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Dilúvio antes do Natal

Por admin

Benjamim Wilson e Fotos de Inácio Pereira

As cidades de Maputo e da Matola ressentiram-se dos efeitos da queda pluviolmétrica que se registou, no início da semana, desalojando diversas famílias. Velhos problemas voltaram a ser levantados. Cinco mortos e danos avultados são, para já, os resultados de cinco horas de descarga intensa de chuva, num autêntico dilúvio antes do Dia de Natal.

Por volta das 21.00 horas, da passada segunda-feira, Maputo e Matola voltaram a estar dentro de uma espécie de “teste” às suas capacidades de saneamento, tendo o quadro se apresentando severamente sombrio.

Velhas incapacidades que a capital nacional e a vizinha Matola apresentam foram colocadas em causa face à precipitação que se registou na semana passada, fruto de um efeito atmosférico que ocorreu na zona Sul do país.

Nas primeiras horas, a maior parte das pessoas partiam rumo aos postos de trabalho, quando se depararam com constrangimentos resultantes da chuva que caíra na noite anterior.

Tinha sido uma noite de ventos, trovoadas e um queda pluviométrica elevada, em resultado da presente época chuvosa que o nosso país está a atravessar, cujos resultados são dramáticos.

Foi uma noite de descarga intensa de água e os resultados tornam-se assustadores: cinco mortos, casas desabadas e vários desalojados. Ruas esburacadíssimas e com grandes sulcos. Deslocação e acumulação de areias em pavimentos. Perdas de culturas nas machambas e muitas casas a verterem por dentro.

RASTO DE DESTRUIÇÃO

As zonas suburbanas foram as que mais ficaram afectadas nas cidades de Maputo e da Matola, as quais vêm apresentando, sistematicamente, os “velhos” problemas que sempre se revelam em épocas chuvosas.

Diversas casas ficaram completamente danificadas, outras permanecem submersas, estando hoje muitas famílias a temer pelo seu futuro. Este é um cenário muito sombrio contrário ao entusiasmo que uma quadra-festiva, época em que nos encontramos, possa proporcionar.

Há mais ainda: carros estacionados em determinadas vias ficaram atolados na lama, outros arrastados pelas águas, no meio do pânico que se instalara na noite de segunda para terça-feira últimas.

O testemunho do rasto de destruição foi compulsado na manhã de terça, ao amanhecer, depois de uma temperatura em que os termómetros chegaram a atingir os 35 graus célsius.

CONFUSÃO NO TRÁFEGO

Enquanto caiam as águas da noite de segunda para a terça-feira, alguns automobilistas que circulavam viram-se obrigados a permanecer imobilizados devido à força das águas.

O sinal mais inequívoco surgiu na Estrada Nacional Número Um, zona de Zimpeto, onde o principal “cordão umbilical” em termos de infra-estrutura rodoviária, permaneceu algumas horas intransitável em virtude do deslizamento de terras ocorrido.

A principal via de entrada na cidade, que vê a Estrada Circular como uma “almofada”, ficou soterrada em determinados pontos, condicionando o tráfego na manhã da passada terça-feira.

O rasto de destruição, impediu que muita gente se pudesse movimentar naquela manhã para os respectivos postos de trabalho, tendo dedicado atenção aos constrangimentos causados pelas águas da chuva da noite anterior.

RUAS FEITO VALAS

Defeitos de implantação de infra-estruturas foram colocados em causa pela chuva, tendo muitas vias se transformado em autênticas valas de escoamento das águas que, naturalmente, procuram “reivindicar” o seu espaço.

Nas zonas suburbanas, sobretudo, muitas ruas ficaram transformadas em valas, sendo certo que, nos casos em que a água se movesse, residências foram arrastadas, incluindo bens domésticos.

O percurso das águas levou, em casos considerados graves, a que infra-estruturas familiares acabassem removidas pela corrente das águas, causando um clima de instabilidade de muitas famílias na véspera da presente quadra-festiva.

Muros e casas ficaram danificados, ficando os respectivos titulares a desfazerem-se em lamentações, nalguns casos com o inegável estado emocional de constrangimento acentuado.

A verdade é que, como pudemos ver no Zimpeto, Laulane, Guava, Albazine, na cidade de Maputo, bem como em Khongolote, Liberdade e outros pontos do Município da Matola, muitas casas acabaram arrastadas pela fúria das águas no seguimento do seu “caminho natural”.

A ZANGA DO “MULAÚZE”

A vala denominada de “Mulaúze”, que limita as autarquias de Maputo e Matola, acabou por  acomodar  uma corrente de água-forte, danificando tudo que existia no seu leito.

Diversas culturas agrícolas, maioritariamente de rendimento familiar e de cooperativistas, ficaram submersas, não tendo sido possível a recuperação de grande parte da produção.

A ligação entre Maputo e Matola ficou cortada na via do “Complexo Mulombela”, no Zimpeto, e o bairro de Khongolote, uma vez que o chamado “rio Mulaúze” arrastou as terras ao “reivindicar” o seu curso pleno.

À atenção do edil da Matola, Calisto Cossa, fica também o estado algo degradado da Ponte sobre o Malaúze na Avenida 4 de Outubro, que liga os bairros do Benfica e da Zona Verde. É que uma nova torrente, a principal e movimentada estrada que liga os municípios da Matola e Maputo, vai-se cortar, pois na referida ponte abriu-se uma enorme cratera que condiciona o tráfego e que precisa de intervenção imediata  das autoridades.

Parte do recinto “Complexo Zodíaco”, no Zimpeto, sobretudo o parque de estacionamento, viu o muro de vedação arrastado pelas águas que desaguaram no chamado “rio Mulaúze”.

As zonas baixas dos bairros Inhagóia e 25 de Junho ficaram submersas, incluindo machambas e dezenas de residências, estando hoje os respectivos ocupantes a lamentarem-se do infortúnio que os “bateu a porta”.

Cinco mortes

Pelo menos cinco vítimas humanas foram registadas na sequência da chuva intensa que se abateu sobre a cidade de Maputo. Segundo dados oficiais, três das vítimas pertenciam aos Distrito Municipal de Maxaqueni e, as restantes, ao Distrito Municipal de Ka Mubukwani, todos na capital do país.

Entretanto, a vereadora de Saúde e Acção Social do Conselho Municipal de Maputo, Nurbay Calú, disse que, mesmo tendo em conta o cenário actual, ainda não havia necessidade de abertura de centros de acomodação no Município de Maputo.

Muita água

em apenas cinco horas

A duração da queda pluviométrica foi de cerca de cinco horas, noite dentro, tendo deixado para trás, como já referimos, um rasto acentuado de destruição.

Segundo soubemos junto do Instituto Nacional de Meteorologia (INAM), a precipitação verificada e que abalou Maputo e Matola atingiu o pico de 152.3 milímetros.

O pico máximo de precipitação foi registado na Estação de Mavalane, na cidade de Maputo, depois de, até cinco antes do “dilúvio”, os níveis de precipitação terem se situado a pontos considerados “aceitáveis” para a presente época chuvosa.

De acordo com o INAM, o evento atmosférico registado foi muito extremo, comparado ao verificado em 2013, altura em que atingiu 157 milímetros. Estes níveis estão situados a uma escala fora de controlo de um serviço meteorológico.

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