Aníbal Manave promete uma gestão centrada no atleta caso seja eleito próxima quinta-feira para o cargo de presidente do Comité Olímpico de Moçambique (COM). Com ele no comando, ficam para a história as modalidades prioritárias e passará a vigorar o regime de atletas prioritários.
Este candidato apresentou às federações um manifesto eleitoral construído envolta do atleta. No seu mandato, o atleta sempre será colocado em primeiro lugar, independentemente da dimensão da sua modalidade.
– Nós definimos que não temos modalidades prioritárias, temos atletas prioritários. Se aparece um atleta do karate com potencial, é esse atleta que é prioritário, independentemente da modalidade ser ou não prioritária.
Entende que o COM não pode ser uma ponte de transferência de dinheiro de parceiros para as federações. Para tal, propõe-se a elaborar, em coordenação com as federações, um plano de preparação olímpica para os Jogos de 2020 e 2024.
– Em conjunto com as federações vamos definir um programa de acção e critérios de acesso às bolsas; é um pouco polémico dizer que o COM atribui bolsas, porque na verdade o COM gere as bolsas, quem atribui é a federação internacional de determinada modalidade. Tem de ser a federação internacional de determinada modalidade a dizer se esse atleta vale a pena ser financiado ou não.
Recorda que no ciclo passado, Moçambique tinha dez bolsas disponíveis e só conseguiu utilizar seis “porque estamos com problema de qualidade dos atletas para absorver essas bolsas”.
Paralelamente, há que melhorar o rácio entre atletas financiados e atletas qualificados aos Jogos Olímpicos. “Temos que ter pontaria, se apoiamos dez, nove devem qualificar-se”.
Uma das metas definidas pelo candidato é melhorar os factores de risco de qualificação. À pergunta por que Moçambique não consegue qualificar muitos atletas aos Jogos Olímpicos, Aníbal Manave responde nos seguintes termos:
– Temos que ser mais rigorosos. Todos atletas antes de beneficiarem das bolsas terão que ser submetidos a testes médicos. Já tivemos atletas que a meses dos Jogos Olímpicos descobriu-se que tinham anemia. Não pode acontecer isso. Temos poucos recursos, não nos podemos dar ao luxo de desperdiçá-los.
Defende o princípio de que apenas um atleta qualificado deverá participar nos Jogos Olímpicos. “Há questão da universalidade dos atletas, mas acho que já chega. Há federações que deram exemplo disso. É preciso ter coragem para isso. A partir do momento que decidimos levar um atleta que não está qualificado, cada atleta, cada treinador e dirigente do atleta, pensa que o critério é o atleta dele, então entramos na subjectividade”.
– Vamos fazer a monitoria do atleta, sua evolução. Temos que trabalhar com base na esperança olímpica, que consiste na identificação e apoio de jovens talentosos para participação em eventos internacionais pensando em dois ciclos olímpicos. Neste ciclo já temos que preparar os atletas para 2020 e 2024. Vamos criar critérios, usando jogos da CPLP, Commonwealth, SCASA ou outros. Estamos com um problema de disfuncionalidade que é necessário ultrapassar.
CENTRO DE TREINAMENTO OLÍMPICO
Aníbal Manave projecta a construção dum centro de treinamento olímpico, no qual os atletas terão todas condições básicas para se treinarem e elevarem suas capacidades competitivas. A infra-estrutura pode ser erguida no Complexo Desportivo do Zimpeto ou no Complexo Olympáfrica de Boane, este último propriedade do COM.
O candidato observa que “os nossos atletas têm de ter centros de treinamento específicos com treinadores, fisioterapeutas e nutricionistas, porque um dos problemas do nosso atleta é comer mal e dormir mal”.
Apresenta seus sonhos devidamente informado dos custos envolvidos. Reconhece que a situação económica do país é complicada e o financiamento às atividades desportivas está a minguar.
– Os recursos são escassos, temos que ter pontaria para um determinado atleta ou modalidade. Também devemos maximizar as nossas sinergias para mobilizar parceiros institucionais e patrocinadores para irmos buscar recursos. Uma das tarefas que o presidente do COM vai ter é buscar recursos e apoios para a preparação dos atletas.
No seu entender, a vida desportiva moçambicana é dominada pelo imediatismo, todos seus agentes são impacientes e querem resultados desportivos a todos os níveis. “Esse imediatismo esconde muitos dos problemas que vamos enfrentar no futuro. Em vez de termos uma estratégia queremos resolver problemas do imediato”.
– Há uma percepção de que o Comité Olímpico pode fazer tudo, mas não pode. O COM tem de estar em sintonia com as federações. A qualificação de atletas depende duma responsabilidade compartilhada pelo Comitê Olímpico e as federações nacionais.
Manave insiste com a necessidade de pontaria porque o desporto de alto rendimento é muito caro. Indicou que para qualificar um atleta duma modalidade individual ele tem de passar por meetings em vários países, o que se revela oneroso.
Experiência, competência e conhecimento
A candidatura de Aníbal Manave resulta duma iniciativa dum movimento desportivo que tem “maturidade, experiência e competência”.
O próprio Manave apresenta-se, a seguir, em síntese:
– “Sou Aníbal Manave, fui atleta de alta competição, fui campeão de África. Minha carreira de atleta permitiu-me conhecer aquilo que os atletas precisam para atingir um patamar de excelência. Fui vice-presidente dum clube. O desenvolvimento desportivo do nosso pais baseia-se em dois pilares, que são o clube e a escola. Fui presidente duma federação desportiva, o que me permitiu ter o conhecimento dos problemas que as federações têm, das suas expectativas, e como se podem resolver esses problemas.
Sou Vice-presidente da FIBA-África, o que me permitiu também ter experiência internacional para lidar com organismos internacionais.
Sou Secretário-Geral do Comité Olímpico, o que me permitiu ter conhecimento profundo do movimento olímpico. Foi com base nesses pressupostos todos que me senti na obrigação de me candidatar para transmitir a minha experiência, apoiar o desenvolvimento desportivo do país e contribuir com a minha equipa para elevar os patamares do desporto”.
Texto de Custódio Mugabe