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Chuva destrói mais de 105 mil hectares

Por admin

As chuvas que se fazem sentir, desde o mês de Dezembro, um pouco por todo o país, mas com alguma incidência, desde Janeiro, nas zonas Centro e Norte, além de destruir infra-estruturas diversas como estradas, pontes e postes de transmissão de energia eléctrica, afectaram machambas deixando milhares de famílias dependentes de ajudas.

Dados em nosso poder indicam que os efeitos das cheias que ocorreram ao nível de todo o país, com algum ascendente para a zona centro, nomeadamente Zambézia e um pouco na província de Sofala, nas bacias de Licungo e do Zambeze, afectaram mais de 105 mil hectares afectados, correspondente a 82.200 famílias. Ao todo, são dois por cento de toda a área que Moçambique está a produzir na campanha 2014/2015.

Na Bacia de Licungo e um pouco na zona centro as chuvas foram persistentes. Em pouco mais de dez dias, a precipitação foi de mais de mil milímetros, o que significa que foram chuvas na ordem de 90 a 100 milímetros por dia, tendo afectado na Zambézia distritos como Maganja da Costa, Namacura e Nicuadala. Outros distritos afectados pelas águas do Vale do Zambeze foram Luabo e Mopeia.

O Director Nacional Agricultura, Mahomed Valá, garantiu que terminadas as cheias vão aprovisionar sementes diversas, sendo que estão em curso trabalhos no sentido de se fazer o levantamento das quantidades disponíveis e certificadas no país, sobretudo das culturas mais afectadas, nomeadamente milho, feijão vulgar e mandioca, que são a bandeira deste ponto do país.

Para o caso da mandioca vai implicar irmos buscar estacas de alguma qualidade, o que é possível encontrar nas próprias províncias e atribuir as populações para induzir um outro espectro na produção de mandioca, temos que ter em conta que 58 por cento da população da província vive a base desta cultura”.

Numa primeira fase, serão adquiridas mais de 400 toneladas de milho para as províncias da Zambézia, Sofala e Tete.

No entanto, na zona sul não houve grandes alaridos, embora a província de Maputo exija uma atenção maior nos distritos de Calanga, Josina, um pouco abaixa do distrito de Manhiça e algumas baixas no distrito de Magude. Mesmo assim, os estragos são mínimos se comparados com as inundações do Vale de Incomati, no ano passado. A população afectada também terá apoio e assistência técnica do Ministério da Agricultura (MINAG).

Para além de culturas, houve gado bovino e caprino que sofreu na zona centro, sobretudo na bacia do Licungo, dai que foram disponibilizadas algumas drogas e vacinas para imunizar os animais, pois não muitos deles foram deslocados do seu habitat.

Outro caso que aconteceu, na província de Manica, foi o ataque da lagarta invasora, numa área de 1050 hectares. O MINAG prontamente disponibilizou produtos para atacar. As culturas daquela área foram perdidas, por isso, a população também vai receber sementes, sobretudo de milho.

Segurança alimentar

domingoapurou que foi formada uma equipe multidisciplinar que está a fazer avaliações relacionadas com a segurança alimentar. “Só depois desta avaliação podemos falar com mais propriedade. Posso dizer que no caso da Bacia do Licungo, águas naquela quantidade e natureza, pressupõem sempre que as populações não vão ter alimentação adequada, como consequência de algum défice que possa existir, mas não significa que tenhamos bolsas de fome”, referiu Mahomed Valá.

Para o nosso interlocutor, a assistência prestada aos afectados pelas enxurradas não é igual ao que uma família produz, num ambiente regrado. Dai que a intervenção daquele sector agrário é para que as populações não criem o hábito de pedinte. “Fazemos uma intervenção de desenvolvimento de tal forma que a princípio de Março sementes de qualidade aceitável estarão a chegar para as populações. Isto significa que até Maio, no caso de hortícolas e alguns feijões, estarão no mercado”.

Em termos de perspectivas de produção para a presente campanha agrícola, espera-se que não fuja muito daquilo que foi no ano passado, onde foram colhidas mais de dois milhões de toneladas de milho, cerca de 340 mil toneladas de arroz em casca.

