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Songo: aqui se sente que “Cahora Bassa é nossa!”

Por admin

Os residentes de Songo, em Tete, são autênticos felizardos. Têm direito a transporte gratuito nas ligações entre os bairros e só pagam uns 100 meticais pela energia que consomem durante o 

mês. Por ali vive-se em clima de puro sossego e a imagem disso são as celas locais que só têm 10 indivíduos detidos. Por toda a vila, a paisagem ganha novas formas com a reconstrução das ruas, praças, monumentos e de casas convencionais. A reversão da Hidroeléctrica de Cahora Bassa (HCB) está a mudar Songo. Quem vive por ali sente que Cahora Bassa é nossa mesmo!

 

O Posto Administrativo de Songo dista cerca de 150 quilómetros (km) a noroeste da cidade de Tete e a viagem até este destino permite perceber que a província de Tete possui um elevado potencial bovino e caprino. Quilómetro a quilómetro há cabritos e bois a cruzar a estrada em passo dengoso, impondo respeito pelos limites de velocidade e atenção redobrada de quem vai ao volante.

Porém, é nos últimos 20 km que a viagem assume contornos de aventura pois, a paisagem passa a ser dominada por enormes montanhas e a estrada embrenha-se por uma delas, num traçado prenhe de curvas e contracurvas com o desfiladeiro na margem direita a fazer companhia em todo o percurso.

O que impressiona é que não há nenhuma barra de protecção montada para eventualidades. Viaja-se com “o coração nas mãos”, na verdadeira acepção da palavra. O nível de inclinação da via é tão acentuado que exige um esforço sobre-humano para chegar ao topo. Por causa disso, é difícil ver peões a se aventurarem por aquele caminho, nem mesmo para manter a forma física.

Dentro das viaturas ninguém quer ouvir falar sobre falhas mecânicas, sobretudo dos freios e muitos evitam olhar para o precipício que se amplia à medida que as viaturas galgam a elevação, sublinhe-se, com muito esforço. Aliás, o medo é repartido em 50 por cento para a subida e outros 50 por cento para a descida porque aquilo é mesmo íngreme.

Os sinais de trânsito instalados naquela via indicam que por ali só se pode andar a 20 km por hora nos dois sentidos e com a alavanca de marcha colocada nas mudanças de força, nomeadamente na Primeira e Segunda para carros manuais e Low (L) para carros automáticos. Pelo que vimos, poucos automobilistas experimentam violar as regras. Ali, o agente regulador do trânsito é a natureza.

Terminada a subida, surge, finalmente a placa que diz “Bem-vindo à vila de Songo”, o que leva os viajantes a respirarem de alívio, sobretudo pelo facto de avistarem ruas sem os tradicionais buracos de outras urbes nacionais, praças verdejantes e enormes monumentos feitos com arte e mestria, e muitas construções que revelam que esta vila está disposta a rejuvenescer.

 

Monumentos

e mitos

 

Mesmo a propósito de rejuvenescimento, observa-se que a equipa gestora da HCB não deixa os seus créditos em mãos alheias quando o assunto é cuidar bem das praças e dos quatro monumentos artísticos recentemente construídos em diferentes pontos da vila.

O primeiro monumento que “dá as boas-vindas” representa os cinco potentes grupos geradores de energia eléctrica que estão actualmente em funcionamento na HCB. Trata-se de uma obra em betão armado que foi erguida para celebrar a reversão da barragem para o Estado moçambicano.

Mais adiante, e sempre seguindo pela estrada principal, ali apelidada de auto-estrada, está o mural dedicado a um “deus” da mitologia local. Trata-se de “Sandawhana” e representa um animal com corpo de cobra e cabeça humana. Segundo a lenda, por ali existiu uma cobra que, quando invocada pelos naturais em rituais apropriados, fazia com que “chovesse” riqueza.

Na crença popular, a tal “sandawhana” abandonou a região do Songo aquando da saída dos gestores portugueses da HCB mas, agora parece estar a regressar àquela terra graças às reformas introduzidas pela nova administração daquela empresa hidroeléctrica.

Mesmo a propósito disso, alguns trabalhadores da barragem e residentes locais com que tivemos a oportunidade de privar revelaram que reina por ali um ambiente de satisfação que resulta das mudanças introduzidas logo após a reversão daquele empreendimento.

Os trabalhadores da hidroeléctrica contam que até pouco antes da devolução da HCB, “os colegas portugueses chegavam aqui sem saber nada. Nós ensinávamos a fazerem várias operações e passavam a ganhar muito mais do que nós. É verdade que o salário nunca chega, mas agora estamos muito melhor porque já se respeitam critérios como categoria, anos de serviço e formação”, disseram.

Enquanto uns fazem fé em “sandawhana”, outros olham para o terceiro monumentos como aquele que representa a Liberdade, isto enquanto o Governo não se pronuncia sobre o nome a atribuir à obra gigante que apresenta a história da HCB.

