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Recontar a história olhando para o futuro

Por admin

Uma peça teatral retratando o massacre de 600 moçambicanos ocorrido a 16 de Junho de 1960, no distrito de Mueda, província de Cabo Delgado foi exibida, na última terça-feira, para assinalar a passagem dos 55 anos deste acontecimento que marcou o início da revolta contra o regime colonial português.

A vila municipal de Mueda foi pequena para acolher milhares de pessoas que para lá se deslocaram para reviver o triste acontecimento do assassinato bárbaro de moçambicanos que, de forma pacífica, exigiam a libertação do país do jugo colonial português.

Foi um acto carregado de muita emoção e simbolismo sobretudo quando os actores representaram, na letra e espírito, todos os episódios, desde o do primeiro grupo de nacionalistas que foi pedir a liberdade mas que terminaram na cadeia.

A peça teatral decorreu debaixo de um calor abrasador, facto que não impediu as pessoas de acompanhar a sua exibição uma vez que pretendiam reviver todos os passos que culminaram com a conquista da soberania e proclamação do Estado moçambicano.

Porque não é todos dias que uma pacata vila recebe tanta gente de uma só vez, momentos houve em que quase era impossível circular por aquelas bandas, quer a pé, de bicicleta e ou de carro.

Mesmo as comunicações telefónicas chegaram a registar dificuldades apesar da presença das três operadoras de telefonia móvel naquela região também conhecida por planalto dos Makondes.

O TESTEMUNHO

DOS SOBRIVIVENTES  

Um dos momentos mais emocionantes foi quando Simão Nchusa, 78 anos, por sinal chefe do grupo dos sete cidadãos que foram detidos antes do massacre das pessoas que se manifestavam pacificamente diante da administração.

Nchuha contou que tudo começou com a prisão do grupo dos sete que, querendo dialogar, foram mal compreendidos pelo então regime colonial, que ordenou imediatamente a sua prisão e deportação para a cadeia da PIDE na então cidade de Lourenço Marques, hoje Maputo.

Consumada a prisão segundo contou, um outro grupo de nacionalistas, nomeadamente, Matias Shibilite e Faustino Vanomba organizou uma revolta popular para exigir a libertação dos seus compatriotas detidos.

“Porque o regime colonial não aceitava as exigências, a população aglomerou-se em frente da vila ansiosa em ouvir novidades mas, por volta das 16 horas, foi surpreendida com a prisão dos dois nacionalistas”,disse.

Acrescentou que estes, Matias Shibilite e Faustino Vanomba; foram algemados pelos sipaios e empurrados para a varanda frontal na companhia de camponeses indefesos que se encontravam no interior do edifício da administração.

A prisão daqueles moçambicanos causou indignação e revolta populares, uma vez que as pessoas esperavam ouvir outro tipo de notícia e não propriamente a detenção dos colegas.

A reacção popular foi espontânea. Rodearam a viatura que ia levar os nacionalistas á prisão; isso enfureceu os colonialistas que dispararam matando 600 moçambicanos que, por via pacifica, reivindicavam apenas o direito a justiça, liberdade e a independência”,contou Simão Nchusa.

A BRAVURA

DOS NACIONALISTAS

Raimundo Pachinuapa, 76 anos de idade é outro sobrevivente do massacre de Mueda que, em conversa com o domingo, contou que a coragem dos nacionalistas esteve sempre alta: “As pessoas que dirigiram o processo estavam desarmadas. Portanto, apenas com pastas e não tinham nenhuma arma o que demonstra determinação, coragem e a vontade de ser livre”.

E acrescentou. “Quando os disparos começaram a fustigar os nossos ouvidos fugimos em direção as lojas. Chipande também esteve presente, disse Pachinuapa para quem a bravura e determinação foram dominantes para a conquista da Independência nacional.

Instigou os libertadores

a consentir grandes sacrifícios

– Presidente da Republica, Filipe Jacinto Nyusi

O Presidente da Republica, Filipe Jacinto Nyusi diz que o massacre de Mueda serviu de catalisador da vontade coletiva de conquista de Independência e liberdade, e instigou os nossos libertadores a consentirem sacrifícios de toda natureza.

Segundo defendeu, mais do que lamentar as vidas caídas no fatídico dia 16 de Junho de 1960, devemos explorar e capitalizar os grandes significados deste e outros acontecimentos de capital importância para a nossa história.

Para o Presidente da Republica, os factos ocorridos em Mueda não estavam dissociados das outras manifestações reivindicativas que em diferentes regiões do país.

“Podemos enumerar alguns, entre outros,os diferentes tipos de resistência a penetração portuguesa, encabeçadas por Kuphula-Muno, Mussa-Kuanto, em Nampula, do Rei Mataka, em Niassa, Makombe, em Manica, de Ngungunyane e Maguiguana a partir de Gaza, a batalha de Guaza mutine, Mwamatibjana em Maputo”, disse o Chefe do Estado.

Outro acontecimento de relevo associado ao 16 de Junho é a criação da moeda nacional, o metical, acto que aconteceu em 1980. Sobre o assunto, o PR afirmou que a nossa moeda expressa o rumo que assumimos para a nossa Independência económica e a afirmação da moçambicanidade.

“Com o metical, queremos ser respeitados como país; por isso, todos os esforços do Estado visam a sua valorização, porque estamos conscientes que é com ele que atingiremos a auto- suficiência. É a nossa arma de hoje para atingirmos o progresso que todos os dias almejamos”,disse o Chefe do Estado.

Nyusi ainda é jovem

– Joaquim Alberto Chissano, antigo Presidente da República

Para o antigo Chefe do Estado, Joaquim Alberto Chissano é preciso respeitar a vontade do povo que escolheu Filipe Nyusi para assumir os destinos do país nos próximos cinco anos.

“Nós é que escolhemos os nossos dirigentes. Portanto, temos um único Presidente e que devemos apoiar. Nós deixamos muita coisa para o Nyusi fazer e acreditamos que vai conseguir porque ainda é jovem”,disse Joaquim Chissano que arrancou vários aplausos dos presentes.

Sobre o seu desaparecimento em alguns momentos, explicou que deve-se ao facto de sempre ser solicitado por alguns países da região e do continente para falar da experiencia de pacificação do nosso pais.

“Sei que vocês têm perguntado se Chissano está vivo ou depois de deixar o poder esqueceu a população de Mueda, ou do pais. O que acontece é que os outros países tem me solicitado para falar da experiencia de pouco mais de 20 anos depois da assinatura dos Acordos de Roma, uma vez que pretendem saber como é que conseguimos manter a paz”,disse Chissano citando países como Madagáscar, Republica Democrática do Congo, Uganda, Guiné, entre outros.

Relativamente as celebrações dos 55 anos do massacre, afirmou que devem servir de inspiração, primeiro para desenvolver o homem e a mulher que são o vector principal para a construção de um Moçambique próspero e seguro e que em segundo plano era necessário preservar a unidade nacional.

 

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