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BM inverte ambiente monetário

Por admin

O Banco de Moçambique (BM) anunciou há dias que tomou algumas decisões orientadas para inverter, de forma provisória, o actual ciclo de política monetária que se caracteriza pela fragilidade do metical face ao dólar e à debilidade da economia nacional perante os choques externos.

Com efeito, e segundo Waldemar de Sousa, administrador e porta-voz do Banco de Moçambique (BM), o Comité de Política Monetária (CPMO) entendeu que estavam reunidas as condições temporais para inverter o ciclo da política monetária.

Segundo a fonte, nos últimos quatro anos, o BM esteve a observar um ciclo de política monetária de certo modo acomodatícia, ainda que com alguma tendência e vigilância sob o comportamento do principal indicador de referência que é a inflação.

Tendo em conta a conjuntura externa, que se mostra pouco favorável à nossa débil economia e moeda, o CPMO decidiu iniciar em Outubro um ciclo de política monetária mais restritiva com a finalidade de “contrariar esta tendência de choques”.

Assim, e com efeitos imediatos, foram ajustadas as taxas de intervenção no Mercado Monetário Interbancário, incluindo a taxa de Cedência de Liquidez para 7.75 por cento. No mesmo quadro foi elevada a taxa permanente de depósitos de 50 pontos base para dois por cento e ajustado em alta o coeficiente de reservas obrigatórias de 100 pontos base para nove por cento com efeito a partir do período de constituição de reservas que inicia a 7 de Novembro do presente ano.

O que o BM espera com estas medidas é prevenir o efeito do fortalecimento do dólar no mercado e conferir uma nova dinâmica economia, controlar a inflação, entre outros, pois, “continuamos a assistir a tendência do fortalecimento do dólar americano no mercado internacional”.

Vários factores pesaram para que o BM tomasse estas decisões, entre eles a tendência de queda de preços de mercadorias no mercado internacional, mesmo perante uma realidade em que os preços dos cereais estejam a registar tendências de aumento.

A título de exemplo, o milho e o arroz estão a registar aumento nos últimos três meses, contrastando com a tendência de queda de preços do alumínio, gás, carvão térmico e outras mercadorias que Moçambique exporta.

Também pesou o facto do Produto Interno Bruto (PIB) nacional ter registado um crescimento nos primeiros seis meses deste ano, em 6.3 por cento, mas, este crescimento situa-se abaixo do ocorrido em igual período do ano passado, onde se situou em 6.8 por cento.

No que se refere ao metical, o BM entende que a moeda nacional está sob forte pressão no mercado cambial a ponto de ter registado uma depreciação de 45 por cento do começo do ano até ao dia 23 de Outubro, sendo que a depreciação anual se situou em 35 por cento, isto em relação ao dólar.

Porque este fenómeno não é isolado, ou seja, que esteja a ocorrer apenas em Moçambique, Waldemar de Sousa aponta que a moeda da Zâmbia, o kwasha também depreciou em cerca de 90 por cento, o rand, da África do Sul, sofreu uma depreciação de 22.7 por cento.

Nas economias mais avançadas, a depreciação também está a corroer o euro, face ao dólar, em 13 por cento, o real, do Brasil desvalorizou em 61.5 por cento, o rublo, da Rússia também perdeu peso em 65 por cento.

Enquanto o dólar segue fortalecido, o ambiente macro-económico nacional prossegue caracterizado pelo agravamento do défice da conta corrente da balança de pagamentos que agravou em 3.9 por cento, o que gerou um saldo negativo de 2 mil 507 milhões de dólares.

Ainda neste domínio, o BM aponta que se forem excluídas as operações dos grandes projectos o défice da nossa conta corrente agrava ainda mais em 951 milhões de dólares, para aproximadamente 66.3 por cento.

Registamos uma queda nas nossas receitas de exportações. Se incorporamos os grandes projectos, a queda é de 4.2 por cento, correspondente a um bilião e 762 milhões de dólares até Junho. Excluindo os grandes projectos as exportações tradicionais moçambicanas mantêm-se praticamente inalteradas quando comparadas com igual período do ano passado, pois, registamos o volume de exportações de 704 milhões de dólares, aproximadamente idêntico a Junho de 2014”, disse Waldemar de Sousa.

