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Perder duas casas em um ano

Por admin

Alberto Tomás e Afonso Nhamuche perderam duas casas, cada um deles, nos bairros de Laulane e Zimpeto no espaço de um ano, entre Dezembro de 2013 e igual período de 2014, em resultado da chuva que assola a capital.

Ambos viviam no bairro de Laulane, próximo da Escola Secundária Nelson Mandela, até Dezembro de 2013 quando um temporal se abateu sobre a cidade de Maputo tendo destruído as suas habitações.

Na tentativa de minimizar o sofrimento destes, as autoridades municipais transferiram as respectivas famílias para um centro de acomodação criado na Escola Força do Povo no bairro de Hulene. Contam que permaneceram três meses antes de serem atribuídos novos espaços numa zona supostamente segura.

Alberto Tomás conta que apresentou as suas dificuldades no seu local de trabalho – ele é funcionário da Universidade Eduardo Mondlane (UEM) – para conseguir algum apoio.

Afirma que a UEM fez uma carta para o Banco Comercial de Investimento (BCI) para que ele beneficiasse de um empréstimo para erguer uma nova casa.

Já Afonso Nhamuche beneficiou de uma segunda ajuda prestada pelo município que ofereceu 40 sacos de cimento para todas as famílias que ainda não haviam erguido novas casas.   

Quando pensavam que fosse o início de uma nova era nas suas vidas, eis que um vendaval acompanhado de chuva, iniciado por volta das 23 horas do dia 14 de Dezembro 2014, destrói total e parcialmente duas casas, exactamente as de Alberto Tomás e Afonso Nhamuche.

E pela segunda vez no espaço de quase um ano as duas famílias perderam quase tudo que tinham no interior das residências.

“Perdemos as mobílias da sala, mesas, cadeiras, televisor, congelador, microondas, apenas recuperamos camas e roupas”, disse Alberto Tomás.

OBRA MAL FEITA CRIA CRATERA

Com as duas casas já destruídas, uma totalmente, outra parcialmente, os lesados participaram a ocorrência junto das entidades do bairro, primeiro ao chefe do quarteirão, depois ao secretário.

“Explicamos que dias antes do sucedido houve duas acções que ditaram o desabamento das nossas casas: primeiro, um empresário entulhou areia num caminho que dá acesso à sua obra, sem no entanto, abrir valas de drenagem”., explica uma das vítimas.

Uma máquina fez a terraplanagem no terreno do Ministério da Saúde ao lado do hospital psiquiátrico que mudou o curso das águas e originou o desabamento total de uma casa e parcial de outra.

SEM CASA

E COM DÍVIDA NA BANCA

Habitação totalmente destruída, dívida na banca e residência reduzida a sala de visita é este o saldo da desgraça que se abateu junto às duas famílias.

Alberto Tomás perdeu duas casas no espaço de um ano, sendo que para construir uma das casas ora destruídas pela fúria da chuva teve que recorrer à banca.

“O BCI não quer saber de nada, pois mensalmente desconta no salário parte da divida que contrai para construir uma casa que já não existe”, deplora Tomás.

Para agravar a situação teve que recorrer ao arrendamento de uma habitação para que os filhos não vivessem longe do perímetro escolar.

“Sou um técnico médio que está a descontar uma letra da divida na banca e a arrendar uma casa para que os meus filhos não vivam distante da escola”, afirma desconsolado.

Por sua vez, Afonso Nhamuche mostra-se desnorteado perante a situação, pois não tem ideia dos passos subsequentes.

“Não sei onde arranjar dinheiro para construir outra casa, porque ainda nem recuperei depois de ter construído a casa destruída”, lamentou Nhamuche.

Ele afirma que tiveram duas visitas, uma do secretário do bairro e outra de um engenheiro de nome Mabui que fotografaram os estragos, mas continuam a esperar e desesperar. 

“Estou a pedir apoio porque já não tenho o que dar aos meus filhos. Os nossos bens estão em casa de vizinhos que já reclamam a sua retirada”, diz a fonte. Trata-se de uma família de 12 membros: um casal, oito filhos e dois netos todos a dormirem na sala de visita.

FALTA A INTERVENÇÃO

O secretário do bairro de Zimpeto, José Mabota explicou que as estruturas locais estão a par do infortúnio que se abateu sobre as duas famílias. E que neste momento decorrem demarches no sentido de se prestar todo tipo de apoio necessário com vista a reconstrução das casas.

“Para já fizemos o levantamento dos danos, através dos técnicos afectos à administração Ka Mubukwane para apurar a real dimensão. Mais tarde o município fará a intervenção”, disse Mabota, tendo acrescentado que o município iniciou com a distribuição de material de construção na última sexta-feira.

Concluiu afirmando que mais pormenores só poder-se-ia obter junto ao vereador municipal do Ka Mubukwane, Lourenço Vilanculos.    

O vereador Lourenço Vilanculos afirmou, por seu turno, que não é obrigação do município dar material de construção em caso de situações similares, mas sim prestar um apoio em função da ajuda que recebem dos parceiros.

“Os lesados não devem ficar de braços cruzados à espera do município. Cada um deve tentar fazer a sua parte”, completou Vilanculos.

 Jaime Cumbana

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