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Celebração ao som do apito

Por admin

O apito é um pequeno instrumento de sopro utilizado para a música, sinalização desportiva e de trânsito, e em situações de emergência. Por exemplo, durante o ano passado, a venda de apitos disparou nos bairros suburbanos de Maputo e Matola por causa da actuação vergonhosa de grupos criminosos a que se apelidou por G-20, engomadores, entre outros.

Naquela altura, uma apitadela no auge da noite era suficiente para trazer até o indivíduo mais dorminhoco à rua para enfrentar supostos bandidos munidos de catanas e armas de fogo que, mergulhados no mais brutal espírito criminal, para além de roubarem, ainda se davam ao luxo de violar sexualmente os donos da casa e passar a ferro as nádegas deste e daquele.

Felizmente, esse tempo passou e dele só restam memórias que se transformam em piada, pois, muitos chefes de família, que se tinham transformado em vigilantes activos, agora dormem tranquilamente, quase certos de que se um criminoso lhes vier “visitar”, não vai passar da capoeira.

Entretanto, o apito não perdeu a sua utilidade. No dia 1 de Maio, Dia Internacional do Trabalhador, este instrumento voltou a estar no centro da cena. Milhares de trabalhadores, organizados por empresa e sector de actividade, marcharam pelas artérias da cidade de Maputo a apitarem incansavelmente.

Desta vez, o som estridente dos apitos bateu recorde porque foram mais de 50 mil homens e mulheres que se juntaram nas bandas da Praça da Independência e desceram pelas Avenidas Samora Machel e Karl Marx para virem desaguar na Avenida 25 de Setembro e rumarem para a Praça dos Trabalhadores.

Apitava-se a plenos pulmões, como quem chamam a atenção para uma emergência de tipo “cuidem de nós”. Aliás, os dísticos diziam isso mesmo por outras palavras. “Exigimos salário justo, emprego decente, melhores condições de trabalho”, entre outros do género. Enquanto se reivindicava, também se davam passos de dança, alguns dos quais tão elaborados que pareciam extraídos de um bailado da Companhia Nacional de Canto e Dança.  

Esta data tem o sabor agridoce, pois, é um dia de festa e luta, de dor e alegria. A parte triste é que a data foi fixada porque, em 1886, um grupo de agentes da polícia da região de Chicago, nos Estados Unidos da América, mergulhou em escaramuças com trabalhadores que se manifestavam contra a excessiva carga horária de trabalho a que estavam sujeitos.

Aqueles operários queriam que o tempo de labuta fosse reduzido para oito horas e, no lugar disso, os agentes da polícia reduziram o número de trabalhadores, mantando-os a tiro, ou seja, a queima-roupa. Poucos anos depois, a data foi estabelecida a favor dos trabalhadores que a celebram recordando os colegas mortos, aproveitam para reivindicar outros direitos muitas vezes violados pelos empregadores e, em simultâneo, organizam-se em grupos para autênticos regabofes. Daí o sabor agridoce da data.

Para este ano, a Organização dos Trabalhadores Moçambicanos – Central Sindical (OTM-CS) transferiu as cerimónias centrais para a cidade de Tete, local que hoje acolhe centenas de grandes, médias e pequenas empresas que tem o carvão mineral como seu fulcro.

Porém, foi na cidade de Maputo onde a marcha e festa “bateu”, como sói dizer-se. Em Tete, apesar da presença das figuras de topo da OTM-CS, marcha durou pouco menos de duas horas mas, em Maputo, a caminhada levou mais de três horas sem intervalo.

Compareceram trabalhadores de empresas “mega-grandes” como a Mozal, grandes do tamanho da Electricidade de Moçambique (EDM), médias, pequenas e micro empresas, incluindo do ramo doméstico, cuja associação vai se impondo para o bem das empregadas domésticas, que tem uma relação de trabalho com os empregadores permanece despida de legislação e direitos.

No decurso daquela marcha também foi possível observar que o sector de segurança privada é um dos maiores empregadores do país, mas, incrivelmente continua a ser o mais problemático no que se refere ao tipo de salário, condições de trabalho, qualidade de contractos, entre outros.

Dísticos de nova era   

Enquanto se marchava, a imprensa fazia uma espécie de “caça ao tesouro” para descortinar dísticos que denunciassem situações de trabalhadores que estão “a comer o pão que o diabo amassou”. Entretanto, a maior parte dos cartazes pareciam ter sido feitos pelos empregadores.

Saudamos o 1º de Maio”, por exemplo, era o que diziam muitos letreiros empunhados por uma massa laboral com sinais mais do que evidentes de engorda, barrigas avantajadas, bochechas rechonchudas e caminhar dengoso. Os jornalistas concluíram entre si que “mudaram-se os tempos”.

Mesmo a propósito da mudança dos tempos e das vontades, observamos que os dísticos das empresas do ramo industrial e de construção versavam sobre a necessidade de se uniformizar os salários dos trabalhadores nacionais e estrangeiros.

De forma muito solta apareceram cartazes que diziam: “queremos salários gordos como os dos deputados”, “Senhora ministra de Trabalho acabe com a mão-de-obra barata e escravatura”, “Exigimos ratificação de convénio 189 para trabalhadores domésticos”. Porque o país vive um ano de eleições, alguns aproveitaram para cantar “Como iremos votar se não temos dinheiro?”.

No sector financeiro, como era de esperar, a maior parte dos integrantes das caravanas eram jovens que não escondiam o seu orgulho de estar ligados a bancos, seguradoras e de microfinanças e, por isso, os seus dísticos pouco ou nada diziam, senão aquela saudação pela passagem de mais um Dia do Trabalhador. Não exigiam nada, como se no ramo não houvesse problemas. Nem apitos tocavam. Um e outro ensaiavam um passo de dança mas, nada de realce. 

Um dos poucos grupos que trouxe à tona um cartaz que toda a imprensa queria ver, por razões noticiosas, foi o dos trabalhadores do Grupo MBS. “Vinte anos a ganhar o salário mínimo e sem plano de férias”. Esta denúncia, apesar de ser corriqueira nas celebrações de 1 de Maio, parece ser ignorada por quem de direito.

Políticos à maneira

A marcha seguiu e, pelo meio, também se viam empresas que não conseguiam esconder o seu desmazelo. Alguns não sabiam onde e com quem tinham ficado os dísticos na véspera, outros só distribuíram os trajes de marcha em plena via pública, a ponto de haver empurrões e troca de palavras entre colegas.

Enquanto isso, empresas do ramo automóvel, saúde e educação aproveitaram o ensejo para publicitar os seus produtos e serviços como se estivessem numa edição da Feira Internacional de Maputo. O Instituto de Línguas foi dando uma aula de inglês, francês e português, a Somotor desfilou os mais recentes carros, os hospitais privados exibiram a sua capacidade de resposta a situações de crise, enfim.

Quem não quis ficar para trás foram os partidos políticos. A Frelimo, como é tradição, tinha as suas principais organizações convenientemente posicionadas, a começar pelos Continuadores, “flores que nunca murcham”, parafraseando Samora Machel, membros da Organização da Mulher Moçambicana (OMM) e da Organização da Juventude Moçambicana (OJM).

Outro partido que agiu na calada mas, de forma ousada, foi o Movimento Democrático de Moçambique (MDM) que despachou Lutero Simango para a Praça dos Trabalhadores. O grupo de Simango posicionou-se num ponto estratégico de entrada para a tribuna e foi acenando, cantando e dançando com os trabalhadores que entoavam as canções mais reivindicativas do dia.

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2 comments

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