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Abrir estradas para fazer chegar o desenvolvimento

Por admin

A falta de emprego nos principais centros urbanos está a obrigar os jovens a transferirem-se para terras que, até há pouco tempo, tinham ténues sinais de desenvolvimento. Em Palma, 450 quilómetros da cidade de Pemba, deparamo-nos com parte da juventude que trocou os acepipes da cidade por um salário garantido.

Naquelas paragens trabalha-se duro. O dia amanhece cedo e o sol castiga os corpos muito antes de este se pôr a pino. A poeira que se levanta, quando os carros circulam, é outra punição, mas nem isso esmorece a vontade férrea daqueles homens. Quando, finalmente, a tarde acaba estão literalmente derreados. Basta vê-los como caminham enquanto vão emborcando água engarrafada para se hidratar.

Quem se fizer ao troço Mocímboa da Praia – Palma, há-de constatar, com os seus próprios olhos, que onde até há bem pouco tempo era mata extensa e, por vezes, cerrada, agora há estrada que se estende como uma enorme cobra rectilínea.

Isidro Chongo, natural de Maputo, 31 anos, é um dos rostos dessa nova vaga de migração. Contou à nossa Reportagem, durante uma pausa de trabalho, como é o seu dia-a-dia naquelas paragens. Ele e outros colegas estão a abrir e a terraplenar a estrada (desvio) que vai dar à aldeia de Quitupo, uns 40 quilómetros depois da saída da vila-sede de Palma, para quem vai em direcção à Mocímboa da Praia. Aliás, é em Quitupo onde será instalada a primeira fábrica de liquidificação de gás no país, um projecto da Anadarko e já envolto em alguma celeuma.

Acordo bastante cedo. Às cinco horas tenho de estar no master point. As sete horas, o mais tardar, iniciam as actividades laborais”, contou Isidro Chongo.

Enquanto conversamos, a nossa roupa vai ficando literalmente coberta por uma película de pó de cor vermelho-tijolo que se solta da estrada à medida que os carros circulam. O resto, à nossa volta, é vegetação com todo o tipo de perigo que ela esconde, e árvores de médio e grande porte. Mas nem tudo é inóspito ou mau. Por exemplo, as mangueiras estavam carregadas de mangas verdinhas, nesta altura do ano.

Questionámos-lhe como foi ali parar.

Concorri a uma vaga em Maputo. Passei na entrevista e fui contratado para vir trabalhar em Palma, concretamente aqui em Quitupo. Eu conduzo uma máquina niveladora.

Isidro Chongo presta serviço para a empresa “Triple C”, cuja vocação é construção de pontes, abertura e/ou construção de estradas.

Contrariamente ao que pensávamos, Chongo não é nenhum novato na profissão e nem Quitupo é seu baptismo de fogo, fora de Maputo.

Estive em Inhambane a trabalhar na SASOL (Temane Development), – empresa de pesquisa e exploração de hidrocarbonetos. Esta é minha segunda aventura. Participei na construção da fábrica SASOL”.

Isidro Chongo respira saúde e confiança. Está devidamente uniformizado. Calças e camisa de caqui de cor azul, botas pretas, capacete e óculos para protecção da vista. É a observação plena da Higiene e Segurança no Trabalho.

Hélder Sérgio, 40 anos, outro maputense, desempenha as funções de supervisor do staff da “Triple C”. Falou-nos, também, do trabalho que ali está a decorrer, bem como da sua história.

A finalidade do trabalho que estamos a efectuar é colocar o “red soil” (areia vermelha), porque esta via tinha problemas sérios para os carros transitarem, mesmo os “four by four””. A extensão do trabalho a ser feito é de aproximadamente 40 quilómetros.

Hélder Sérgio também é repetente em Palma. “No ano passado (2012), estive cá tendo trabalhado no projecto da BJP que visava a pesquisa de gás no solo. Nós (BPJ) é que demos o resultado da nossa pesquisa (gás) à Anadarko. Eles posteriormente contrataram outras empresas para fazer perfurações”.

Quem também trabalhou por aqueles lados, na BJP, foi o nosso guia Abdala, natural de Pemba, e que com os rendimentos conseguidos durante um ano de trabalho adquiriu inclusive uma viatura. “Foi difícil deixar a família, mas não havia outro jeito”, confessou.

DISTINTOS EMPREITEIROS

MOSTRAM SERVIÇO

Actualmente, chegar ao distrito de Palma é um sacrifício de todo o tamanho. O início da viagem, a partir de Pemba, até é sossegado, mas só até às proximidades do desvio de Muidumbe.

Primeiro, sofre-se com a estrada de terra batida. Depois é a festa dos buracos. Uns maiores que outros. As sobras de alcatrão que um dia fizeram estrada são outro desconforto para os motoristas e passageiros, tudo isso até quase ao cruzamento de Oasse.

Nas proximidades da entrada da autarquia de Mocímboa da Praia (94 mil e 127 habitantes) as coisas se recompõem. A estrada é um autêntico tapete. Porém, “a boa vida” termina um pouco depois da aldeia “Maputo”. Antes apanha-se a aldeia “Quelimane”.

 Afortunados são os que fazem a viagem transportando-se em viaturas “four by four”, melhor se o carro tiver suspensão independente nas quatro rodas.

Talvez valha a pena frisar que não há machimbombo ou autocarro que faça o trajecto directo Pemba-Palma. Tem de se fazer transbordo em Mocímboa da Praia, isto é, apanhar um mini bus ou uma carrinha de caixa aberta para se atingir Palma, ou a fronteira com a República da Tanzania.

Empresas nacionais e estrangeiras de construção de estradas, como as moçambicanas CETA e “Triple C”, e a brasileira ZAGOPE (Grupo Andrade Gutierrez) são, entre outras, as responsáveis pela melhoria das vias de acesso que está a chegar àquelas paragens e que logicamente vai fazer com que ali o desenvolvimento apareça depressa, bem como em toda extensão de Cabo delgado.

Ora veja-se: actualmente achar hospedagem, condigna, em Palma é como procurar agulha em palheiro. Por exemplo, alguns homens que trabalham para empreiteiras com obras naquelas bandas dormem em quartos que têm como único adorno, para além da cama, uma ventoinha de pé alto e uma rede mosquiteira. A casa de banho é, regra geral, comum. Hospedámo-nos numa dessas pensões.

E não se pense que só são moçambicanos a viver nessas condições. Durante o tempo que lá estivemos, descortinámos portugueses, brasileiros e um e outro falante da língua castelhana.

A vida é sempre assim. Há sempre uma geração vítima para que a outra possa gozar da prosperidade preparada pela anterior. Palma (48 mil e 423 habitantes) não foge à regra.

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