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Todos os caminhos vão dar a… Beijing

Por admin

A cidade de Beijing, capital da China, é um centro de convergência de multidões. Há turbas nos aviões de grande porte que chegam e partem. As entrelaçadas estradas registam enchentes de viaturas que tornam o tráfego estonteante.

As vias férreas, idem. Quem pensa que é tudo se engana. Há outros milhões de pessoas que trafegam pelo subsolo em metrôs. O turismo é de uma pujança tal que dá a impressão que há um erro quando se diz que “todos os caminhos vão dar a Roma”. O certo seria, “Todos os caminhos, também, vão dar a Beijing”.

Para se ter uma ideia aproximada das multidões que esta cidade regista, basta espreitar os dados que indicam que o Aeroporto Internacional de Beijing é o segundo mais movimentado do mundo, com mais de 86 milhões de passageiros por ano, a seguir ao aeroporto de Atlanta, nos Estados Unidos da América (EUA), que ultrapassa os 96 milhões de passageiros em 12 meses.

A capital chinesa, Beijing (em mandarim), que no passado foi chamada Pequim (em cantonês, que pouco se usa hoje), é uma metrópole com uma história milenar, como se verá mais adiante, mas que regista um grau elevado de desenvolvimento que é fruto de uma peculiar abertura à economia de mercado há uns 40 anos.

Graças a essa guinada de 180 graus na perspectiva económica, o país mudou profundamente e grande parte dessa metamorfose se observa no tipo, qualidade e quantidade de infraestruturas que se vislumbram nos principais centros urbanos, com destaque para Beijing, que é a segunda maior cidade depois de Xangai, e para a cidade casula de Shenzhen, que tem escassos 30 anos de existência.

Depois de termos o queixo caído na frenética Shenzhen, partimos para Beijing, de avião, um Boeing 777-200, no qual levamos duas horas e meia, a uma velocidade de cruzeiro de 905 quilómetros por hora, o que deixou claro que a distância que separa as duas cidades é superior à extensão do nosso Moçambique de Norte a Sul.

Deixamos para trás o aeroporto de Shenzhen que, tal como a própria cidade, é uma obra-prima. O edifício principal é de uma grandeza e beleza que impressiona aos próprios nativos que assistiram à sua construção. Arrastamos as malas pelo espaçoso recinto com os olhos postos em quase tudo. Aquele é um autêntico cartão postal, sem tirar nem pôr.

O avião partiu com todos os lugares preenchidos. Mais de 300 pessoas a bordo, num voo doméstico e, conforme apuramos, o movimento é aquele todos os dias. Foi a partir daqui que começamos a lidar com as multidões chinesas.

Ainda levávamos na memória o paladar das refeições do voo anterior, da Etiopian Airlines, mas as hospedeiras removeram-nos os medos e pavores oferecendo-nos pratos quentes de arroz com milho e uns nacos de frango. De tão bom, soube a pouco.

Aterramos em Beijing quando os ponteiros indicavam 12.30 horas e o céu estava muito nublado. Mesmo assim, a tripulação fez questão de manter ligada a camara implantada no bojo da aeronave para que através dos ecrãs instalados na cabine de passageiros pudéssemos apreciar a descida no meio daquelas densas nuvens. Fazia um frio de 13 graus.

OS CAMINHOS DE BEIJING

Percorrer as avenidas da capital chinesa é se entregar a engarrafamentos parecidos com os que os residentes de Maputo enfrentam nas chamadas horas de ponta. Porém, naquela cidade o congestionamento quase que não tem hora, tanto é que estamos a falar de uma cidade com acima de 20 milhões de habitantes.

Para acomodar tanta demanda pela circulação rodoviária, o governo chinês criou condições para que a cidade se transformasse no mais importante polo de estradas nacionais, com muitas e largas vias expressas, linhas férreas comuns e muitas ferrovias de alta velocidade, também conhecidas por metrôs. E mesmo assim, há engarrafamentos.

Depois de nos acomodarmos no Xiyuan Hotel, que fica localizado a paredes meias da quarta linha de Metrô, iniciamos a missão exploratória da cidade, sob a orientação de uma jovem chinesa que pediu para que lhe tratássemos por Aken, e assim procedemos. Aken para aqui, Aken para lá… como meninos de creche.

Foi nessa condição que na manhã seguinte “madrugamos” para visitar a Praça Tian’anmen (também conhecida como Praça da Paz Celestial), construída em 1949 como símbolo da Nova China e que permanece no top três das maiores praças do mundo, ombreando com as praças Merdeka, na Indonésia, e dos Girassóis, em Palmas, no Brasil.

Chegamos convencidos de que seriamos os primeiros, mas a praça já estava repleta de gente. Turistas de todos os cantos do mundo. Mas, como a China tem quase um bilião e 500 milhões de habitantes, e a praça está no seu quintal, a maior parte dos visitantes eram eles mesmos. Os chineses.

Tian’anmen é um lugar que transborda história pelos poros. Num dos lados tem o Mausóleo onde repousam os restos mortais de Mao Tse Tung, no outro extremo tem a Assembleia Nacional e no outro o Museu Nacional da História e da Revolução, e ainda uma placa na qual o líder da revolução chinesa (Mao Tse Tung) deixou inscrito que “Os heróis do povo são imortais”.

Também é importante lembrar que é neste local onde são realizadas as famosas cerimónias que culminam com aquelas sumptuosas marchas militares, nas quais o exército local se exibe com total garbo e deixa a concorrência com as pernas bambas.

