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Moçambicanos sentem-se injustiçados na Sasol

Por admin

Diferenças salariais e mau relacionamento entre trabalhadores moçambicanos e estrangeiros cria descontentamento no seio da massa laboral de um dos maiores empreendimentos da província de Inhambane, o centro de processamento de gás natural de Temane pertencente à multinacional SASOL, a empresa sul-africana que explora o gás dos jazigos de Temane e Pande, nos distritos de Inhassoro e Govuro.

Naquela unidade de produção, os trabalhadores moçambicanos dizem se sentir lesados pela forma como são tratados pelos seus colegas estrangeiros em particular sul-africanos.

Estes colegas, de acordo com os moçambicanos, nada fazem, mas são bem remunerados e com todas as mordomias – vivem em casas condignas, recebem um salário condigno, todos são feitos chefes e desprezam os moçambicanos, por sinal técnicos do mesmo escalão, só para citar alguns exemplos.

Revelino Graviano, um dos trabalhadores entrevistados pelo nosso semanário disse que, o que mais aborrece os moçambicanos é que os vários projetos da SASOL, estão cheios de chefes sul-africanos que nada fazem e isso incomoda aqueles que passam a vida a trabalhar.

Acrescentou que outro problema que aflige os trabalhadores moçambicanos é que alguns sul-africanos estão em Temane ilegalmente.

Estes problemas, de acordo com Revelino Graviano, são do conhecimento da direção de empresa, da inspecção de trabalho e das autoridades do governo, mas nunca são resolvidos.

Anabela Vembane, outra nossa entrevistada, reiterou haver nos vários projectos da Sasol, tratamento diferenciado entre os trabalhadores nacionais e estrangeiros, sobretudo sul-africanos que são a maioria dos trabalhadores estrangeiros.

Somos artesãos de mão cheia e se fomos admitidos e estamos a trabalhar é porque está provada a nossa capacidade, agora, porquê a diferença salarial?” questiona a fonte, visivelmente enfurecida.

Aliás, com os actos de xenofobia que acontecem na vizinha África do Sul contra estrangeiros, alguns dos quais são moçambicanos, uma situação agravada pelas imagens que circulam nas redes sociais, a fúria dos moçambicanos que trabalham na fábrica de processamento de gás natural em Temane, atingiu o ponto mais alto.

Foi assim que, na manhã da última quinta-feira, cerca de 250 trabalhadores moçambicanos afectos em alguns projectos da SASOL, excluindo a fabrica de processamento, decidiram paralisar as suas actividades exigindo o afastamento dos seus colegas sul-africanos, alegando ser retaliação do que está a acontecer na África do Sul, onde moçambicanos estão a ser maltratados.

Na paralisação pacífica, os trabalhadores iam exibindo imagens chocantes que supostamente são transmitidas a partir da África do Sul e cujos alvos são moçambicanos.

Não podemos ficar de braços cruzados quando os nossos irmãos são massacrados injustamente, numa situação que acontece de forma repetida. Os primeiros casos aconteceram em 2008. Em 2013, os sul-africanos mataram de forma brutal o nosso irmão taxista Mido Macie e este ano, de novo em algumas zonas daqueles pais eclodiram actos de xenofobia e os moçambicanos são também vitimas. Nós acolhemos muitos cidadãos provenientes da terra de Jacob Zuma. Estamos cansados de perdoar e ficar indiferentes numa situação que angustia nossos irmãos. Daí que exigimos a retirada dos sul-africanos no nosso país, mas nós não usamos violência” disse um outro trabalhador identificado apenas por Adelino.

“É melhor perceberem que nós não estamos em greve, exigimos apenas a saída dos nossos colegas sul-africanos”clarificou Adelino.

E porque o ambiente era tenso, na manhã da última quinta-feira em Temane, o governador de Inhambane, Agostinho Trinta, que na altura estava a visitar o distrito de Inharrime, sul da província, interrompeu a sua agenda para ir dialogar com os trabalhadores moçambicanos na SASOL, em Inhassoro.

No encontro, Agostinho Trinta, apelou aos trabalhadores moçambicanos para serem calmos e evitar a violência, porque o governo moçambicano está a trabalhar com o da África do Sul, na perspetiva de ultrapassar a situação de xenofobia.

Reconhecemos que o que está a acontecer na África do Sul é preocupante, mas não podemos usar a estratégia de olho por olho ou dente por dente. Temos que perdoar os nossos irmãos que estão a cometer aqueles crimes” advertiu o governador de Inhambane.

Num outro desenvolvimento, Agostinho Trinta explicou aos trabalhadores moçambicanos que há toda a necessidade de acolher os sul-africanos, o que significa continuar a trabalhar com eles nos vários projectos da SASOL.

Referiu que o governo está a trabalhar no sentido de resolver os outros problemas apresentados pelos trabalhadores moçambicanos, nomeadamente no concernente à injustiça laboral.

Para já foi criada uma comissão que vai fazer levantamento de todos os problemas arrolados na reunião na perspectiva de se encontrar soluções.

Também a direcção da SASOL, a multinacional responsável pela exploração do gás natural, está a trabalhar no sentido de aglutinar as preocupações dos trabalhadores para posteriormente encontrar saídas que não prejudicam tanto os moçambicanos como os estrangeiros.

O Director-geral da SASOL em Moçambique, Mateus Zimba, referiu que ao nível da sua instituição será feito um trabalho visando a resolução dos problemas que afligem os trabalhadores moçambicanos.

Em relação ao afastamento dos trabalhadores sul-africanos em retaliação aos actos de xenofobia, Zimba disse não ser correta a atitude dos moçambicanos, pois estão a generalizar o problema que, na África do Sul está a ser protagonizado por algumas pessoas de má-fé.

Acredito que nem todos os sul-africanos estão a favor de xenofobia e nós temos que ter em conta que a violência não resolve nenhum problema” indicou Mateus Zimba, para quem os trabalhadores nacionais deviam reconsiderar a sua posição e lutarem em ver resolvidos os problemas relacionados com as diferenças salariais e mau relacionamento.

Estima-se em cerca de 250 os trabalhadores sul-africanos afectos em vários projectos da SASOL no centro de processamento de gás natural em Temane, distrito de Inhassoro, no norte da província de Inhambane e os moçambicanos são mais de 350.

Texto de Aminosse Moisés

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