Início » Golfinhos: dez anos no topo da natação

Golfinhos: dez anos no topo da natação

Por admin

São Golfinhos, nadam que se fartam e não se fartam de ganhar. Acabam de sagrar-se campeões nacionais absolutos pela décima vez consecutiva. Ganharam tudo intramuros, pelo que agora o desafio é conquistar África e o Mundo.

Há sensivelmente 17 anos, um grupo de pais juntou-se para recrear os filhos praticando natação. Longe do imaginário de que nascia ali um clube para a alta competição e para ser campeão. E que campeão!

Os Golfinhos cresceram. Actualmente, a agremiação está empenhada em formar atletas de alto nível e treinadores para servir não só o clube, mas todo o país.

É neste quadro que teve lugar, há dias, o primeiro torneio de captação de talentos, na piscina Reginaldo Correia (Josina Machel), a fábrica dos campeões. Sessenta petizes lançaram-se à água, sonhando, desde já, com grandes palcos.

Paralelamente, treinadores e monitores do clube beneficiam de capacitações regulares na África do Sul. Tudo na perspectiva de manter a hegemonia nacional e subir ao pódio em competições mundiais.

ESTRUTURA PARA VENCER

Dário Hamide é o actual presidente de direcção do Clube de Natação Golfinhos de Maputo. Coordena uma estrutura virada ao êxito, apesar dos obstáculos que qualquer emblema desportivo enfrenta em Moçambique.

É inacreditável. Mas os Golfinhos não têm qualquer patrocinador, sobre(vivendo) exclusivamente das receitas da escola de natação. Até quando? Deus saberá.

– Estamos há um ano sem patrocinador, é muito difícil fazer natação, não é que não procuramos os patrocínios, mas as respostas não são satisfatórias. As empresas dão prioridade a outro tipo de eventos que se calhar despertam maior atenção e visibilidade.

Por isso, argumenta, “temos vários talentos que acabam se perdendo por falta de incentivos, hoje temos extremas dificuldades de fazer equipas de estafetas em juniores e seniores, porque é difícil manter os atletas a nadar, acabam optando por outras actividades. Apelo às empresas para ajudarem estes atletas.”

Contudo, a direcção do clube rema contra a maré, mantendo uma estrutura sólida. E é aí onde faz a diferença com a concorrência.

– Assumimos o desafio de produzir atletas, pautar pela alta competição e reestruturamo-nos anualmente para ultrapassar algumas insuficiências. Temos uma estrutura relativamente sólida e definimos objectivos claros.

O clube movimenta actualmente perto de 70 pessoas, entre monitores, treinadores, director técnico e atletas.

A base de recrutamento é basicamente interna, ou seja, os campeões são seleccionados na própria escola do clube, sempre com metas definidas.

Dário Hamide explica que os monitores têm obrigação de indicar pelo menos cinco a dez atletas semestralmente em condições de ingressar nos federados. Também duas vezes ao ano são realizados torneios escolares para a selecção de talentos.

– Antes eram só escolas internas, agora abrimos para fora, os talentos que identificamos são convidados a fazer parte do nosso clube.

ESPINHOS NO CAMINHO AO RIO

Os Golfinhos definiram a meta de qualificar atletas aos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, em 2016. Um projecto ambicioso, mas condicionado a patrocínios. Todavia, há registo de alguns avanços.

– Infelizmente, faltam parcerias ao projecto. Temos atletas que continuam a treinar, empenhados em atingir os mínimos para os Jogos Olímpicos do Rio.

A ideia é colocar os atletas a treinarem-se também fora do país, participando regularmente em provas oficiais.

O estágio que atletas como Igor Mogne e Jalik Tavares atingiram a treinar em Moçambique, com técnicos moçambicanos, é muito bom, por isso é de congratular os treinadores e os próprios atletas pelo empenho. Infelizmente em Moçambique temos o hábito de apostar em treinadores estrangeiros, mas esses nossos já provaram que têm competências para colocar os atletas a fazerem bons tempos – argumenta.

Neste quadro, o presidente dos Golfinhos de Maputo sustenta que Moçambique pode ter seus centros de alto rendimento aqui no lugar de enviar os atletas para o estrangeiro.

– Temos atletas e treinadores capazes, era preciso continuar a investir nos técnicos ao nível nacional, capacitá-los com frequência.

Tubarões trouxeram competição

Dário Hamide encara a rivalidade com os Tubarões como um ganho para a natação de Maputo e do país no geral. Por isso, quando questionado sobre a competitividade na modalidade, sublinha a ascensão dos vice-campeões nacionais.

– Na cidade de Maputo tenho que dar os parabéns ao clube Tubarões, que tem feito um trabalho visível, e nós também estamos a fazer o nosso melhor. Este ano tivemos um défice, perdemos três a quatro atletas fundamentais que foram estudar fora, estamos a recrutar permanentemente. Infelizmente, ao nível nacional esse não é só o problema dos Golfinhos, os atletas quando atingem o escalão sénior não continuam.

O dirigente defende que tal acontece porque a natação deixa de ser atrativa para atletas seniores, já com outras visões profissionais.