A produção de feijão esteve situada em 738 mil toneladas. A colheita de tubérculos registou um crescimento tímido, no entanto ascendeu ao planificado. Outra cultura que esteve em baixa foi o tomate que foi afectado por algumas doenças. “Estamos a falar de um crescimento geral na actividade agrícola na ordem de 9.6 por cento, mercê ao ambiente agro-climático que o país viveu no ano passado”.      

Arroz perdido

A nossa Reportagem apurou que na zona sul do país não houve problemas com a produção, embora ainda não tenha a previsão de quantidades, pois decorre a época das sementeiras. Nas bacias do Buzi e Púngue também não ouve problemas.

O problema definitivamente está na Bacia de Licungo. Sabe-se que Namacura e Maganja da Costa disponibilizam cerca de 15 por cento da produção de arroz de todo o país. Poderá haver alguma recuperação, pois a sementeira continua até meados de Fevereiro.

Segundo Valá um dos desafios que existe para a cultura do arroz consiste em minimizar, num período de dez anos, os efeitos da importação, o que por sua vez vai melhorar a balança comercial. “Há muitos investimentos que vão entrar em Moçambique para a cultura do arroz, mas estes vão catapultar aquilo que é o pensamento do produtor nacional. O aspecto mais importante sobre isto é que temos que fazer uma luta muito forte para nos próximos anos reverter aquilo que é o rendimento por hectare”.

Outro desafio está em os produtores moçambicanos conseguirem colher, não menos que, 3.5 e 3.8 toneladas por hectare, uma vez que abaixo disto é difícil, pois os custos de produção e os benefícios que tiram da mesma não dão um a vontade de dizer que o produtor ganhou dinheiro. Aliás, é importante lutar para que o arroz seja também um negócio, seja uma cultura viável economicamente e competitiva.

Dados em nosso poder indicam que os moçambicanos consomem mais de 650 mil toneladas, enquanto isso a produção em casca, no país, situa-se em cerca de 360 mil toneladas, ou seja, a nível nacional já se produz metade do arroz importado.

Não me importaria que nos próximos dez anos diminuíssemos as quantidades importadas, podemos continuar a importar um quarto do arroz que introduzimos hoje, estamos a falar de mais ou menos 150 (no máximo 180) mil toneladas. Temos a vantagem de o nosso arroz ser mais competitivo que o asiático”.

A título de exemplo, existem algumas empresas a nível da África Austral, sobretudo sul-africanas, nomeadamente os supermecados Spar e Soprite, que tem vindo procurar arroz produzido em Moçambique.

Na África do Sul não gostam de consumir um arroz que ficou um ano no armazém, preferem o fresco. Podemos não conseguir eliminar o défice mas o mais importante é pensar na balança comercial. Posso importar mas a qualidade do meu arroz também posso exportar pelo menos para o mercado regional e, assim, a balança comercial começa a ser viável”, afiançou Mahomed Valá.

Reposição de regadios avaliada

em 35 milhões de dolares

Segundo Mahomed Valá, para repor os regadios do Nanti, Mundamunda e Intabu são necessários mais de 35 milhões de dólares. “Não é nada em relação aquilo que será injectado nas estradas, pontes e outras infra-estruturas, mas é o sector produtivo que está em causa”, disse.

Outros regadios como são os casos de Namacurra, Mongonhane, Mutange já estavam a produzir em pleno a cultura do arroz, cerca de três mil hectares, também ficaram destruídos, será preciso um investimento na ordem de seis milhões de dólares.

Valá acredita que estes investimentos vão acontecer paulatinamente na medida dos planos económicos sociais, cenários fiscais de médio prazo, recursos financeiros disponíveis tanto do doador como do orçamento.

O Regadio de Thewe, em Mopeia também está alagado, a estação de bombagem idem, parte de Luabo está debaixo da água, perderam-se as culturas, rompeu-se, de alguma forma, o dique de defesa que protege da intrusão das águas quando o nível das águas do Rio Zambeze sobe para mais de três mil metros cúbicos por segundo.

Estes regadios poderão estar prontos para a campanha 2015-2016. O sector da agricultura vai adquirir algumas enxadas, catanas e alguns instrumentos porque aquele volume de água levou utensílios de trabalho da nossa população”.

Angelina Mahumane

vandamahumane@gmail.com

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