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Indiciado de cárcere restituído à liberdade

Por admin

l Tio Paito deve apresentar-se ao tribunal todas as segundas-feiras

Armando Changamo Júnior, mais conhecido por tio Paito, detido, há dias, no bairro T3, em Maputo, pela Polícia da República de Moçambique (PRM), indiciado de tráfico de pessoas e cárcere privado envolvendo 35 cidadãos moçambicanos, foi restituído à liberdade por falta de provas.

Após alguns dias de detenção, A. Júnior voltou ao convívio familiar depois que alegadamente as três raparigas que desertaram do infantário Khongolote, espaço improvisado pela PRM para acomodação das supostas vítimas, foram prestar declarações no Tribunal Judicial da Província de Maputo, auxiliados pelo advogado de Instituto de Patrocínio e Assistência Jurídica

(IPAJ).

Segundo Armando Júnior, foi graças à honestidade daquelas que foi solto, porque, alegadamente, a polícia tinha-as instrumentado para dizer ao juiz do caso que eram abusadas sexualmente. Ainda assim, o calvário não terminou. Ele deve apresentar-se todas às segundas-feiras ao tribunal enquanto decorre a investigação.

Com o intuito de recolher mais dados para a efectivação desta Reportagem deslocamo-nos à sua casa, onde também funciona o seu escritório. A residência está identificada como agência especializada na selecção de babás, guardas, empregadas domésticas e jardineiros. Aliás, ele orgulha-se de ter procurado empregadas para diversas personalidades da praça, com destaque para juristas, cantores, jornalistas, entre outros interessados. Tio Paíto revelou-nos que a sua agência já ajudou mais de seis mil pessoas, sendo que uma das condições que ele exige é que depois de conseguir emprego, o candidato desembolse, do primeiro salário, mil meticais.

OS CONTORNOS DA DETENÇÃO

Soubemos que não era hábito de Tio Paíto ficar com muitas meninas na sua residência à espera de um potencial patrão.

Entretanto, na semana em que foi preso pela polícia e indiciado de tráfico de pessoas e cárcere privado, envolvendo 34 raparigas com idades compreendidas entre 17 e 25 anos e um rapaz, todos encontrados no interior da sua residência, pernoitavam pelo terceiro dia consecutivo, em condições deploráveis.

domingo apurou que a situação era embaraçosa na gestão do espaço, pois a família do tio Paito ocupava um quarto e as restantes 35 pessoas o outro quarto, já que a casa é tipo-2. Entretanto, Armando Changamo Júnior reconheceu a sua incompetência em ter deixado as duas meninas de 17 anos na sua residência sem antes ter comunicado as autoridades locais, como vinha fazendo quando recebesse menores de idade para serem empregadas.

“Em Outubro de ano passado recebi três meninas com idade compreendida entre 13 e 15 anos. Como eram menores comuniquei a Chefe de Posto e depois a 7ª esquadra (onde estava preso) para evitar confusão. Tivemos que localizar os familiares, aqui em Maputo, até porque provinham todos da mesma casa”, disse.

De referir que no dia da detenção do Tio Paito na sua residência no Bairro T-3 havia gente proveniente das províncias de Manica, Zambézia, Gaza e Inhambane, que alegadamente procuravam emprego na Cidade de Maputo.

COMO SÃO FEITOS OS CONTACTOS

Questionado pela nossa Reportagem sobre como são feitos os contactos com as meninas, Armando Changamo Júnior respondeu que, geralmente, aquelas têm acesso ao seu número do telemóvel pelas irmãs ou amigas a quem ajudou a empregar.

Acredito que algumas saem das províncias de origem sem se terem despedido dos familiares”, disse.

O nosso jornal apurou que quando os interessados ligam a manifestar interesse por uma vaga de emprego, ele exige que a mesma se despeça da família e traga consigo os documentos de identificação e mantém contacto até chegarem a Maputo. Chegados à sua residência-agência, e enquanto não encontram alguém interessado, vai-lhes treinando em matéria de limpeza doméstica, porque alguns aspirantes a emprego têm pouca ou nenhuma experiência.

FALA A POLÍCIA

O porta-voz do Comando Provincial da Polícia da República de Moçambique (PRM), ao nível da Matola, Emídio Mabunda, solicitado pelo nosso jornal para se pronunciar sobre o caso, fê-lo nos seguintes termos: “Neste momento nãoestamos a defender se ajudouou não as pessoas a terememprego, só que a partir domomento em que abriu umestabelecimento de recrutamentode certeza que tem umganho. Quem sabe se essaspessoas não eram submetidasa actividades obscuras e nãoaquilo que se propala de serembabás ou empregadas domésticas?Mas isso a políciaainda está a investigar. Porenquanto, trata-se de tráficode pessoas”, aludiu o porta-voz.

Mabunda condenou ainda o facto de Armando Júnior acomodar cerca de 35 pessoas numa casa tipo-2, e classificou aquele acto de crime. A nossa fonte referiu ainda que o indiciado já esteve preso na altura em que residia no bairro Luís Cabral, também no município da Matola, onde exercia a mesma actividade de suposto tráfico de pessoas. Entretanto, a polícia refutou que três raparigas tenham fugido do infantário de Khongolote.

EX-VÍTIMAS ALOJADAS NO CENTRO INFANTIL

As 35 pessoas que viviam em casa do Tio Paíto foram alojadas num centro infantil, localizado numa zona chamada Primeira Rua, no bairro de Khongolote, a pedido da PRM.

Fernanda Edgar, vizinha de Tio Paíto, que se encontrava entre os mirones quando a nossa equipa de Reportagem chegou ao local, disse que cresceu na casa daquele, e garantiu-nos que as raparigas não estavam em cativeiro porque saíam para tirar água em casa de vizinhos e iam ao mercado.

“Ele é boa pessoa. Ajudou muitas gente a terem emprego. Há meninas que vêm aqui com bebés ao colo e dividem o mesmo tecto com ele. Nunca as maltratou e muito menos as violou sexualmente. As moças aceitavam viver naquelas condições até conseguirem emprego, uma vez que é difícil encontrar trabalho na Cidade e Província de Maputo”.

De referir que o indiciado já tinha sido preso em 2014, pelo mesmo problema, por um período de 92 dias. Foi solto sem nenhuma explicação nem indemnização.

Idnórcio Muchanga
aly.muchanga@gmail.com

Fotos de Inácio Pereira

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