– Acredito que o problema é do próprio sistema, nos clubes de natação não temos condições para mantê-los, pagando subsídios correspondentes, então preferem seguir outras actividades.

 Conforme refere o nosso entrevistado, “os atrativos nos Golfinhos são quase nulos. Oferecemos alguns subsídios de transporte e comunicação aos atletas juniores e seniores, não temos condições de pagar luvas e contratos; gostaríamos de trazer atletas doutras províncias, mas infelizmente não temos como custear estas despesas.”

Técnicos querem pódio da África do Sul

Conquistar dez campeonatos nacionais consecutivos ainda não é suficiente para satisfazer as metas definidas pela equipa técnica dos Golfinhos de Maputo.

Aliás, o grupo técnico está mesmo insatisfeito com o sucesso (apenas) interno, uma vez que o horizonte é os nadadores alcançarem tempos que os coloque entre os melhores nadadores da vizinha África do Sul, principal potência africana da modalidade.

Em 2009, depois de constatar escassez de competição interna, os Golfinhos estabeleceram parcerias com clubes da África do Sul para potenciar seus atletas competindo mais a sério.

Já na época 2010/2011 os nadadores moçambicanos atingiram o nível dos adversários da província sul-africana de Mpumalanga.

Por isso, houve necessidade de avançar mais, estabelecendo novas parcerias para o clube participar nos campeonatos nacionais da África do Sul, com os níveis I, II e III, envolvendo todas as províncias.

Por isso, Eleutério Malate, treinador dos Golfinhos, considera que a maioria dos tempos alcançados pelos nadadores no último “nacional” está aquém do projectado.

Os tempos não estão dentro do que esperamos e desejamos. Talvez por ser inicio da época. Queremos que os atletas atinjam os tempos mínimos dos níveis I, II e III da África do Sul, ou seja, tempos que nos garantam o pódio nos campeonatos sul-africanos. São campeonatos por escalões e muito renhidos, com participação de centenas de nadadores. Esse sim, é o nosso barómetro, não o campeonato nacional– explica o técnico.

Conforme aquele treinador, duas nadadoras, nomeadamente Gisela Cossa e Sassa Francisco, alcançaram tempos para competir no Nível III da África do Sul, o mesmo sucedendo com Igor Mogne e Jalik Tavares.

“Mas o nosso objectivo não é apenas chegar lá. Queremos competir e terminar em lugares de pódio”, esclarece.

Considerando que em Agosto próximo terão lugar os Jogos Olímpicos da Juventude, em Nanjing, China, a equipa técnica dos Golfinhos desenhou uma preparação específica dos atletas visando a obtenção dos tempos mínimos definidos.

– Estamos empenhados para que os nossos atletas atingiam os tempos exigidos. A Jannah Sonnenschein já está apurada. O Igor Mogne está muito próximo na prova de 50 costas, e o Jalik  Tavares tem possibilidades de apuramento directo nas provas de bruços e mariposa. Temos ainda o Emídio Cuna, nos 50 livres.

Afirma mesmo que “os nacionais da África do Sul são renhidos. Entre nós o Igor Mogne enfrenta um ou dois atletas, lá deve bater-se com 100 nadadores para chegar ao pódio.”

Eleutério Malate lamenta-se pelo facto da piscina Reginaldo Correia (Josina Machel) estar a ficar pequena para os horizontes do clube.

– O clube movimenta muita gente, estamos a precisar de maior espaço para melhorar o rendimento dos atletas. Não temos patrocinador, vivemos de receitas próprias e isso limita a evolução dos atletas.

O treinador defende ainda que está a faltar em Moçambique uma devida coordenação entre os sectores do desporto e da educação, pois, sustenta, atletas federados continuam a ter o mesmo tratamento no ensino.

Devia existir uma articulação que permitisse que o atleta de alta competição não fosse penalizado na escola enquanto estiver a dedicar-se ao desporto, porque aqui também está a defender interesses nacionais. Os atletas enfrentam dificuldades de conciliar a escola e o desporto. Essa coordenação e um apoio logístico permanente aos nadadores melhorariam bastante a nossa situação.

Sonho dos Jogos Olímpicos

Um grupo de atletas dos Golfinhos de Maputo perfila-se para garantir lugares nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, em 2016.

Trata-se dos nadadores Jalik Tavares e Igor Mogne, a evoluir em Moçambique, e Jannah Sonnenschein, a competir na Holanda.

A estes juntam-se Emídio Cuna, na África do Sul, e ainda Valdo Lourenço e Elton Mongore, com bons registos nas últimas épocas, para não falar de Gizela Cossa e Sassa Francisco.

No entanto, a falta de um programa específico de treino orientado para a competição planetária pode esfumar o sonho do clube e dos próprios atletas.

Não existe um programa desportivo virado para os Jogos Olímpicos na natação. O clube está solitário, não há envolvimento do Estado – desabafa Eleutério Malate.

O técnico defende que devia ser definido atempadamente um programa que engloba estágios, componentes académica, médica, académica e psicológica.

 

Custódio Mugabe

 

Você pode também gostar de:

Leave a Comment

Propriedade da Sociedade do Notícias, SA

Direcção, Redacção e Oficinas Rua Joe Slovo, 55 • C. Postal 327

Capa da semana