Angelina Mahumane e Fotos de Jerónimo Muianga e Carlos Uqueio
A Indústria nacional de produção de embalagens continua trémula e a operar assim-assim. Seis anos depois do antigo Presidente da República, Armando Guebuza ter recomendado a realização de reformas com vista a melhoria da imagem da apresentação dos produtos nacionais, sobretudo os agro-processados, todas as mudanças que foram operadas continuam a não satisfazer o mercado. Vai tudo devagar devagarinho.
Em finais Agosto de 2009, o antigo presidente Armando Guebuza inaugurou a quadragésima quinta (XLV) edição da Feira Internacional de Maputo (FACIM) e constatou que a maior parte dos produtos nacionais tinham um problema comum. A embalagem.
Farinhas, feijões, amendoim, castanha de caju, piripiri, entre outros eram até àquela altura embrulhados, expostos e vendidos em sacos de plástico, latas e garrafas apanhadas por aí porque o mercado nacional não produzia invólucros específicos para cada produto.
Na época, o Ministério da Indústria e Comércio (MIC) andava às voltas à procura de investidores interessados em recuperar a falida Vidreira, empresa que, até finais da década 80, era um estandarte do fabrico de embalagens de vidro para uma vasta gama de produtos nacionais e até mesmo para alguns países da região. Porém, e para a tristeza geral, a Vidreira continua com as portas encerradas até hoje.
Depois da constatação feita pelo antigo presidente Guebuza, o ministro da Indústria e Comércio da época, António Fernando disse que o governo agiria em três frentes, nomeadamente na retoma da Vidreira (que até hoje não deu em nada), na atracção de investidores para o sector de vidro, papel e plástico e na compensação dos potenciais investidores com incentivos de vária ordem, incluindo em impostos.
Por outro lado, foi anunciado que o Instituto para a Promoção de Exportações (IPEX) tinha realizado um estudo em parceria com o Centro de Comércio Internacional (CCI), baseado em Genebra, na Suíça, o qual permitia ter uma visão geral das necessidades de embalagens nas cidades de Maputo, Beira e Nampula, onde se concentram as principais indústrias do país.
Volvidos cerca de seis anos, o sector continua titubeante e sem investimentos de vulto. Consta que surgiram cerca de 100 empresas, mas, até, aqui, o sector de vidro permanece profundamente adormecido e, as recém-nascidas são anexas às linhas de processamento dos produtos que devem ser embalados.
Consta que Com vista a tentar minimizar a falta de embalagens, o governo indiano terá oferecido a Moçambique 23 unidades integradas na área do agro-processamento, unidades essas que incluem a componente da embalagem. Espera-se que o processo de construção comece ainda no primeiro semestre deste ano.
Ainda na perspetiva de fazer face à falta de invólucros adequados para os produtos nacionais, a nossa Reportagem apurou que para além do acesso aos benefícios fiscais, o governo terá criado um incentivo (pouco divulgado) que minimiza o custo da produção através do estabelecimento de isenções na importação de matéria-prima quando se trate de uma actividade transformadora industrial.
CENTRO DE EMBALAGENS
Enquanto se procuram soluções para este dilema, o mercado continua a assistir a um quadro onde as embalagens produzidas localmente apresentam preços assustadores para a clientela ligada ao ramo do agro-processamento que se vê inibida de adquirir, por exemplo, frascos novos e mais atractivos.
“Uma das coisas que queremos é ter um centro de desenvolvimento da embalagem, na forma de parceria público-privada, onde podíamos ter várias unidades de micro processamento de embalagem, em que uma associação de produtores possam adquirir a preços aceitáveis”, disse Claire Zimba, director geral do Instituto para a Promoção de Pequenas e Médias Empresas (IPEME).
A par desta iniciativa, o IPEME tem apostado na realização de uma feira internacional de embalagem, que já vai na sexta edição, que é uma plataforma dentro da qual se coloca o potencial de oferta de produção de embalagem e o sector gráfico que traz os elementos que são estratégicos na dinamização do uso desta, nomeadamente rótulo, design, código de barras e outros.
Segundo Claire Zimba, director geral do IPEME, a feira pode ajudar a introduzir um conceito muito difícil que consiste no sistema de compras de embalagens em grupo. “Na cadeia de produtos, que sabemos que usam embalagem de vidro, por exemplo, é possível sentar com os produtores, procurar saber a média de consumo de embalagens semanal ou mensal para fazer uma encomenda única. Isso reduz custos porque facilita na negociação”, disse.
Durante o certame, que tem tido uma participação de 15 a 60 produtores, número tido como aceitável para a realidade nacional, uma das missões dos organizadores é de explicar aos expositores internacionais que existe mercado em Moçambique onde podem investir, especificamente na embalagem de vidro que é muito competitivo e de menos riscos de ponto de vista ambiental.
O nosso interlocutor defende que investir em feiras como mecanismo de acesso ao mercado é uma forma de continuar a trazer a discussão sobre a embalagem.
RECICLAR
domingo apurou que a sexta edição da Feira Internacional da Embalagem, vai decorrer entre os meses de Julho e Agosto e que uma das prioridades para este ano é explicar como é que se pode reutilizar uma embalagem em condições higiénicas, com segurança e em condições também competitivas.
“É possível usar uma embalagem, recicla-la em condições seguras e adquirir uma tampa nova no mercado. Esta é uma forma não ideal, mas alternativa, enquanto não temos uma capacidade de oferta a custos bonificados do uso da embalagem”, explicou Claire Zimba.
Para a edição deste ano da Feira Internacional de Embalagens está prevista a presença de dois oradores estrangeiros, nomeadamente da Argentina e Portugal que vão explicar o valor e a importância da embalagem. Outro painel será constituído por empresas produtoras de embalagens que vão dar a conhecer o tipo de produto que fabricam e quais são as condições de aquisição dos mesmos.
Num outro momento, será abordada a questão da adesão de Moçambique ao Código de Barras, que está a ser tramitado pela Confederação das Associações Económicas (CTA) e por uma entidade conhecida por GS1-Moçambique que é responsável por gerir o sistema de atribuição deste código.
Por outro lado, os participantes ficarão a saber como adquirir o Código de Barras de forma alternativa, de modo a evitar que os produtos nacionais sejam recusados nos supermercados por falta deste dispositivo.
Aliás, o nosso jornal apurou ainda que, a partir da plataforma da GS1-Moçambuique, podem ser usados códigos de barras alternativos de países como Bélgica, Portugal, Quénia e África do Sul.
Durante a feira que se avizinha, o Instituto de Propriedade Industrial (IPI) vai se pronunciar sobre os elementos estratégicos que dinamizam a questão da embalagem, nomeadamente a importância de ter uma marca na embalagem. “Porque pode ser uma boa embalagem, mas se não tiver uma cara expressiva que a identifica, não vende”.
O Ministério da Saúde também será convidado a explicar ao produtor que para além de comprar a embalagem, deve colocar um rótulo com uma combinação de especificações técnicas que asseguram a descrição do produto.
Angelina Mahumane
fotos de Jerónimo Muianga e Carlos Uqueio