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Um campeão nasce ou um campeão faz-se?

Por admin

A equipa principal de futebol do Ferroviário de Maputo, pode ser usada como exemplo para uma realidade que é válida para outras turmas. Vi o jogo dos locomotivas frente ao Clube do Chibuto, tentei analisar pormenores e “pormaiores”, tudo para perceber o seguinte: porque é que um gigante do nosso futebol, se apresenta com jogadores com tão poucos quão imberbes argumentos em campo, inclusive os físicos?

Perante um dirigente do clube, questionei: por onde andam jogadores com a estatura de JJ, Mabjaia, Zabo, Castigo e tantos outros, sem ter que recuar aos tempos de Mombassa, Abel Miglietti e Serafim? A resposta: este país já não produz jogadores com essa “massa”!

Sobre essa matéria – referi – estamos conversados.

FUTEBOL NÃO É BÁSQUETE, MAS…

Tamanho só é argumento, no basquetebol. E mesmo aí…

Bom. Essa asserção (com raras e honrosas excepções) cada vez se está a tornar menos verdadeira, face à dinâmica que o desporto-rei vai adquirindo. Basta ver Cristiano Ronaldo, o melhor do mundo e os argumentos que ele faz questão de exibir quando tira a camisa!

A verdade é que entre nós, continuamos a pensar que temos muito talento nato e que só basta lapidar. Mas os resultados, a cada dia que passa, são cada vez mais desastrosos.

Um campeão nasce, ou um campeão faz-se? – eis a questão.

As exigências da alta competição, nos dias que correm, exigem as duas coisas. É preciso que se nasça com talento e veia de campeão, mas isso é insuficiente. Há que trabalhar até à agonia para se ser campeão. Esta é a verdade.

INTERNOS E EXTERNOS

O nível da nossa Selecção Nacional, apesar do lugar modesto que ocupamos nos “rankings” internacionais, está bem acima da qualidade do nosso Moçambola. Os nossos melhores atletas, de qualquer modalidade, parecem só tornar-se candidatos ao estrelato após serem transferidos para o estrangeiro. Porquê?

Acompanhem o meu raciocínio. No desporto, como noutros sectores da nossa vida, uma palavra simples mas importante tem estado a perder terreno: RIGÔR!

Quando tentei analisar, atentamente, os argumentos que os jogadores do Ferroviário levaram para o campo, uma outra palavra associei de imediato como estando em falta: PAIXÃO!

Daí em diante, é fácil de explicar a gritante falta de automatismos para dominar a bola sem ter que olhar para ela, como mandam os mestres; a incapacidade em fazer fortes rotações e cabeceamentos certeiros, para dar um determinado rumo ao esférico e por aí fora.

Dizia-me o saudoso Eusébio, que quando acabava o seu treino, ficava no campo a ensaiar, vezes sem conta, gestos técnicos “que vinham da minha cabeça”.

Futebol, por muito que lhe queiram chamar de profissão, é algo que exige paixão e amor. Cristiano Ronaldo, acredito, com os milhares de euros acumulados em muitas contas bancárias, para se manter no patamar em que está, tem que deixar em repouso as suas viaturas e até helicópteros ou aviões e correr, ensaiar gestos técnicos, horas a fio e milhares de vezes.

Infelizmente entre nós, tal como o estudante na escola apenas estuda para passar nos testes, não se preocupando com a biblioteca ou arquivo, o nosso futebolista chega ao treino para “cumprir” o essencial. Na cabeça, o pensamento estará virado para a novela, a barraca da tia Rosa, ou a “pita” que não (re)conhece o seu estatuto.

O ambiente que vivemos assim o determina. No país está-se a perder o espírito ganhador, sobretudo quando por detrás do triunfo, há um árduo e paciente trabalho a fazer. Há que inverter este cenário. A realidade mostra-nos, mais do que quaisquer palavras, a frieza de resultados que nos deviam envergonhar, face ao legado de um passado “de luxo”.

 

 

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