Pouco se aprende com a vitória mas muito com a derrota

Muitas vezes damos importância demais para problemas que não afectam as nossas vidas em nenhum sentido. Outras vezes ficamos assustados com o que vai acontecer com o nosso futuro, e esquecemos de que nem o passado nem o futuro importam, apenas o presente. E, presentemente, parece que as coisas começam a ganhar forma em sede de diálogo. O Governo e a Renamo parecem, finalmente, ter encontrado o ponto de apoio para, com uma alavanca, fazerem a viragem.

Há, entretanto, pontos por alinhavar mas, no essencial, o diapasão é o mesmo: a urgência da paz e da tranquilidade a que nos habituamos nos últimos 21 anos. Para isso, exige-se o calar de armas em toda a extensão territorial. Há que parar com os massacres aos civis e a destruição de bens quer privados, quer públicos. A desculpa de que os “chapas” transportam militares não é nada mais, nada menos do que uma desculpa para aqueles que têm o gatilho fácil exercerem a barbárie.

Para já o recenseamento, depois de um interregno solicitado pela Renamo arrancou. É o primeiro sinal de que a coisa está a andar. É pouco, diga-se em abono da verdade, mas é um sinal. É uma luz – ainda que tremelicante – no fundo do túnel.

Ainda que redundante, importa frisar que o arranque do recenseamento indica que ao nível da Comissão Nacional de Eleições (CNE) e do Secretariado Técnico da Administração Eleitoral (STAE) também foram alcançados alguns consensos. Ao que se sabe a Renamo vai propor ao Parlamento a reformulação da actual composição da Comissão Nacional de Eleições (CNE) desde o nível central ao distrital de modo a serem integrados elementos ligados à esta formação política bem como no Secretariado Técnico da Administração Eleitoral (STAE). Equilíbrio mas sem paridade é o tónico aplicado neste quesito.

A ideia central é que as eleições tenham lugar dentro dos prazos oficialmente estabelecidos. Qualquer adiamento deste processo pode atiçar ânimos e desencadear “revoluções” localizadas que em nada nos irão beneficiar. O Governo, ciente do seu papel, já abriu mão de uma série de coisas. A paz é mais importante do que os interesses dos homens individualmente ou em grupos. Convenhamos; não é um exercício fácil ceder em mais de 90 porcento das petições de outrem… mesmo num jogo de berlindes!

Mas há ainda detalhes que preocupam. Em sede de diálogo, a Renamo faz exigências com uma mão, mas com a outra dá bordoadas. Em resposta, semana última as FADM fizeram uma incursão pela Serra de Gorongoza onde se presume que Afonso Dhlakama esteja refugiado. Não tardaram vozes dissonantes a reclamarem que “a operação tinha por objectivo último, assassinar o líder da Perdiz”. Quer dizer uns podem andar aos tiros mas os outros têm de aumentar a largura do sorriso. A parte incerta onde se esconde Dhlakama é a serra? De qualquer modo, parece-nos que as FADM não fazem mais do que cumprir com a sua missão… cabe ao Estado garantir a segurança dos cidadãos.

Apesar de todos os problemas, todas as confusões, não podemos deixar que o nosso presente seja abalado. Afinal dele depende o futuro. Aliás, a vida é uma só, e não existe passado nem futuro se não cuidarmos do presente. Ainda há tempo de sermos felizes. Todos. Sem excepção. Quem ganha, em qualquer disputa, pouco aprende porque despende muito tempo a celebrar.

Lá ensinava Maquiavel que há três espécies de cérebros: uns entendem por si próprios; os outros discernem o que os primeiros entendem; e os terceiros não entendem nem por si próprios nem pelos outros; os primeiros são excelentíssimos; os segundos excelentes; e os terceiros totalmente inúteis.

Simples como isso. Podemos sim ser excelentíssimos e alçarmos voo rumo a um futuro melhor. Basta cuidarmos do presente!