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Desportivo do Niassa pode desistir a qualquer momento

Por admin

O Desportivo de Niassa, equipa que representa a província do Niassa no Campeonato Nacional de Futebol (Moçambola) poderá abandonar a competição a qualquer instante porque não tem dinheiro para suportar as despesas. Sem um único apoio, até mesmo ao nível dos seus próprios adeptos, o clube está a gerir dois meses de salário aos seus atletas que já começam a denotar evidentes sinais de desânimo.

O Moçambola só tem uma meia dúzia de jornadas realizadas e já há um clube a cogitar seriamente a possibilidade de abandonar a competição porque todas as contas que faz dão errado porque lhe faltam patrocínios e outras formas de apoio financeiro.

Conforme apurámos junto de Ivan Mazula dos Santos, o pouco dinheiro que a colectividade movimenta resulta da venda de bilhetes de ingresso, isto quando os jogos são realizados na capital provincial do Niassa, a cidade de Lichinga.

Aliás, tal dinheiro não dá para cobrir os salários dos atletas, pior porque os amantes do futebol locais, que afluem ao campo também não ajudam. No lugar de adquirir bilhetes, a maior parte opta por aceder ao recinto pulando a vedação ou forçando os portões.

A situação das contas deste clube é tão dramática que alguns elementos da direcção com quem conversamos evidenciaram pelos seus semblantes e palavras que mais dia, menos dia, vão ter que abandonar porque já começa a ser insustentável.

Segundo eles, no começo do campeonato, a equipa recebeu cerca de 500 mil meticais para suportar a inscrição da colectividade, aquisição de equipamento desportivo, contratar alguns jogadores experientes e alojamento e alimentação. Este dinheiro foi oferecido por uma empresa local mas, daí para frente, nunca mais registaram qualquer patrocínio de uma empresa.

Consta que quando o Desportivo do Niassa realizou um jogo, em casa, com a União Desportiva de Songo, o campo ficou quase lotado e, graças a isso, foi possível fazer uma receita de cerca de 300 mil meticais que foram usados para arrendar, reabilitar e apetrechar um imóvel para alojar os jogadores idos de outras partes do país. Esta mesma casa serve de centro de estágios.

De lá a esta parte, a equipa realizou três jogos em casa e teve um acumulado de cerca de 650 mil meticais e é este o valor que permitiu que a equipa chegasse à sexta jornada pagando prémios de jogo, alimentação, entre outros. Mas, salário que é bom os jogadores não o veem há pelo menos dois meses, incluindo o prémio do último jogo que a equipa realizou.

Este valor não cobre as despesas de salário. Também há que saber que nem sempre disputamos os jogos em casa. Temos deslocações que cada uma delas consome a volta de 45 mil meticais. Depois temos que garantir 15 mil meticais para o rancho dos jogadores. A tudo isto se acresce toda a logística de organização de um jogo”, disse Ivan dos Santos.

Nas contas do Desportivo do Niassa, só o salário dos 24 atletas consome cerca de 350 mil meticais e a receita feita em casa nos dois últimos jogos não cobre a metade dessa necessidade. “Por tudo isto poderemos ser forçados a desistir do campeonato”.

Insistimos com Ivan dos Santos para perceber as razões que levam a que a única equipa que representa Niassa não tenha apoios e ele encolheu os ombros. “Também não entendo. Submetemos cartas de pedidos de apoio algumas empresas, mas algumas não responderam e outras apresentaram dificuldades porque já estão comprometidas com outras equipas”.

Localmente, nenhuma empresa disponibilizou qualquer tipo de apoio. “Nestas condições não é possível fazer o Moçambola. É triste porque vamos estragar uma festa que a província já precisava há quase 10 anos. Vai ser duro para a Liga Moçambicana de Futebol que tem feito tudo para organizar o campeonato. Mas, sem salários fica difícil. É muito triste”.

Feitas as contas globais, o Desportivo do Niassa precisaria de cinco milhões e seiscentos mil meticais para pagar despesas prioritárias e, dessa forma, se manter em campo até ao final do Moçambola. “Sem contar com prémios, deslocações e logística de jogos. Mas para tudo isto precisaríamos de 11 milhões”.

Sem motivação, alguns atletas começam a ensaiar o abandono do clube. Consta que para a realização do último jogo, a direcção do clube quase se pôs de joelhos para implorar para que estes fossem jogar.

No que se refere à colaboração dos adeptos, Ivan afirma que este aflui ao campo local e, por aí, não há razões de queixas. O problema reside na aquisição de ingressos que poucos pagam. “No primeiro jogo, que realizamos com a equipa de Songo havia muitos atractivos que levaram muitos adeptos ao campo e facturamos cerca de 350 mil meticais. Porém, de lá a esta parte as receitas caíram para menos de 200 mil meticais”.

Outro factor que poderá ter influenciado para o agravamento da crise desta equipa terá sido a falta de uma direcção organizada. Só na semana passada é que foi empossada uma nova direcção passadas seis jornadas. “Concordo que seria difícil uma empresa canalizar recursos para um clube sem uma estrutura organizada”.

Por outro lado, a equipa não tem sócios. A maior parte do público que aflui ao campo apenas gosta de futebol. Alguns saem de Mecula que dista 450 quilómetros, outros de Mecanhelas, Cuamba e também dos distritos vizinhos. No famoso jogo com a equipa de Songo, Lichinga recebeu, por exemplo, 15 mini-buses idos do distrito do Lago.

Se a situação prevalecer por mais algum tempo, vamos sucumbir. E a história vai se repetir porque Niassa já teve um representante no Moçambola que fazia um campeonato regular, mas por falta de apoio, desceu de divisão. Para nós será muito mais penoso porque poderemos ter de abandonar a meio do certame”, concluiu.

Jorge Rungo
jrungo@snotícias.co.mz

 

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