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Estrela Vermelha um exemplo a seguir

Por admin

. Clube “alaranjado” de Maputo retomou a prática de boxe e já é campeão nacional

O Estrela Vermelha de Maputo é o novo Campeão Nacional de Boxe, ao se sangrar vencedor absoluto da edição de 2014, realizada de 30 de Janeiro a 01 de Fevereiro, na cidade de Maputo, evento que contou com a participação de pugilistas representantes das províncias de Nampula, Manica, Gaza, Sofala, e Clubes da Cidade de Maputo, nomeadamente Ferroviário, Matchedje e as Academias Lucas Sinóia, Paulo Jorge e Nhuane.

A vitória do Estrela Vermelha pode ter sido surpresa para quem não segue atentamente a modalidade, pois, o clube recrutou os melhores pugilistas para vestirem a sua camisola. E contratou Lucas Sinóia, o único técnico moçambicano com formação especializada no exterior, lapidador de muitos dos pugilistas no topo da actualidade.

Para o campeonato que destronou o Ferroviário de Maputo e empurrou o Matchedje de Maputo para o terceiro lugar, o Estrela Vermelha se apresentou com apenas seis pugilistas, designadamente Francisco Massitela (81kh), medalha de ouro; Gento Máquina (75kg), ouro; Filipe António Manjate (52kg), ouro; Valdo António (64kg), ouro; Augusto Mathule (69kg), bronze; e Sainili João (91kg), bronze.

E é preciso sublinhar que o “precipitado” sucesso dos alaranjados no boxe tem muito a ver com a parceria que estabeleceu com a Academia Lucas Sinóia, que para além de fornecer atletas, cuida dos mesmos tecnicamente, cabendo ao clube presidido por Luís Manhique a parte logística e salarial. Aliás, o que o clube paga aos seus pugilistas e técnicos supera os seus adversários, outra razão do sucesso que pode prevalecer nas próximas épocas.

Diga-se que o Estrela Vermelha de Maputo ao invés de ficar à espera de títulos nacionais de futebol optou por buscá-los noutras modalidades, como o boxe e hóquei em patins. O mesmo pode vir a acontecer noutras modalidades individuais que regressam ao clube.

Se o exemplo do Estrela Vermelha for seguido por outros, que outrora se evidenciavam em muitas modalidades, fica a ganhar o desporto nacional.    

Sinóia considera que foi

o pior campeonato de sempre

Lucas Sinóia, patrono da academia com o seu nome e treinador principal do Estrela Vermelha de Maputo, diz que está desapontado com a direcção da Federação Moçambicana de Boxe por estar a pontapear a modalidade, ignorando que um campeonato nacional se realiza obedecendo a um regulamento e regras específicas.

O mais destacado pugilista moçambicano diz igualmente não compreender por que um sorteio de um campeonato nacional é feito às escondidas. E gostaria de ter explicação plausível da exclusão das mulheres no evento, elas que são dignas representantes do país.

“Foi um campeonato nacional cem por cento desorganizado, sem regulamento nem regras. Era para ser realizado em Novembro, mas foi adiado sem nenhuma justificação. A nova data terá caído repentinamente do céu. Tudo foi programado para satisfazer o Ferroviário de Maputo, que, para o desgosto de alguns dirigentes e árbitros, acabou apanhando porrada. Tecnicamente foi um campeonato péssimo. O pior que já presenciei nos trinta anos que estou no boxe”, referiu Lucas Sinóia falando em exclusivo para o jornal domingo.

O ex-pugilista diz não se sentir muito orgulhoso por ter ganho o campeonato para o Estrela Vermelha, porque se tratou de uma prova “organizadamente desorganizada.”

Para ele “todo aquele, seja dirigente ou jornalista, que disser que foi um campeonato bem organizado estará a mentir. Aquilo foi uma vergonha desportiva. As autoridades governamentais, que velam pelo desporto, devem estar muito atentas para que coisa idêntica não aconteça, porque mancha o desporto no seu todo”.

No entanto, Sinóia admite que pela desorganização que se assiste no boxe não se pode culpar somente o presidente da federação, Benjamim Uamusse (Big-Ben).

Ele entende que o presidente tem maus colaboradores, pessoas que não gostam de indivíduos como ele que são pelo bem da modalidade.  

Questionado se o campeonato serviu para seleccionar aqueles que devem representar Moçambique nas competições africanas que se avizinham, Sinóia responde negativamente.

“ Olha, eu sei, você sabe e os que entendem do boxe sabem quem são os pugilistas capazes de representar bem o país, caso lhes seja proporcionado boa preparação. Não é de um campeonato desorganizado que se faz selecção. Que você pode esperar dos pugilistas de Nampula, Sofala, Gaza e Manica que por ano só se treinam uma vez? Não é em uma prova medíocre que se forma uma selecção para representar um país. Não podemos fazer selecções por campanha. Temos que ser mais sérios se queremos que o desporto dignifique o nosso país.”

Sinóia diz que tem notado que no boxe os critérios de participação num campeonato nacional são definidos em esquinas ou barracas ao invés de ser em Assembleia-geral.

“Regras e critérios de participação numa prova devem ser definidos em Assembleia-geral e não na rua ou na barraca, porque a federação não é empresa privada de ninguém. Para esta desorganização que chamaram de campeonato nacional fizeram sorteio clandestinamente, sem presença de delegados de clubes, com o objectivo de impedir com que determinados atletas não chegassem a final. Para determinados combates os pugilistas foram indicados e não sorteados, como mandam as regras do boxe amador.”

A outra coisa que deixa Lucas Sinóia muito aborrecido é o desprezo que a federação tem para com o boxe feminino, que é uma conquista do desporto nacional.

“É ridículo ouvir das pessoas da federação que no país não há boxe feminino, só porque os clubes de que são simpatizantes não dão importância à participação da mulher no desporto. Em que assembleia se constatou que não há boxe feminino no país? Aquelas que têm trazido medalhas do exterior não são mulheres moçambicanas? Porque as mulheres são da minha Academia e não do Ferroviário, então não há boxe feminino no país. Que culpa eu tenho de os outros não apostarem nas mulheres? Se não há boxe feminino por que na associação de boxe da cidade de Maputo estão filiadas mulheres? Talvez o que de verdade está acabar no país é o boxe masculino por causa da desorganização organizada e patrocinada pela federação”, considera quem muito deu de si ao boxe moçambicano.

Manuel Meque

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