Na cabeceira deste memorial foi erguida uma estátua duma mulher que parece caminhar rumo à subestação da barragem com uma criança ao colo. Na óptica dos locais, aquela é a representação da mulher moçambicana pois, parece enérgica e de curvas abundantes, e a criança, na leitura dos locais, representa a Esperança.

Numa outra rotunda da vila do Songo está um mural que dispensa qualquer interpretação artística, dado que nela está tudo claro. Narra a história a verdadeira trajectória da construção da barragem até aos dias de hoje.

 

Pacato

até dizer basta!

 

Percorrer as ruas curvilíneas da vila de Songo é sinónimo de estar em contacto com um ambiente de pura tranquilidade, o que parece resultar do facto da população residir em bairros dispersos, não haver uma proliferação de pontos de consumo de álcool (barracas) e haver quase sempre uma ligação profissional, de familiaridade ou de amizade entre os habitantes.

Durante a nossa visita àquele povoado, observamos que a esquadra local só tinha 10 reclusos, dos quais só dois estavam ali detidos acusados de homicídio voluntário. Por se tratar de casos foram do comum, toda a gente sabia dizer que um foi preso por supostamente ter assassinado o genro, e outro porque terá morto o padrasto. Os restantes oito presos estão a contas com a polícia por agressão física e ladroagem.

Nas ruas desta vila circulam maioritariamente viaturas da (HCB) e a população vai na boleia. No quadro da Responsabilidade Social desta empresa, os residentes dos 12 bairros do Posto Administrativo de Songo gozam do privilégio de poder se deslocar de um lugar para o outro de borla.

Para o efeito, os interessados dirigem-se às paragens nos horários de recolha dos trabalhadores da barragem para usufruírem deste direito, o que lhes facilita a vida quando o assunto é levar um doente ao hospital e tratar de assuntos de fórum pessoal.

Na mesma toada, a HCB oferece uma “carona” semanal aos que pretendem dar um pulo à capital provincial, Tete. Todas as quintas-feiras, um autocarro recolhe os passageiros até aquele destino a um preço bonificado de 80 meticais, quando os transportadores semi-colectivos cobram cerca de 120 meticais pela mesma viagem de ida ou de volta.

Como é de esperar, a população faz a sua agenda em função da quinta-feira e os transportadores privados já sabem que naquela data terão que fazer um grande esforço para angariar passageiros”, disse Basílio Alcimar, chefe do Posto Administrativo do Songo.

Um dos maiores privilégios de viver em Songo é pagar uma pechincha pelo consumo de energia eléctrica. Segundo nos foi revelado, os cerca de 700 trabalhadores da barragem pagam algo em torno dos 50 meticais mensais pela electricidade que consomem ao longo do mês e quem não está vinculado à empresa paga a volta de 100 meticais. Aqui não importam os electrodomésticos ligados.

 

Responsabilidade

responsável

 

Porque o bem-estar da população se mede pelo acesso à água potável, educação, energia eléctrica e saúde, os cerca de 48 mil habitantes do Posto Administrativo do Songo também se sentem sortudos. A título de exemplo, a empresa HCB e o governo local estão a desenvolver um intenso programa de expansão da rede eléctrica.

Dados em nosso poder indicam que dos 12 bairros existentes no Songo, apenas dois aguardam pela construção das linhas, nomeadamente Matumbuliro e Cachenga. No domínio da água apurámos que estão a ser montados fontanários e a ser reabilitado o sistema de bombagem para aumentar a pressão e o fornecimento aos bairros mais distantes.

Também está em cogitação um plano para a conclusão das obras de construção de cinco salas de aulas no bairro Unidade que foram abandonadas pelo empreiteiro e decorrem conversações para a reabilitação e eventual apetrechamento dos centros de saúde de Maroeira, Taça e Nhandoa.

No que se refere ao saneamento do lixo e ordenamento territorial também há intervenção da HCB. “Não temos contentores para o lixo e lavabos no mercado local, pelo que contamos com a empresa que assegurou que está disponível para nos ajudar. Também estamos para iniciar o parcelamento de uma zona adjacente ao aeródromo para evitarmos o crescimento desordenado de alguns bairros que agora se observa”, disse Alcimar.

A propósito do crescimento urbano, na vila sede do Songo há obras por tudo quanto é canto e um dos empreendimentos que chama a atenção dos visitantes é a transformação do Centro Social da HCB em Hotel Girassol. Também é apelativa a transformação de um conjunto de casas pré-fabricadas em moradias convencionais reservadas aos trabalhadores e a modernização de outras residências para acolher visitantes e prestadores de serviços daquela empresa.

No total, aquela empresa possui um parque habitacional composto por 605 casas, 26 suites e 231 quartos distribuídos por vários blocos. Com excepção de oito casas destinadas ao Conselho de Administração, as restantes habitações destinam-se aos trabalhadores e seus agregados familiares, visitantes e entidades que colaboram directamente no funcionamento do empreendimento.

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