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“A CPLP é um mercado Potencialmente robusto”

Por admin

– Salimo Abdula, Presidente da Confederação Empresarial da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CE-CPLP)

Eleito há sensivelmente um mês para um mandato de quatro anos, Abdula garante que a CPLP é um mercado extraordinário e tem tudo para ser líder do mercado planetário. É que só o sector do oil & gas poderá, proximamente, representar entre 25 e 27 porcento do mercado mundial. Aliado a isso, cerca de 30 porcento da terra arável do planeta localiza-se em Moçambique, Brasil, Angola e Guiné-Bissau. O volume de comércio na CPLP em 2013 foi acima de mil milhões de dólares.

A CPLP é um mercado fraco ou robusto?

É um mercado potencialmente robusto. É formado por países emergentes e com grandes potencialidades para de forma colectiva ser líder do planeta.

Num horizonte de quantos anos?

Aproximadamente 20 anos. Para que isso se concretize é necessário que a CPLP esteja coesa e siga a estratégia que nós como confederação empresarial definimos, nomeadamente a abertura da livre circulação de pessoas e bens.

Temos a expectativa que só o sector de oil & gas possa vir a representar cerca de 25 a 27 porcento do mercado mundial. Se nos debruçarmos sobre o sector agrícola, verificamos que cerca de 30 porcento da terra arável do mundo está nos nossos países, nomeadamente Moçambique, Brasil, Angola, Guiné-Bissau, digamos que os mais visíveis.

Que vantagens os nossos países podem tirar?

Com o crescimento da classe média e alta as pessoas vão querer comer mais e melhor e a produção de alimentos vai ser um grande desafio. Por exemplo, a produção da carne no mundo dentro de duas décadas vai mais do que triplicar. Nós como mercado CPLP temos que saber tirar proveito disso porque temos terra, água e recursos naturais.

A nossa estratégia passa também pelo processo de agregar valor aos recursos dentro dos nossos países, criar projectos comuns, e oferecer ao planeta produtos da marca CPLP. O lema que temos estado a defender é que “sozinhos vamos mais rápido, mas juntos vamos mais longe”. Os líderes políticos têm que por os tabus de lado e olhar para a sobrevivência da competitividade global.

A dispersão geográfica dos países da CPLP é ou não um handcap para os empresários?

Vejo isso como uma benesse. Somos a única comunidade representada em quase todos os continentes. Obviamente que isso traz desafios, mas também grandes oportunidades. A maioria dos nossos países é banhada pelo mar que pode ser usufruído para pesca, turismo, produção de energia, produtos que têm grande procura a nível mundial.

Gostava de referir que a CPLP, via Confederação Empresarial, foi reconhecida na última Cimeira dos Chefes de Estado e de Governo dos nossos nove países realizado em Díli, Timor-Leste, como parceiro estratégico para o desenvolvimento socioeconómico das nações. Temos a responsabilidade de unir projectos, de unir os empresários para que possam trazer soluções económicas, de responsabilidade social, e fazer transferência de tecnologias entre os nossos países de forma a criar projectos sustentáveis e assumir a mão-de-obra disponível e jovem sobretudo nos Países Africanos de Língua Portuguesa (PALOP’s).

Que outros desafios se vos coloca?

Estamos a trabalhar com a CPLP para depositar algumas ideias na próxima reunião do Conselho de Ministros das Administrações Internas. O objectivo é que o nosso mercado tenha livre circulação de pessoas, bens, capitais e serviços para podermos maximizar os nossos laços culturais, linguísticos e económicos. A língua é também um valor económico.

Em que medida?

 Um estudo em nossa posse mostra que a língua tem ou entra com um custo directo de 17 porcento nas grandes e médias empresas. Logo, se soubermos transitar quadros, recursos humanos, inter países CPLP, por exemplo agora que Moçambique precisa de mão-de-obra especializada no sector de oil & gas, poderá ir pesquisa-los a Angola, Brasil, Guiné-Equatorial ou Timor-Leste. Os moçambicanos também já saem para cooperar em sectores como Educação e Turismo. Por exemplo já vejo muitos quadros moçambicanos em Angola. É o que pretendemos. Eliminação de barreiras administrativas. Precisamos de auto-estradas para produzir, criar emprego, e ser uma comunidade mais coesa e forte rumo à liderança da economia global.

A confederação já cumpre o papel de dinamizador empresarial?

Não na plenitude. Para esse efeito estamos à procura de parcerias estratégicas para que os nossos associados saiam valorizados e beneficiados. Aliás, os acordos de parceria que temos assinado até à data e aqueles que prevemos assinar nos próximos meses vão mostrar o empenho da CE-CPLP em aproximar os empresários da nossa comunidade.

