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Dilúvio deixa famílias na miséria

Por admin

 

As chuvas intensas ocorridas em várias zonas do país, mas sobretudo em Maputo, deixaram centenas de famílias ao relento e criou um ambiente de luto, dor, 

sofrimento em muitas delas. Com efeito, há agregados que perderam os seus membros devido às enxurradas. Outros viram as suas casas desabaram com a abertura de vários sulcos por onde as águas passavam. Há ainda aqueles que viram autênticos rios a entrarem pelas suas casas dentro e ali assentar, impedindo que se faça a vida normalmente, nem mesmo dormir.

 

Em Maputo, o drama é tanto e indescritível. As cerca de quatro horas de bátega da última terça-feira virou todos os bairros, levando para todo o lado um ambiente de tristeza, pelo desabamento das casas, pelas enchentes, pela erosão das ruas e pela perda de bens.

São centenas de famílias que tiveram de ser reassentadas na cidade capital porque não tem condições de habitabilidade. Ou porque as casas caíram ou porque estão cheias de água difícil de evacuar.

Por exemplo, algumas famílias, cujas residências ficaram inundadas no quarteirão 21, no bairro de Maxaquene “C”, pedem a intervenção urgente das autoridades municipais no sentido de reporem a ordem, pois, para além da destruição de bens, estão expostas a doenças típicas da época chuvosa como são os casos de cólera, malária, dentre outras.

Este cenário repete-se por quase todos os bairros por onde a nossa Reportagem passou. Ali, era possível ver a tristeza nos olhos das vítimas que não têm tido dias tranquilos desde o dilúvio da última terça-feira. Há quem até hoje dorme em cima da mesa por não ter outro lugar para descansar. Por exemplo, Celeste Valoi, morador do bairro de Maxaquene “C”, mãe de cinco filhos, contou-nos que recorreu aos blocos de construção para aumentar a altura da cama, de modo colocá-la mais acima das águas que invadiram a sua casa, para conseguir dormir. “Solicitamos uma intervenção urgente das autoridades municipais para entulharem as ruas de área e ou pavimentarem e fazerem drenagens para escoamento das águas pluviais”, disse desesperada. Estes apelos sãos constantes em vários bairros da capital.

Celeste Valói acrescentou que as pessoas dormem sem cobertores, porque quase tudo está molhado. “Alguns vizinhos podiam nos acolher, mas tínhamos medo que os larápios nos roubassem o pouco que temos”, salientou.

A poucos metros do local onde conversávamos com Celeste Valoi, vimos um colchão completamente ensopado colocado estrategicamente em paus para que pudesse secar com os raios solares. 

“Perdi panelas, fogão, televisor, telefone celular, cadeiras, entre outros objectos. O colchão bem como o material escolar que tinha comprado para as crianças neste ano lectivo molharam. Enfim, perdi tudo”, lamentou Ester Simbine, moradora no mesmo bairro.

 

INFORTÚNIO NA ZONA NOBRE

 

Outro infortunado foi Kishan Radia, responsável do condomínio “Vista do Mar”, na Avenida Julius Nyerere, que manifestou o seu descontentamento ao testemunhar o desabamento, por completo, da garagem de uma das residências.

A fúria das águas arrastou as paredes construídas com recurso a betão armado, espatifando uma viatura de marca Toyota Camry 2.4, avaliada em quinze mil dólares. “Como se não bastasse, quatro indivíduos desconhecidos tentaram, sem sucesso, vandalizar a viatura espatifada que se encontra na garagem, ora destruída”, lamentou.

Jeremias Cossa, morador do bairro de Polana Caniço “A”, pai de dois filhos, mostrou-se agastado com a situação provocada pela fúria das águas pluviais, visto que a sua residência encontra-se parcialmente destruída, como muitas outras pessoas na área adjacente.

“Salvamo-nos por sorte, podemos afirmar que ressuscitamos dos escombros da casa destruída. A minha esposa ficou gravemente ferida nos membros inferiores por causa do desabamento das paredes.Agora, estamos aqui sem saber para onde é que vamos e o que vai ser de nós nos próximos dias”, disse Cossa, com lágrimas nos olhos.

Paulo Francisco, outro morador daquele bairro, contou ao domingo que viu um menor desconhecido a ser arrastado pela corrente de água sem poder fazer algo para o ajudar. O menino viria a se embater contra uma parede de vedação tendo perdido a vida no local.

“Quando tentei salvá-lo, agarrando-me a um tronco duma árvore, o menino foi rapidamente arrastado para uma distância de mais de dez metros longe de mim e não foi possível salvá-lo”.

A calamidade aliou-se ao já “velho” problema do deficiente sistema de drenagem de águas pluviais. No interior dos bairros tradicionalmente críticos, nomeadamente, Maxaquene, Mafalala, Hulene, Urbanização e Mavalane , a situação era penosa, com os residentes a abandonarem as suas casas e procurarem lugares mais seguros, pois já não tinham como enfrentar a fúria das águas que teimavam em penetrar em qualquer que fosse o espaço.

Nesses bairros, era visível o esforço de homens, mulheres e crianças, que trocaram os seus afazeres de rotina e arregaçaram as mangas, para uma batalha contra as águas que invadiram as suas residências.  

Numa ronda efectuada pela nossa Reportagem durante a semana finda, constatámos, por exemplo, que, na Avenida Milagre Mabote, as águas pluviais alagaram a vala de drenagem, galgaram as ruas e foram às residências das pessoas que tiveram que colocar os seus haveres por cima das mesas e outros móveis numa altura superior a dois metros.

As obras da Avenida Julius Nyerere não resistiram à fúria das águas. Várias infra-estruturas naquela zona foram completamente engolidas pelas águas das chuvas, sobretudo, na zona da Escola Portuguesa.

Cenário idêntico, encontramos na Avenida da Marginal, cujo passeio público foi afectado pelas correntes de águas pluviais que desciam pela Avenida Kenneth Kaunda e pela Praça do Destacamento Feminino.

 

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