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Fragmentos de um dia de votação

Por admin

Bula Bulasaiu à rua no dia 15, o dia da votação. Olhou à esquerda e à direita. Subiu e entrou por entre esguios contornos da vox populi. Viu muita gente aprumada caminhando às primeiras horas rumo às mesas de votação. Homens e mulheres. Mas também velhos.

Viu filas enormes de gente organizada. Uma e outra desorganização, mas que Bula Bula entende não ter feito mossa ao processo. Ainda assim Bula Bula arregalou os olhos e ficou preocupado. Homens e mulheres conversavam, esgrimindo os últimos argumentos a favor de cada um dos seus preferidos. Na maior inocência as pessoas continuavam a digladiar-se bravamente pelos seus ideais, pelas suas convicções. Faziam-no de diversas maneiras. Usando diferentes perspectivas, argumentos e estratégias, que podem ser salutares ou reprováveis do ponto de vista de regimento eleitoral. Faziam-no inocentemente. Bula Bula ouviu e depois fez como toda a gente. Foi votar no seu candidato e partido preferidos. Pintou o dedo. E foi se sentar à sombra de uma frondosa árvore com o velho “xirico” ao ouvido. Dias depois, um grande amigo de Bula Bula, confidente de segredos resguardados em quatro paredes ocas e opacas e que participou de forma activa no processo, contou algumas peripécias dignas de Óscar de Melhor Comédia. Por exemplo, aquela cena de um eleitor que se embrenhou pela cabina de voto dentro, pensou, pensou, pensou e…zás “entornou” o “x” no candidato e partido querido. Só que depois se arrependeu e, já fora da cabina, disse alto e bom som que afinal não era aquela a sua decisão e que fora “enfeitiçado pela oposição”. Queria outra chance. Outra travessura aconteceu quando um eleitor entendeu que o sinal “x” era para marcar aqueles que não eram a sua escolha e desatou a assinalar com “x” os candidatos e partidos que….não queria. Deixou em branco, as suas escolhas. Límpidas como as suas promessas, pensou! Bula Bula fartou-se de rir da história do bêbado a quem foi impedido de votar justamente pelo seu estado ébrio. O bom do homem acatou as orientações e foi-se acomodar numa frondosa árvore, longe dos emigrantes raios solares. Dormiu e sonhou com Baco, o deus do vinho, e suas sumptuosas e deslumbrantes dançarinas. Acordou muito perto das urnas fecharem. Pareceu solidamente liberto do vinho. Votou. Saiu da cabina, parou no meio da sala e, de repente, mostrou para quem quisesse ver o seu boletim voto solidariamente pintado e riscado em todos os espaços. Dispensou a marca indelével, emitiu uma cínica e sonora gargalhada – Então não dizia William Shakespeare que a alegria evita mil males e prolonga a vida? – e desatou num estranho sprint ziguezagueado pela sala fora. Ainda se ouviam as suas sonoras e metalizadas gargalhadas quando as mesas de voto encerraram. Enfim, processos periféricos que nos fazem pensar….e repensar, como fez o outro que acreditava ser imortal, pois não tinha onde cair morto!

 

 

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