Neste mesmo domínio, das exportações, a fonte referiu que se olharmos para os produtos tradicionais em 2015, o tabaco e a castanha de caju são praticamente os únicos produtos que registaram melhor desempenho comparado com 2014.

No que se refere às exportações dos grandes projectos, mesmo perante a conjuntura internacional de queda, o preço de alumínio registou uma melhoria ténue 505 milhões de dólares nos primeiros seis meses deste ano contra 494 milhões de dólares do ano passado.

Na vertente inversa, se forem incluídos os grandes projectos, as importações totais realizadas em todo país caem 4.5 por cento para uma fasquia de 3 biliões 470 milhões de dólares americanos. Excluindo os grandes projectos as importações tradicionais moçambicanas aumentam em cerca de 17 por cento para dois biliões e 972 milhões de dólares norte-americanos.

Este ano observamos uma maior importação de bens de consumo, principalmente de cereais quando comparado com igual período do ano passado. Não estamos alheios as intempéries naturais que registamos no início do ano”, sublinhou.

No que tange à importação de combustíveis líquidos, que é o item de peso nas importações moçambicanas, Waldemar de Sousa disse que devido às quedas dos preços internacionais, registou-se uma menor factura de importação de combustíveis líquidos no primeiro semestre deste ano, quando feita a comparação com igual período do ano passado.

Perante esta conjuntura adversa as Reservas Internacionais Líquidas do BM tem estado sob pressão. Até ao mês de Setembro registamos uma queda em 585 milhões de dólares americanos, para o saldo de dois biliões e 308 biliões de dólares que é equivalente a 3.4 meses de cobertura de importações de bens e serviços não factoriais”, disse Sousa.

Entre as razões que estão por detrás desta pressão uma maior pressão que estamos a enfrentar sobre as reservas internacionais líquidas inclui-se a menor disponibilidade de divisas no mercado cambial moçambicano que resulta de menores exportações e a tendência geral de queda dos preços de mercadorias e pelo aumento do serviço de dívida externa pública.

Por causa disto, as reservas internacionais foram chamadas a acudir a factura dos combustíveis numa maior proporção quando comparado com o ano anterior, o que traduz maiores dificuldades do sistema bancário do ponto de vista de ofertas e divisas.

O pior é que as reservas internacionais, quando avaliadas em dólares norte-americanos perante o euro, e vice-versa, também sofrem o efeito da corrosão, pese embora o país tenha reservas constituídas em euro, ouro e outras moedas, incluindo o próprio dólar.

Outros elementos que se associam aos fenómenos aqui descritos incluem a entrada e saída de capitais do mercado cambial moçambicano, onde se observa que este ano a ajuda externa que temos estado a receber dos parceiros de cooperação internacionais menos 11 milhões de dólares quando comparado com igual período do ano passado.

O Investimento Directo Estrangeiro em 2015, até Junho, também foi inferior em 396 milhões de dólares quando comparado com Junho do ano passado e, como se isso não bastasse, neste ano o país não beneficiou de entradas de impostos de mais-valias quando em 2014 havia recebido 520 milhões de dólares de receitas de mais-valias.

Sob ponto de vista de saída de divisas, o serviço da dívida externa pública foi superior em 116 milhões de dólares que o ano passado. A pressão sobre as reservas para a comparticipação na factura dos combustíveis líquidos, mesmo perante a conjuntura de queda dos preços internacionais, este ano o país contribuiu para esta factura em 432 milhões de dólares americanos contra 342 milhões de dólares do ano passado.

Entre outras análises, o BM aponta para o futuro com cautela uma vez que defende que este ano, o indicador de inflação vai respeitar os compromissos previamente estabelecidos de uma inflação em redor dos 5 por cento no final do ano. Porém, o próximo ano poderá ser mais delicado.

Para 2016 há sinais claros de que vamos enfrentar maiores pressões sob ponto de vista de variação dos preços. As nossas previsões são de que a inflação em 2016, caso não tomemos medidas para contrariar, possa ser superior em relação ao que está previsto para os finais deste ano e que a mesma poderá superar a média dos últimos três anos”, concluiu.

Angelina Mahumane
vandamahumane@gmail.com

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