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Há muitos caminhos para chegar ao mesmo lugar

Por admin

A semana finda foi marcada por um interessante debate na imprensa e redes sociais em torno de uma espécie de petição-abaixo-assinado alegadamente subscrita por “ membros influentes” do Partido Frelimo “contra os pré-candidatos “, ora eleitos em sede da Comissão Politica (CP) cuja proposta deverá ser submetida a apreciação e aprovação do Comité Central (CC), em sessão a ter lugar entre 27 de Fevereiro e 02 de Marco do ano em curso, na Matola.

Trata-se de uma petição atípica em toda a história da Frelimo. Só que Bula-bula ficou maningue desiludido por não ter sido “tido nem achado” no momento da elaboração do tal documento, de mais ou menos 8 páginas, e como se isso não bastasse os arquitectos de tal pérfida carta ignoraram, por completo, a “influência” que Bula-bula exala por onde passa e pisa de tal jeito que nem lhe foi reservado o direito de figurar (ainda que fosse como mais um) de entre os 114 subscritores da petição.

Como a Bula-bula só lhe escapa o que não acontece, ainda foi a tempo de saber que afinal, de entre os pouco mais de uma centena de subscritores do referido abaixo-assinado, apenas 3 (três) são membros do Comité Central da Frelimo, eleitos no X Congresso realizado em Pemba. A “Frel” tem qualquer coisa como 182 membros do CC mais 4 que dirigem as organizações de massas (ACLLN, OMM, OJM e Continuadores) totalizando, portanto 186 membros efectivos e uns tantos suplentes.

Pelo que tem sido dito e repetido, a Frelimo estima em cerca de 4 milhões o número (mais actualizado) dos seus membros a nível de todo o país. Na cidade de Maputo, contas feitas apontam para cerca de 108 965 membros. Cerca de 70 são membros do Comité Central residentes na cidade e província de Maputo. Ora, se realmente fossem tão influentes os “influentes” do abaixo-assinado não teriam arrastado pelo menos metade dos seus camaradas que residem em Maputo com os quais se cruzam nos supermercados, cafés, cinemas e corredores das salas de reuniões do partido?!

Não será porque alguns dos ditos “influentes” que assinaram a Carta, Bula-bula acredita, que já nem eles próprios se lembram da última vez que participaram de uma reunião na célula onde militam e com os seus camaradas da base; só têm certeza de que a influencia está sempre com eles na carteira de documentos, como se de um Bilhete de Identidade se tratasse. Não estarão alguns destes desejosos de serem, isso sim, uns eternos “traficantes de influência”?!

Mais ou menos a propósito disto Bula-bula julgou interessante a análise de um jovem Historiador e analista político da praça, Dr. Egídio Vaz, (publicada no Jornal Notícias, edição do dia 30 de Janeiro) onde a dado passo da sua narrativa defende a tese de que “esteve sempre claro que Armando Guebuza preparou e preparava-se para fazer gravitar o poder presidencial para o norte do Rio Save. E fê-lo em prejuízo da sua própria etnicidade e das elites locais. Alias, como refere o mesmo historiador, “num sistema político de partido dominante caracterizado pelas relações políticas clientelistas, a promoção de uma elite dirigente diferente significou a marginalização da outra; ou pelo menos a falta do diálogo entre elas levou a que alguns deles se sentissem marginalizados”.

Para Vaz, isto provocou (ou tem provocado) uma reacção quase que instintiva da elite baseada em Maputo que “é demonstradora da sua vontade de resgatar este poder “perdido” há aproximadamente uma década. E nota-se claramente uma matriz regionalista nos nomes que dominam o abaixo-assinado reportado por um órgão de comunicação social, uma lista que inclui uma minoria de “outros” para serem usados a favor de uma agenda que não é sua. Nota-se a mesma matriz nas propostas que se avançam.

Um papagaio que ouviu em algum “bar senta-baixo”, sem querer, alguns nomes que avultam no mediático abaixo-assinado vive buzinando nos ouvidos de Bula-bula , nome por nome , dos integrantes da “selecção dos 114”  ou, seja, o “Dream-team” que tem no topo da lista uma figura influente dentro e fora do pais, uns e outros já nem tanto assim mas o grosso não passa de fauna acompanhante. 

A ressonância magnética produzida pelo papagaio amigo de Bula-bula (que não pára de repetir os 114 nomes cada vez que me vê a passar) permitiu-nos captar qualquer coisa como Graça Machel, Jorge Rebelo, Óscar Monteiro, Mário Machungo, João Facitela Pelembe, Malenga Machel, Basilio Muhate, Hama Thai, Bruno Chicalia, Zacarias Khupela, e companhia!

É de cofiar na barbicha. O Dream – Team reúne gente que não têm problemas básicos. Alguns já ocuparam cargos de relevo no Governo. É gente grande. Da nomenclatura, se quisermos. Pessoas que, pelo poder que têm, podem muito bem fazer-se ouvir sem precisarem de parede interposta.

Como já é de domínio público na petição os “influentes” requerem basicamente que o Comité de Verificação do Partido Frelimo garanta a observância dos Estatutos e tratam de avivar a memória daquele Órgão o seguinte:

a) Que o Comité Central é o órgão máximo entre os Congressos;

 b) Que a escolha dos candidatos da Frelimo é da competência exclusiva e irrestrita do Comité Central;

 c) Que é da competência da Comissão Política apresentar propostas directamente ao Comité Central;

 d) Que se trata de propostas e não de decisões;

 e) Que se ponha termo ao debate das propostas nos Comités Provinciais até que o Comité Central se pronuncie sobre esta matéria;

Para além disso, o “Dream team” requereu ainda para que o Comité de Verificação do Comité Central instrua os Comités de Verificação dos Comités Provinciais para verificar:

 a) Se alguma forma de pressão está a ser exercida por algum membro do Comité Provincial junto de membros do Comité Central residentes de modo a determinar o seu voto.

 b) Que sejam responsabilizados nos termos estatutários os dirigentes provinciais e os dirigentes centrais envolvidos.

 Finalmente que, para se pôr cobro à usurpação de funções, se determine a realização antecipada do Comité Central para este órgão assumir a plenitude dos seus poderes, de entre outros aspectos.

Mas como diria um excelso amigo de bula-bula quanto mais conheço alguns dos meus amigos mais adoro os meus cachorros”. Por isso, bula-bula predispõe-se a assessorar gratuitamente, sem ressentimentos, os “influentes” subscritores até alcançarem os fins que perseguem com meios como o aludido abaixo-assinado ainda que não o tenham mobilizado para o acto de subscrição do mesmo.

Lá dizia T.S. Eliot, por acaso todo cheio de razão, que entre o pensamento e a realidade, entre o impulso e a acção, cai a sombra.

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