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Anda tudo nervoso…

Por admin

A sabedoria popular conclama com sabedoria que se vires a barba do vizinho pegar fogo, coloca a tua na água… infelizmente, nem sempre é possível salvar a bendita barbicha. Foi o que 

aconteceu com um colega do Bula Bula. Ele que em missão de serviço comeu o pão que o diabo amassou…

A notícia chegou-nos como uma bomba de neutrões: o vosso correspondente em Manica foi detido e está a ser interrogado pela tropa no Quartel de Dondo (Sofala). Bula Bula ficou para morrer; um colega preso em tempo de confusão não pode ser uma coisa normal… é que por aquelas bandas, anda meio mundo nervoso e com dedo leve no gatilho. Aliás, na véspera, um grupo ou bando de homens armados assaltara um paiol algures em Savane com mortos à mistura e roubo de artilharia variada de permeio.

Bula Bulaficou realmente preocupado. A sua experiência de 16 anos de luta pela democracia deu-lhe traquejo suficiente para perceber que quando dois paquidermes se travam de razões, as formigas são trucidadas sem dó nem piedade. Era preciso mexer pauzinhos para livrar o colega do colete-de-forças em que estava envolto.

A história – triste e macabra – parece residir na necessidade, que algumas pessoas têm, de justificar os seus insucessos e seguem a máxima segundo a qual “se queres atingir o grande, bate no pequeno”. Só pode ser. É que nada justifica que um pacato cidadão, sentado à sombra de uma qualquer árvore, seja detido e fique horas a fio a ser castigado com toda a sorte de intimidações e perguntas…

“O que o senhor faz ali naquela sombra?”; “Porque é que cortou o cabelo desta maneira?”; “Essa credencial é mesmo verdadeira?”; “Quem lhe mandou ficar sentado com a coluna direita?”; e toda a sorte de perguntas que um prisioneiro de guerra merece.

O colega de Bula Bula lá se justificou como pode: que não estava ali a mando de ninguém, mas sim no cumprimento da sua missão de jornalista; que estava à espera de um “chapa” para regressar a Chimoio, depois de ter estado em Savane a recolher material para fazer uma reportagem sobre o assalto ao paiol, etc. etc.

Na sua honestidade, o homem só se enterrou; porquê recolher informações sobre o paiol? A mando de quem? Porquê é que andava a fazer fotografias mato adentro?

O pobre homem lá se defendeu como pode. A coisa entretanto ameaçava ficar bem mais séria, porque, entretanto, foi rodeado de uma dúzia de homens armados. Arrancaram-lhe os celulares. Confiscaram a máquina fotográfica, o gravador e o bloco de notas (que por acaso tem até o timbre do “domingo”.

Felizmente que antes de silenciarem os celulares, o bom do jornalista já havia mandado um SOS para a Redacção central em Maputo. Bula Bula também entrou em regime de emergência. Foram accionados todos os mecanismos disponíveis para libertar o homem que, cercado de soldados nervosos, facilmente poderia virar carne para canhão…

O calvário foi duro. O jornalista argumentou com A + B que não era nenhum espião, mas os dois soldados que o haviam capturado juravam que ele estivera a fotografar as instalações militares com clara intenção de depois protagonizar um assalto ao estilo de “John Rambo”, que sozinho desbaratava dezenas de inimigos. Que ele representava um perigo para o quartel e para a segurança da zona e, quiçá, do país. Havia que estripar o mal pela raiz… afinal é preciso matar o crocodilo ainda no ovo… se bem que no caso para ovo, o crocodilo já era bem grandinho.

O mais engraçado nisto tudo é que um homem pode ser linchado por “tuta e meia”. Lá pelo meio da tarde, surgiu o Oficial Dia que, mandou revistar o amigo de Bula Bula à cata de uma qualquer bazooka ou morteiro… não fosse o diabo tecê-las. Confirmada a ausência de artefactos bélicos nos bolsos do colete, seguiu-se a máquina fotográfica (onde era suposto encontrar-se a prova definitiva do crime – celebravam os captores). Nicles. Não havia nenhum fotograma do quartel de Dondo… nem coisa que valesse para justificar aquele martírio todo.

A muito custo e muitas horas depois o jornalista foi mandado em liberdade. Devolveram-lhe os celulares, o gravador, entre outros pertences. Afinal não era espião nenhum… que tudo não passara de um pequeno e inocente erro cometido por homens empenhados em garantir a segurança dos cidadãos…

Uma acção irresponsável de dois matutos poderia ter resultado em danos humanos. Felizmente “dura a mentira enquanto não chega a verdade”. Zelosos (mas nem tanto) aqueles dois soldados esqueceram da máxima segundo a qual “não estiques em demasia a corda porque o nó pode ficar apertado demais…”

 

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