Início » Drama em Buzi e Nhamatanda

Drama em Buzi e Nhamatanda

Por admin

Búzi mostra a altivez de um rio que engoliu a terra e destruiu habitações e culturas diversas. No rosto de camponeses é visível a tristeza, a mesma realidade que encontramos em Nhamatanda onde o Pungue também ameaça. Sofala, no centro do país, repete o cenário de cheias já cíclicas. Onde o povo desespera sempre que passa uma nuvem escura no céu.

Tudo começa apartir do dia 17 de Janeiro passado. O distrito de Búzi recebe informação sobre a subida do caudal do rio com o mesmo nome e seus afluentes em consequência das elevadas precipitações em toda a bacia.

Dia seguinte todos os órgãos de gestão de risco de calamidades são activados ao mesmo tempo que a rede de comunicação ganha força em com todas estações de monitoria a montante entre Dombe, Sussundenga, Goonda, Chibabava, Grudja, Estaquinha e Búzi.

Nada que pudesse vencer, entretanto, a fúria das águas. Há relato de 25 casas totalmente destruídas, 24 parcialmente destruídas, havendo 5 512 pessoas afectadas pelas inundações.

Presentemente 104 famílias encontram-se nos centros de acomodação de Lusalite, Igreja Reformada e Acampamento da Companhia de Búzi.

A Companhia de Búzi, outrora gigante no processamento da cana-de-açúcar, está em ruínas. O Búzi destruiu quase tudo na onda de cheia que perpassou o caudal do rio semana finda.

 

Extensas áreas de interesse agro-pecuário ficaram igualmente afectadas em Búzi Sede, Inharogue, Guara Guara, Bandua, Estaquinha e Grudja. Estima- se, no total, que 4 921 famílias estejam afectadas, havendo registo de uma área inundada de 4 128 hectares, grande parte da qual, 3 078 hectares, dada como perdida.

Refira- se que durante a fase de emergência ficaram intransitáveis as seguintes vias de acesso em Búzi. Vila de Búzi/Guara Guara, Companhia de Buzi/Inharongue, Vila de Buzi/Estaquinha, Guara Guara/Inhamuchindo/Grudja e Bandua/Ampara.

A reportagem do domingoapurou que as vias vila de Buzi/Guara Guara, Companhia de Buzi/Inharongue e Vila de Buzi/Estaquinha  já se encontram transitáveis, persistindo dificuldades de circulação no sentido Guara Guara/Inhamuchindo/Grudja e Bandua/Ampara.

Na vila sede do distrito de Búzi a nossa Reportagem apurou que a fúria das águas arrastou parcialmente a ponte móvel. O batelão encontra-se inoperacional, dificultando, assim, a travessia de pessoas e bens. Não funciona porque o nível de água não permite atracagem junto às margens. Como se isso não bastasse, a ponte de Chiquezana foi retirada do rio para a margem.

Três escolas estão sitiadas, designadamente EPC 1 de Junho, escola Primaria de Munamicua e escola primária de Guara Guara, afectando 1 451 alunos e 24 professores.

 

VIDA TENDE

A VOLTAR A NORMALIDADE

 

Em conversa com a nossa reportagem, Tomé José, administrador de Búzi, disse que a vida tende a voltar a normalidade. Contudo, frisa que “Esta a chover. Tudo pode acontecer”.

Sublinhou que a situação foi tão crítica que de um dia para o outro (de 29 para 30 de Janeiro), cerca de 10 057 casas ficaram sitiadas e cinco mil e quinhentas e doze pessoas ficaram afectadas, facto que implicou o encaminhamento de 104 famílias aos centros de acomodação.

O nosso entrevistado destacou Guara Guara, Bandua, Grudja e Estaquinha como as regiões mais afectadas pelo transbordo do rio Buzi, devido a contribuição de rios tributários, a montante, designadamente Revue e Lucite.

De ressalvar que, nas condições normais, o rio Búzi tem o nível 3,6 metros na vila sede, mas atingiu 5 metros no pico da crise. Estávamos com marés altas. Foi difícil monitorar a situação, descreve o administrador do distrito.

