Entende que a vossa rivalidade nas pistas contribuiu para o crescimento do atletismo?
Estamos a falar do tempo colonial.
Havia algo interessante dos treinadores. Todos tinham preocupação de transmitir a técnica desportiva, e, em simultâneo, formar o atleta como homem. Tínhamos três clubes, o Ferroviário, Desportivo e o Sporting. Sabíamos que provas de velocidade eram para o Desportivo, no meio fundo e fundo os outros dois clubes eram mais fortes. Era uma rivalidade sã que terminava na pista, depois seguíamos juntos como amigos para pastelarias ou para casa. Todo atleta não passava noites em discotecas ou bares. O treinador estava descansado porque não precisava de controlar seus atletas fora dos treinos. Tínhamos consciência do que é ser um atleta. Moçambique só pode evoluir quando a formação ser técnica e do homem do amanhã.
Pensa que a transição de técnicos estrangeiros para moçambicanos não correu bem?
Quando o atleta sai de Moçambique vai a Lisboa e encontra atletas que fizeram formação a partir de escolas, infantis e até aos seniores, e consegue lugar entre esses, é porque é talentoso. Lurdes Mutola não teve oportunidade de cumprir todos escalões no atletismo mas venceu. O Mexer chegou a Europa talvez com metade dos jogos dos jovens portugueses nas pernas. Nós não estamos a formar bem os atletas.
Não será por falta de preparação dos treinadores?
Tenho perguntado onde estão os doutores do nosso desporto que anualmente são formados nas nossas universidades. O que fazem os nossos doutores do desporto? Passam muitos anos que temos o Instituto Nacional de Educação Física, transformado em Faculdade de Educação Física e Desporto, mas não vemos resultados. Os moçambicanos gostam de coleccionar certificados. É preciso ensinar a fazer também no desporto. Em muitas áreas é preciso o homem saber fazer. Vai assistir um jogo de futebol de juvenis e notas que o treinador é também massagista e roupeiro. Chama a isso formação? Os talentos não vão cair do céu. Num ano vês uma menina brilhar nos jogos escolares em basquetebol e no ano seguinte já é mãe. Não há protecção de talentos.