EMPRESÁRIOS MOÇAMBICANOS

Que leitura faz do facto de termos empresários moçambicanos que, alegadamente, são aversos a joint-ventures? Como se pode crescer com esta visão?

É preciso ter em conta que somos um mercado emergente. Ainda só temos pequenos e médios empresários. Naturalmente que com a pouca experiência do pequeno empresário, ele tem medo de ser abocanhado. Precisamos de olhar e investigar o mercado global. Tenho tido o privilégio de participar em eventos internacionais e constato que mesmo as grandes instituições estão se amalgamando para estarem mais presentes e mais fortes na competitividade global. É uma estrada que os empresários nacionais terão e estão a percorrer. O empresário médio, o grande empresário tem de saber fazer parcerias, fusões ou sociedades que tragam mais-valias para si, para o parceiro e para o mercado onde ele está inserido. Sozinho vai ter dificuldades, por um lado para movimentar capitais para se auto-financiar e, por outro, vai ter pouca energia para fazer mais actividades.

O acesso ao capital financeiro tem sido assumido como a maior dificuldade para os agentes económicos moçambicanos. Como ombreamos com brasileiros, portugueses e angolanos que beneficiam, por vezes, do apoio dos seus governos para se internacionalizarem?

Esse é o grande calcanhar de Aquiles para a nossa emergência porque os bancos exigem garantias ou contra-garantias. O desafio para os nossos empresários é desenhar bons projectos e sustentáveis para que sejam bancaveis. As economias mais robustas, como Brasil, têm Bancos de Desenvolvimento capazes de gerar recursos financeiros que acompanham projectos viáveis e internacionalizam as suas empresas. Nós, moçambicanos, temos que ir caminhando degrau a degrau. Numa primeira fase devemos fazer parcerias com entidades oriundas desses países.  Mas acabou a era das boleias. Se você é empresário tem que meter algum recurso. O parceiro não vai investir sozinho apesar de necessitar do know how local.

Os empresários nacionais têm se internacionalizado o suficiente ou somos “iscas” para atrair estrangeiros?

Quando não sabemos o aporte (maisvalia) que trazemos para um negócio. Quando há falta de empenho, não há transparência no empreendedorismo, pensamos que o nosso capital é só a influência, então aí sim, seremos apenas iscas para atrair investimentos e no fim ficamos de mãos a abanar. A isca não conhece o mundo empresarial e tão pouco sabe de gestão empresarial, além de que não tem nenhum network.

NÚCLEO PALOP

Havia a expectativa de que Angola, Guiné-Equatorial e mais recentemente Timor-Leste seriam o motor e a gasolina para o desenvolvimento da economia dos PALOP’s. Acontece que o preço de crude tem vindo a cair drasticamente. O que é que se pode esperar?

Os PALOP’s são um núcleo duro no futuro da CPLP. É preciso que estejam alinhados e com olhar de perspectiva colectiva. É um facto que a oscilação do preço do petróleo no mundo criou algum problema momentâneo nos países produtores de petróleo. Países que são muito dependentes de um único iten como é o caso de Angola e Guiné-Equatorial estão a sofrer mais. As recomendações que fazemos aos países é que diversifiquem as suas economias à semelhança do que Moçambique está a fazer. Moçambique tem vindo a crescer a um ritmo anual de 7 por cento. Diversificou a sua economia entre serviços, agricultura, comércio, indústria, pesca, turismo. O sector de recursos mineiras, como oil & gas, no futuro será mais um agregado para o crescimento da economia nacional. Todos estes factores vão contribuir para elevar o standard de vida das pessoas. Certo, certo é que o turismo no futuro vai ser o sector mais forte do mundo e a CPLP terá uma palavra a dizer porque tem muito para oferecer como gastronomia, praias fabulosas, lugares paradisíacos que serão pólos de atracção para a classe média e média alta

É o primeiro membro do corpo directivo a ser eleito à presidência da CE-CPLP findo o sistema rotativo que acompanhava a presidência política de cada país.

É um desafio enorme. A Confederação está sem recursos quer humanos quer financeiros. Tem um passivo extremamente negativo. Agora é trabalhar para tornar a organização sustentável e conseguir o que os empresários mais pretendem: ter um ambiente de negócio favorável a nível da comunidade e um sector privado responsável, dinâmico, forte e competitivo.

Actualmente quantos membros têm a confederação?

Somos pouco mais de 100, entre associações empresárias representativas dos países, confederações empresárias e algumas grandes empresas que se envolveram directamente. Quando assumi à liderança da confederação em 2013, em alternância com o meu conterrâneo no âmbito da presidência rotativa cujo mandato era de dois anos, estavam inscritos 12 membros.

André Matola

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