Nessa altura, como noticiamos em edições anteriores, Dombe, em Sussundenga, e Goonda, em Chibabava, são estações com níveis normais na ordem dos 5,5 metros, mas alcançaram o dobro. Resultado: bairros como Matinorte, Companhia de Búzi, Mandire I e II configuraram um cenário dantesco, mostrando como um rio pode ser capaz de comer a terra.

 

SOFRIMENTO

NA PRIMEIRA PESSOA

Dos seis centros de acomodação inicialmente em funcionamento, restaram agora três. Domingofez-se ao barco e visitou o bairro Mandire I onde 40 famílias vivem abrigadas em tendas fornecidas pelo Instituto Nacional de Gestão de Calamidades INGC.

Artur John Rose está naturalmente triste. A chuva rachou a sua casa em duas metades bem inclinadas. Não consigo entrar na minha casa, disse.

Com tudo perdido, vive agora numa tenda com mais três pessoas da família.

Catarinas Luís é outra cidadã afectada pelas cheias. Vive com duas pessoas na tenda, porque a sua casa em Mandire caiu completamente. Perdeu, literalmente,  toda a habitação.“Não sei o que vou fazer. Ainda estou a pensar”, disse a nossa Reportagem.

Ana Anania vive com  11 pessoas na mesma tenda. Incrível. A tenda é tão minúscula, mas a vida contínua.

Joaquim João viu igualmente a sua casa a reduzir-se a duas metades. Vive inconsolável na tenda e terá que recomeçar do nada.

CENÁRIO DE BÚZI

PODE REPETIR-SE NO PÚNGÙE

A semelhança do rio Save e Limpopo, (ler texto a parte), o rio Púngúe poderá transbordar a qualquer momento devido a subida do seu caudal.

domingovisitou igualmente os distritos de Nhamatanda e Dondo e verificou que neste último, a situação é particularmente preocupante em Mutua, onde o rio Púngue ultrapassou o nível de alerta.

Nas imediações da Estrada Nacional Numero seis o caudal do rio nas bermas quase ultrapassa a cota do asfalto, cenário que indica para eventuais cortes, se as chuvas continuarem a cair.

No distrito de Nhamatanda, a população já está a sofrer, sobretudo em Metuchira onde uma ponte estratégica encontra-se submersa há duas semanas. A travessia do rio Metuchira é feita com recurso a seis pequenas embarcações. A população enfrenta imensas dificuldades para se dirigir ao centro de saúde, a escolas ao mercado, que se encontram sitiados.

O cenário é dramático. Cerca de 800 alunos da escola secundária local são obrigados a atravessar o rio em pequenas embarcações e em canoas. Mulheres grávidas idem.

De acordo com Sérgio Moiane, administrador do distrito de Nhamatanda, o rio Púngue esta a registar subida de caudal em Metuchira.

O caudal do rio encontra-se dois metros acima do nível de alerta e, para minimizar os danos, a Administração do distrito de Nhamatanda criou sete comités de gestão de risco.

Em Nhampoca a escola local encontra-se inundada, o mesmo sucedendo com a escola primária completa de Micharuene em Momba.

Em Micharuene, região baixa próxima do rio Púngue, as aulas ainda não iniciaram. Extensas áreas agrícolas encontram-se inundadas e há relatos de culturas perdidas.

O governo local deposita esperança na campanha  da segunda época sobretudo nas povoações de Nhampoca e Bebedo.

Pelo menos 182 famílias necessitam de sementes de milho. O administrador de Nhamatanda disse ao domingo que estão neste momento disponíveis 15 toneladas de milho para a campanha de segunda época.

A situação é mesmo crítica. A travessia de Tica a Nhampoca é feita de canoa. A situação é mais crítica no norte do distrito, nomeadamente em Bebedo, Nhampoca, Micharuene, Momba, zonas baixas próximas do rio Púngue.

Segundo Vicente Magaço, chefe da localidade de Metuchira a situação agrava-se devido as chuvas registadas a montante, na província de Manica.

Você pode também gostar de:

Leave a Comment

Propriedade da Sociedade do Notícias, SA

Direcção, Redacção e Oficinas Rua Joe Slovo, 55 • C. Postal 327

Capa da semana