Esta praça também emerge na história global como o local que acolheu um evento insólito no dia 05 de Junho de 1989, quando um jovem solitário entendeu fazer parar uma fila de tanques de guerra em protesto contra a situação social, política e económica da época. A imagem captada por um repórter ocidental correu o mundo. Mas, o jovem continua desconhecido até hoje, só se sabe que é um tal “rebelde desconhecido”.

CIDADE PROIBIDA

A par dos edifícios, da imensidão da praça, dos monumentos, a praça impressiona pelo intenso movimento de turistas. É gente e mais gente a chegar, a fazer filas para passar pelos pontos de revista pela polícia local, a fazer fotografias, filmar a se saudar, mesmo sem se conhecer. Todos procuram buscar no ar algum resquício de história universal.

Como é de imaginar, quem tem cara de forasteiro é constantemente assediado por fotógrafos ambulantes que sugerem preços módicos para fotos instantâneas e malandros que simulam ser leitores de palmas das mãos (quiromantes – praticantes da quiromancia).

Naquele recinto, os guias turísticos trabalham a dobrar porque são obrigados a circular com uma bandeira hasteada, com as cores mais vistosas possíveis, para que os seus grupos de visitantes os possam identificar ao longe. Também carregam modernos megafones com os quais amplificam a voz e contam estórias sobre o local.

Ainda encantados com a grandeza da praça e edifícios adjacentes, Aken e centenas, senão mesmo milhares, de outros guias conduzem os turistas como um imenso rebanho até à Cidade Proibida, que fica do outro lado da Praça Tian’anmen, que foi a capital do império chinês durante cerca de 500 anos.

Entrar neste conjunto de edifícios é dar um mergulho no âmago da história da China. Os guias falam até perderem a voz. Tudo tem um sentido. Uma razão. Uma explicação. Um nome. São vários edifícios com inúmeras divisões. Em umas os turistas podem entrar, noutras é proibido.

A cidade foi construída no intervalo que vai de 1406 a 1420 e só o imperador, família e empregados domésticos tinham permissão para lá estar. Naquele tempo, quem se aventurasse para o interior dos limites daquele território, sem convite do imperador, recebia toda a tortura possível e “passava desta para a melhor”. Daí o nome, Cidade Proibida.

GRANDE MURALHA

Depois de cerca de três horas de caminhada no interior da Cidade Proibida, finalmente alcançamos a saída. As pernas já cediam ao cansaço. Aken ainda convidou-nos a fazer fotos no Jardim Imperial, mas já ninguém tinha folego, carga nas baterias das camaras fotográficas e espaço nos cartões de memória. A fome também já fazia das suas.

Embarcamos num mini-bus e trafegamos por várias ruas de Beijing onde predomina o comércio e a restauração típica chinesa até alcançarmos um imenso restaurante, montado num edifício de dois pisos, repleto de turistas. Como era hábito, ninguém nos apresentou o menu ou quis saber o que desejávamos comer.

Mal nos sentamos, veio a ceia. Comida chinesa e igual para todos. Moçambicanos, chineses, americanos, europeus, entre outros. Cada um tinha que construir o seu apetite por si. Também não soubemos quanto custava aquela refeição.

No piso térreo daquele casarão funcionam lojas e fábricas de brindes típicos. Aliás, os chineses são especialistas “obrigar” o turista a levar consigo objectos que lembram aquele país. Autocarros e mais autocarros chegam e partem prenhes de visitantes num movimento alucinante. 

Repostas as energias, percorremos mais alguns quilómetros até avistarmos a famosa Grande Muralha, um dos mais importantes símbolos da vibrante história da China. E, como era de prever, não fomos os primeiros a chegar e muito menos os últimos. Encontramos uma multidão e deixamos outra.

Aken fazia questão de atrair a nossa atenção para os dados que ela já tem gravado na memória e nós, agarrados a camaras, só queríamos achar o melhor ângulo para fazer uma foto para mandar para familiares e amigos.

Paramos na sexta secção, das 16 que a Grande Muralha possui e iniciamos a nossa própria marcha rumo a um dos picos daquela que é a mais longa estrutura construída pelo homem na face da terra. Pelo número de visitantes, ficou mais uma vez claro que “todos os caminhos também vão dar a Beijing”.

Aken explicou que as secções mais concorridas são Badaling e os Mausóleos Ming que recebem por dia cerca de 53 mil visitantes, quase o dobro do público que enche o estádio da Machava em dias de grandes jogos dos Mambas. Por causa da intensa afluência de turistas, o governo local limita o acesso.

Escalamos aquela secção até onde as nossas energias se esgotaram e, enquanto subíamos, fomos trocando dedos de conversa com turistas de todos os cantos do mundo. Em inglês, português, num falso espanhol, chinês, francês, enfim. Quem tem a sorte de estar por ali, vê no outro um amigo.

Naquele vaivém, há quem não vai por ai além, mas outros procuram exibir o seu porte atlético e trepam a muralha como se estivessem em alta competição. Na hora de descer, a coisa se torna mais complexa porque os degraus são irregulares. Ali se vê porque a muralha se chama Grande Muralha.

A Grande Muralha, sozinha, é uma enciclopédia de um misto de história de horrores e de orgulho chinês, uma vez que milhões de pessoas morreram durante a sua construção e faz parte, de forma inquestionável, do selecto grupo das 7 Maravilhas do Mundo. Aliás, a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) elevou esta estrutura à categoria de Património da Humanidade.

Jorge Rungo
jrungo@snoticicas.co.mz

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