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Marcha de repúdio ao assassinato de Cistac

Por admin

A Associação dos Estudantes da Faculdade de Direito da Universidade Eduardo Mondlane (UEM) dirigiu, ontem, uma marcha de repúdio ao assassinato do Professor Gilles Cistac, onde participaram também docentes, funcionários, organizações da sociedade civil e populares.

A marcha iniciou por volta das 7 horas e 45 minutos no local onde o professor foi baleado, seguindo o percurso das avenidas Mártires da Machava, Mao Tsé tung, Kim Ill Sung, Kenneth Kaunda, avenida do Zimbabwé até desaguar na fachada frontal da Faculdade de Direito.

Ao longo do percurso a marcha foi interrompida para dar lugar a leitura do artigo 48 no números 1 e 2 da Constituição da República, que preconiza: 1. Todos os cidadãos têm direito à liberdade de expressão, à liberdade de imprensa, bem como o direito à informação;2. O exercício da liberdade de expressão, que compreende nomeadamente, a faculdade  de divulgar o próprio pensamento por todos os meios legais, e o exercício do direito à informação não podem ser limitados por censura.

Na Faculdade de Direito foram proferidas várias mensagens de solidariedade com destaque para a da filha do malogrado que agradeceu a homenagem feita em memoria do pai. “do fundo do coração este gesto tocou-me e peço-vos que continuem a mostrar à sociedade o que o meu pai vos ensinou”, disse .

O mestre Eduardo Chiziane, um dos assistentes de Gilles Cistac, falando em nome do corpo docente da Faculdade de Direito, referiu que a obra cientifica deixada pelo professor é conhecida e servirá de legado para os estudantes.

Chiziane classificou Cistac como homem de visão, de iniciativa, colaborador e trabalhador que sempre estimulou a progressão dos seus seguidores.

“Queremos destacar o lado humano do professor como amante das artes, homem de trato fácil, simples, de sorriso permanente, generoso, atencioso e que ajudava o próximo”, descreveu Chiziane.

O facto de Cistac ter construído fora do perímetro da cidade de Maputo foi interpretado por Eduardo Chiziane como uma demonstração de simplicidade, guiada pelo interesse de residir próximo dos cidadãos mais humildes.

Por seu turno, a Associação dos Estudantes da Faculdade de Direito apelaram ao respeito pelas ideias do professor assentes na interpretação rigorosa da lei .

“Convidamos a todos académicos a apoiarem o desafio de construção de um Estado de Direito democrático, condenando as tentativas contrárias a legalidade”, disseram os estudantes.

MANHÃ FATAL

Gilles Cistac saía do café (ABCF, antigo Wimbe ou Guanabara), onde habitualmente, às manhãs, tomava o café matinal e lia jornais. Segundo relatos de testemunhas oculares, passavam das 8h30 quando Cistac terminou o café e saiu para o táxi habitual que aguardava pelo professor  exactamente na esquina entre as Avenidas Mártires da Machava  e Eduardo Mondlane.

Cistac entrou na viatura (um Toyota Corolla) e quando o motorista se preparava para pôr o carro em marcha quatro individuos seguiram-no. Um deles, com uma AKM em punho, lançou uma rajada de 6 balas, das quais 4 foram directos contra o professor.

Ele ainda tentou sair do carro, mas caiu estatelado no chão, no local. Foram mais de 10 minutos fatídicos, durante os quais Gilles Cistac perdeu muito sangue.

Depois de 10 minutos é que se decidiu transportar o professor para o Hospital Central de Maputo (HCM) que dista há 200 metros do local do crime.

Já no Banco de Socorros do HCM, João Fumane, director, num rápido pronunciamento, disse apenas que efectivamente o professor continuava na sala de operações no sentido de tentar extrair as balas e assegurar outras intervenções . Contudo, não escondeu que o estado era “grave”.

Este pronunciamento era uma clara indicação de que só um milagre salvaria a vida do Professor Gilles Cistac.

Por volta das 13h30, o director do HCM, João Fumane, confirmou a morte, embora tenha ressalvado o empenho dos médicos para salvar a vida do professor catedrático.

Percurso de Cistac

Gilles Cistac nasceu a 11 de Novembro de 1961 em Toulouse, na França. Adquiriu a naturalidade moçambicana em 201, sendo, portanto, franco-moçambicano.

Foi constitucionalista inscrito na Ordem dos Advogados de Moçambique, Professor catedrático de Direito Constitucional e director-adjunto para a investigação e extensão na Universidade Eduardo Mondlane.

Desde 1993 viveu e trabalhou em Moçambique, e foi, inclusive, conselheiro de vários ministérios do Governo moçambicano.

Em 2008 liderou, como coordenador, o projecto de criação do Centro Regional de Estudos sobre Integração e Direito da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC).

Publicou diversas obras ligadas ao exercício do direito em Moçambique, com destaque para os livros “Direito Eleitoral Moçambicano” (1993), “ O Processo de Descentralização de Moçambique” (1996), “Manual de Direito das Autarquias Locais” (2001), e “O Tribunal Administrativo de Moçambique” (1997).

Foi uma figura central no debate sobre as regiões autónomas em Moçambique e descentralização do poder.

Nyusi classifica

acto de macabro

O Presidente da República, Filipe Jacinto Nyusi, expressou sentimento de consternação pela morte de Gilles Cistac, professor catedrático da Faculdade de Direito.

O estadista classificou o professor, assassinado terça-feira passada, como fifura incontornável da sociedade moçambicana. 

“O Governo, reunido em mais uma Sessão do Conselho de Ministros, tomou conhecimento deste acto macabro e condena a violência”, disseAntónio Gaspar, conselheiro presidencial, citando o Chefe de Estado.

O Chefe do Estado instruiu o Ministério do Interior para continuar as persecuções com vista a  capturar os actores deste acto, ao mesmo tempo espera que os autores sejam exemplarmente punidos.

Governo tranquiliza chancelarias

O Governo, através do Ministro dos Negócios Estrangeiros e Cooperação, Oldemiro Balói, tranquilizou embaixadores acreditados no país que os autores do crime serão punidos.

Balói garantiu perante diplomatas que os criminosos seriam localizados e levados à barra do tribunal. 

Frelimo condena o acto

A Frelimo repudiou o assassinato do constitucionalista Gilles Cistac.

Por outro lado, a Comissão política do partido distancia-se das acusações daqueles que, recorrendo a manobras dilatórias, acusam a Frelimo de ser res ponsável pela morte do académico.

Para o partido no poder , a tais manobras visam “pôr em causa a governação da Frelimo”.

O partido Frelimo saúda, no seu comunicado, a Polícia da República de Moçambique pelo trabalho que está a realizar visando esclarecimento do caso.

Jaime Cumbana
Jacumbana@gmail.com

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