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Há que iniciar pelo tecto…falso!

Por admin

No último “derby” do campeonato luso, o Porto-Benfica, das duas equipas iniciais só havia um jogador português. Esta é uma realidade corrente naquela grande prova, o que não afugenta os adeptos que afluem aos campos, com dois propósitos bem claros na mente: ver a sua equipa a ganhar e assistir a bons jogos de futebol, tomando parte nas polémicas a ele inerentes.

De uma forma geral, é o que se passa nos dias que correm no mundo globalizado do futebol, em que o romantismo já deu lugar ao realismo. Nalguns casos, há países que até “naturalizam” as estrelas de que necessitam para a sua selecção nacional, sem que isso diminua o fervor dos apoiantes.

TALENTOS E REFERÊNCIAS PERDIDAS

Quando no pós-Independência o nosso Estado decretou um “não” às transferências dos nossos atletas de referência para outras latitudes, isso significou várias coisas, algumas das quais representam uma “factura” que ainda está em cima da mesa.

Perdemos uma ou duas gerações de talento garantido noutras latitudes, ficamos com as nossas selecções fragilizadas e, paralelamente, craques de valor reconhecido passaram ao lado de grandes carreiras. A grande motivação que se vivia, pelas referências nacionais que possuíamos a motivar as novas gerações, foi desaparecendo.

Porém, recordar só por recordar, é como chorar sob o leite derramado. Foi um erro histórico e os erros são para ser corrigidos, depois de (re)conhecidos.

ADEQUEMO-NOS ÀS REALIDADES

Nos dias que correm, os manifestos dos dirigentes desportivos referem em regra a priorização do investimento nas camadas de formação. É um trunfo eleitoralista que quase não sai do papel, a avaliar pela quantidade e (não)qualidade das competições nos referidos escalões.

Também se fala (ou papagueia) o desporto escolar. Porém, anualmente são muitas as escolas autorizadas a funcionar sem um único espaço para as normais brincadeiras das crianças, e muito menos para a prática desportiva.

Postas as coisas desta maneira e tendo em conta o estágio a que chegamos, é minha plena convicção que o “edifício” desportivo moçambicano deve ser “alicerçado” numa construção a partir do tecto, nem que seja um tecto falso!

O que é que quero dizer com isto?

Convencer um adulto a deixar uma “patuscada” na quinta de um seu amigo, para ir ao nosso desporto que navega na mediocridade, é “um bico-de-obra”. Mais difícil ainda, é motivar meninos e meninas a aderirem em massa aos jogos infantis, a não ser que tenham garantido um lanche e uma camisete. De contrário…

Mas há mais motivos desmobilizadores. O principal deles, será a falta de modelos nacionais para imitar e até o estatuto de “coisa menor” que os mais cotados atletas gozam localmente. Acresce a quase generalizada falta de preparação dos técnicos e até dirigentes, o que em muitos casos se confunde com desinteresse. Isso para não falar dos casos de “babalaza”!

CAMINHO ANORMAL

A PENSAR NO NORMAL

Claro que o caminho normal, seria motivar as crianças a fazerem desporto convencendo-as do bem que isso lhes faz.

Mas a seguir, viriam as perguntas clássicas que se fazem a um estudante de jornalismo: como, quando e porquê. E acrescenta-se, onde?

Efectivamente, porque a nossa situação não é normal, o que teremos que equacionar sem tibiezas é qual será o caminho mais curto e menos oneroso. “Fabricarmos” durante uns tempos algumas vitórias na alta competição, usando alguns dos meios citados no início desta crónica, para “obrigar”, jovens e adultos a (re)gostarem e valorizarem o que fazemos, ou insistirmos nos “saldos positivos” a que nos vai habituando a mediocridade, vendo as bancadas vazias e os espaços de jogo apenas com disputas em datas festivas e de circunstância?

Quem não se recorda das enchentes das nossas meninas de prata no último Campeonato Africano de Seniores Femininos? Aquele poder catalisador, seguramente vale mais do que centenas palestras de mobilização de técnicos ou professores de educação física.

Se o objectivo é crescer numa realidade atípica, porque não deitar – estrategicamente, repare-se – mão a um plano que até nem é virgem no mundo, para daqui a uns tempos alcançarmos chegarmos a um desporto com bases sólidas?

 

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