estão a apoiar e a participar voluntariamente nas cerimónias fúnebres dos perecidos, entre outra ajuda imediata” – concluiu Maria Zé
Torcida.
Entretanto, chegou ao princípio da tarde de ontem a Tete a Brigada Central da Frelimo de assistência a esta província chefiada pelo membro da Comissão Política Alberto Chipande, para se juntar à brigada do Conselho de Ministros na prestação de assistência e apoio aos órgãos do Governo provincial por causa desta tragédia.
Recorde-se que a tragédia ocorrida na passada quinta-feira na localidade de Caphiridzange, posto administrativo de Zóbuè, distrito de Moatize, Tete, provocou já 67 mortos entre adultos homens, mulheres e crianças, depois de um estoiro de dois tanques contendo 80 mil litros de gasolina transportados num camião-cisterna da empresa malawiana Walkers que saiu do Porto da Beira, na província de Sofala, em direcção à vizinha República do Malawi.
Outras 108 pessoas contraíram ferimentos graves resultantes da queimadura com a chama do combustível, a maioria das quais está internada nas enfermarias do Hospital Provincial de Tete a receberem cuidados médicos prestados por equipas de especialidades diversas enviadas pelo Ministério de Saúde para apoiar as capacidades técnicas daquela unidade hospitalar de referência ao nível da província de Tete.
O ACIDENTE
Os factos indicam que o camião já próximo da fronteira do Malawi, cerca de 30 quilómetros do posto de travessia de Zóbuè, foi desviado da Estrada Nacional Número (EN7) para cerca de 500 metros para o interior da mata, onde supostamente o combustível seria drenado para a venda. Enquanto decorria o processo de drenagem, um dos tanques pegou fogo e os envolvidos, não tendo capacidades para extinguir o fogo, abandonaram o local deixando o camião parado. Elementos da população, apercebendo-se da situação, trataram de assaltar o segundo tanque que ainda não tinha pecado fogo. Retiraram o combustível para inúmeros bidões de 20 litros.
Devido a altas temperaturas que se fizerem sentir na tarde dessa quinta-feira e aliado ao aquecimento do primeiro tanque, quando eram cerca das 17.30 horas, o segundo tanque explodiu e as chamas atacaram as pessoas que por sinal estavam todas envolvidas e molhadas com a gasolina furtada.
“No local do incidente, perderam a vida de imediato 43 pessoas entre homens, mulheres e crianças e mais de 100 ficaram feridas com queimadas. Embora com alguma morosidade em termos de capacidade em meios de transportes, conseguimos socorrer as pessoas e enviámo-las às unidades sanitárias próximas. Deste grupo, os mais graves sucumbiram ao longo do percurso para a unidade sanitária” – disse o chefeda localidade de Caphiridzange,
Luís Adolfo Tambo. Acrescentou que devido à gravidade das queimaduras alguns óbitos estão a ocorrer nas enfermarias do Hospital Provincial de Tete e até ontem, sábado, o número havia atingido 67 óbitos.
FUNERAIS
Durante todo o dia de ontem, ocorreram em vários cemitérios tradicionais em Caphiridzange os funerais de grande parte dos perecidos que contaram com a presença dos membros da Brigada do Conselho de Ministros mandatada à província de Tete para o apoio e assistência às vítimas da tragédia. Esta brigada do Governo central é chefiada pela ministra da Administração Estatal, Carmelita Namashilua, e fazem parte dela Mouzinho Saide, vice-ministro da Saúde e membros seniores do Ministério do Interior, Instituto Nacional de Gestão das Calamidade (INGC).
Também uma vasta equipa de médicos na especialidade de queimaduras de terceiro grau escalou a cidade de Tete ao princípio da tarde de sexta-feira, dia 18 de Novembro. A Brigada Central, depois de manter um encontro com o governo provincial, visitou os doentes internados no Hospital Provincial onde teve a ocasião de dialogar com a equipa de profissionais da área para detalhes da situação clínica de cada um dos doentes.
“Chegámos com uma equipa de médicos especialistas que já estão a trabalhar no hospital provincial e trouxemos igualmente equipamento médico cirúrgico para queimaduras da pele, fármacos, entre outros materiais pontuais para apoiar a equipa provincial que desde a primeira hora está incansavelmente a atender esta tragédia naquela unidade hospitalar de referência ao nível da província de Tete” – disse Carmelita Namashilua.
Disse ainda que o Governo Provincial de Tete e a sociedade civil, constituída pela classe de empresários, confissões religiosas, agentes económicos, entre outras personalidades, não pouparam esforços no seu envolvimento massivo para o socorro dos afectados pela tragédia de Caphiridzange, que para além da sua presença física disponibilizaram apoios logísticos, urnas, entre outro material pontual para atender às circunstâncias do acto.
“Estamos encorajados pelos esforços empreendidos pelos profissionais da Saúde, que, mobilizados pelas autoridades governamentais, acorreram em massa ao hospital para o socorro das vítimas. Esta acção permitiu a salvação de muita gente que corria perigo de perder a vida. Queremos que esta vontade seja contínua para uma assistência adequada aos doentes ainda internados no Hospital Provincial de Tete”, acrescentou Namashilua.
CONSELHO DE MINISTROS
Nos termos do artigo 13 da Lei n.º 18/91, de 10 de Agosto, Lei de Imprensa, passamos a publicar na íntegra o comunicado do Conselho de Ministros sobre a tragédia da localidade de Caphiridzange, província de Tete: Com muita dor e consternação, o
Conselho de Ministros tomou conhecimento da ocorrência da morte, desde o dia 17 de Novembro de 2016 até este momento, de 56 pessoas devido à explosão de um camião-cisterna de transporte de combustível na localidade de Caphiridzange, distrito de Moatize, na província de Tete.
No acidente ficaram feridas 108 pessoas e 96 continuam internadas em tratamento no Hospital Provincial de Tete. Devido a esta tragédia, o Conselho de Ministros, reunido na sua 2.ª Sessão Extraordinária, em 18 de Novembro de 2016, lamenta esta triste ocorrência, manifesta a sua solidariedade para com os feridos e apresenta as mais sentidas condolências às famílias enlutadas.
O Conselho de Ministros decidiu, já ontem, mandatar uma Comissão do Conselho de Ministros, constituída pelos Ministros da Administração Estatal e Função Pública e dos Transportes e Comunicações e pelo Vice-Ministro da Saúde para de imediato se deslocar à província de Tete e, em coordenação com o Governo Provincial de Tete e o Governo Distrital de Moatize continuar a monitorar a situação e a providenciar a assistência necessária aos doentes internados e às famílias enlutadas.
O Conselho de Ministros decidiu ainda criar uma Comissão de Inquérito, dirigida pelo Ministério da Justiça, Assuntos Constitucionais e Religiosos, e que integra os Ministérios do Interior, da Administração Estatal e Função Pública, da Saúde, dos Transportes e Comunicações e dos Recursos Minerais e Energia para aprofundar as circunstâncias, as causas e as responsabilidades neste acidente.
Neste contexto, o Conselho de Ministros da República de Moçambique decidiu decretar Luto Nacional de 3 dias a partir da zero hora do dia 19 de Novembro de 2016 até à meia-noite do dia 21 de Novembro de 2016.
Durante o período de Luto Nacional a Bandeira Nacional será içada à meia haste em todo o território nacional e nas missões diplomáticas e consulados da República de Moçambique.
O Conselho de Ministros
Maputo, 18 de Novembro de 2016
Mussavele Júnior (colaboração)
