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O xitique que está a dar!

Por admin

Xitique é o nome que as populações da região sul do país ofereceram a uma operação simples de poupança rotativa com um elevado cunho social pois, para além das

contribuiçõessemanais ou mensais, os membros do grupo aproveitam o ensejo para se divertirem em ceia longa e regada a preceito. No distrito de Mogovolas, em Nampula, a população faz o mesmo mas, inclui a componente crédito que faz com que a sua poupança cresça e, no final do ano, realizam sonhos que de outro modo seriam inatingíveis. 

A ideia foi importada pelo Fundo de Apoio à Reabilitação Económica (FARE) e aprovada pelo governo, pelo que consta do programa de governação do Presidente Armando Guebuza, dado que gera resultados palpáveis no que se refere à geração de renda, produção alimentar, em suma, no combate à pobreza.

Por via de organizações não-governamentais, que funcionam como provedores de serviços, o FARE levou a iniciativa a várias províncias e, no caso de Nampula, a experiência foi replicada com esmero em Nametil, sede do distrito de Mogovolas, onde existem 614 grupos.

O que impressiona por ali é que alguns grupos são compostos por elementos que nunca tinham conseguido fazer poupanças de pelo menos 10 mil meticais por ano mas, dados os êxitos alcançados pelos membros da agremiação que leva o sugestivo nome de “Grupo Combate à Pobreza”, muitos levaram o assunto a sério e hoje estão a colher os frutos.

Aqui, os integrantes tem ambições bem definitas e não poupam esforços para alcançar as metas que quase sempre começam pelo desejo de ter uma casa feita de tijolos ou blocos de cimento e coberta com chapas de zinco. Quem consegue realizar este sonho não esconde o feito. “Consegui chapar a minha casa”, dizem felizes da vida.

Ao projecto de construção de casa condigna, com “quatro águas”, o mesmo que quatro caimentos, segue o plano de melhorar a qualidade física da banca ou barraca e reforço do recheio com produtos mais apelativos, isto para quem tem a vida entrosada no ramo comercial. Porém, para os que dependem da agricultura e pecuária, o sonho é adquirir gado bovino, caprino e galináceo e ampliar a machamba.

Porque “cada homem é uma raça”, como diz o escritor Mia Couto, naquele meio rural há quem aplique os ganhos nas propinas, alimentação e material didáctico de filhos que frequentam o ensino secundário e superior, aquisição de meios de transporte, entre outros.

Entretanto, o Grupo Combate à Pobreza evidencia-se por ser uma espécie de cabeçalho dos demais, dadas as ideias que fervilham entre os seus membros que, por exemplo, decidiram que a poupança e juros deste ano serão guardados para a aquisição de um bem colectivo. Ainda tentaram fazer suspense para a nossa equipa de Reportagem mas, porque os conhecemos muito bem, desvendamos imediatamente o mistério. “Querem comprar uma camioneta”, dissemos.

Conforme apurámos no local, a viatura poderá facilitar a participação da colectividade na comercialização da castanha de caju de que o distrito de Mogovolas é excelente produtor e imprimir uma nova dinâmica na actividade comercial, pecuária e agrícola de cada um dos integrantes do grupo.

Num passado recente este grupo revelou à nossa equipa de Reportagem que estava a enfrentar dificuldades para realizar operações bancárias de tipo consultas de saldo, transferências e depósito por via da plataforma electrónica conhecida por mKesh pois, os telemóveis da maioria dos elementos eram incompatíveis, os chamados “fonkon”.

Entretanto, e passados cerca de dois meses após a nossa visita à Nametil, o número de telefones celulares com problemas reduziu drasticamente porque quase todos reuniram fundos para adquirir novos telemóveis que facilmente acedem ao sistema e permitem a realização das operações com sucesso.

Numa espécie de balanço da participação individual, Eduardo Luís, que é um pequeno comerciante de amendoim, feijão e castanha, conta que graças a esta iniciativa conseguiu reunir fundos para a construção de uma casa feita de blocos de cimento e coberta de chapas de zinco. “Quando comecei a fazer parte do grupo, em 2007, vivia numa cabana coberta de capim. Dei um grande salto na minha vida porque realizei um dos meus sonhos.

E mesmo a propósito de sonhos, a activista dos grupos de Poupança e Crédito Rotativo, Abiba António, despiu-se de preconceitos e demonstrou que as mulheres também podem comprar e criar gado bovino. Com a poupança de 2010 e 2011 adquiriu uma cabeça ao preço de 17 mil meticais e já tem outras duas que foram paridas recentemente.

Acho que esta foi uma excelente iniciativa do governo porque muitas mulheres que não dispunham de recursos para desenvolverem actividades económicas agora dirigem negócios prósperos”, disse enquanto orientava o gado próximo de um riacho do interior de Nametil.

Para além de ajudar na organização de grupos, Ancha e outros 26 activistas realizam sessões de formação em matérias de interesse das colectividades, nomeadamente acerca da poupança e gestão do crédito, bem como questões atinentes ao planeamento familiar, género e HIV/SIDA.

Marques Jamal, também é membro do Grupo Combate à Pobreza e afirma que está a preparar o seu projecto de construção de uma casa que será feita de blocos de cimento ora fabricados por si, ora adquiridos no mercado local. “A par do material de construção venho investindo nas minhas bancas onde vendo produtos agrícolas.

Por seu turno, o casal Ancha Suleimane e Fernando Victor, que se dedica à venda de roupa usada, celebra o facto de ter conseguido sair da cabana coberta de capim para uma casa de blocos e coberta de chapas de zinco. “Foi um grande salto feito com base nas nossas poupanças pois, ambos fazemos parte do Grupo Combate à Pobreza”, dizem.

Jorge Rungo

jrungo@gmail.com

 

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