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O bocejo amarelo

Por admin

O mundo inteiro conhece o sorriso amarelo. Aquele sorriso que se esboça contra a vontade. Com o qual muitas vezes nos confrontamos em lugares de atendimento ao público. Hospedeiras, enfermeiros, caixas dos bancos, entre outros colaboradores de instituições costumam ser especialistas em produzir o famigerado sorriso.

O sorriso amarelo é algo tão velho, tão antigo, cuja origem é atribuída à milenar civilização chinesa e diz-se que estes eram especialistas em criar um rosto sorridente até mesmo para coisas que não entendiam. Eles, os chineses, que são chamados de amarelos, sorriam até perante coisas que não gostavam e sem a menor graça.

Para se ter uma ideia bem próxima do que é um sorriso amarelo, Bula Bula vai buscar um exemplo nos respectivos inventores. Graças à globalização daquela cultura, muitos moçambicanos começam a fazer parte de fóruns de convívio de cidadãos provenientes da China.

Aliás, Bula Bula também vai a umas e outras e sabe por experiência própria que as confraternizações destes amigos são intercaladas com vários brindes denominados “campê”. Os copos e taças são enchidos até ao gargalo e, mal soa o comando, o conteúdo deve ser deitado goela abaixo.

Não importa se o que enche o copo é whisky, gin, 1920, São Domingos, Sambuca, conhaque ou brandy, sem gelo. Seco da silva. Se alguém diz “campê”, acabou. O copo deve ser esvaziado. E é aí onde vem o sorriso amarelo. Por gentileza, ou melhor, por educação, os convidados devem engolir e esboçar um sorriso que, claramente, não será original. Será falso e despido de naturalidade.

Entretanto, o “bocejo amarelo” é uma inovação que uma certa empresa publicitária, muito premiada, ou melhor, a mais premiada, decidiu oferecer aos moçambicanos justamente neste mês de Janeiro, altura em que todos estão a fazer as contas à vida depois de se refastelarem na quadra festiva a ponto de ficar com as contas no vermelho. Numa altura em que bocejar é tudo o que o povo não quer.

Alguns amigos de Bula Bula vão ao extremo de afirmar que se a dita-cuja tivesse tido a sorte de criar aquele spot logo no começo, jamais teria ganho algo superior a um Galaroz, prémio que se oferece anualmente aos que se destacam por marchar triunfalmente para a asneira. Para a baboseira.

É que o bocejo está associado à preguiça, pese embora alguns digam que bocejar é uma forma natural de espantar o sono. Mas, se um convidado esboça este gesto, o anfitrião inteligente percebe que a conversa há muito que perdeu a graça, porque ninguém soneca, espreguiça ou boceja em ambiente que “está a bater”.

Por todo o exposto, Bula Bula entende que o spot do bocejo merece um Galaroz antecipado. Sobretudo para o actor mais velho que ali aparece. Já na infância devia saber que bocejar em público e de forma tão sonora roça à falta de educação. Ainda que lhe paguem todos os tostões do mundo. É preciso lembrar que foram 30 moedas de prata que levaram Jesus Cristo ao crucifixo. Nem sempre o dinheiro justifica actos tão ruins.

Mais grave é que a referida publicidade passa à hora do jantar. A família moçambicana, de boa índole, insiste em ensinar aos filhos menores que bocejar, espreguiçar-se, meter o dedo no nariz, palitar na mesa, entre outros, são gestos feios, que expõem a falta de educação.

Entretanto, um vovô inteiro, e um punhado de jovens que se acham modelos, aparecem ali na televisão a dar o dito pelo não dito. Aqueles bocejos à hora do jantar são de má candura. Não discutimos as técnicas de concepção da publicidade ali empregues. Discutimos o mau gosto daquilo tudo. Haja paciência! Que horror! Dá uns nervos! Será que ninguém põe ordem naquela casa? Haja decoro! Haaaaaaaa…

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