Marrabenta: Sua Evolução e Estilização, 1950 – 2002 é o título do livro a ser lançado próxima semana, em Maputo. Da autoria do historiador Rui Laranjeira, a obra retrata a evolução que a Marrabenta teve do ano 1950 até 2002.
Joel Tembe, historiador e docente da Universidade Eduardo Mondlane, fará a apresentação do livro cujo prefácio foi escrito por Francisco Noa. A obra é a primeira do género e é escrita com base numa análise conjuntural aonde os aspectos políticos, culturais e económicos são levados em consideração na tentativa de explicar este fenómeno cultural.
O tema em abordagem resulta da tese da Licenciatura do autor, na Universidade Eduardo Mondlane. Aliás, Rui Lanranjeira que é Mestre Gestão de Património Cultural, diz pretender
valorizar a cultura moçambicana e expressar a necessidade de preservar e divulgar os géneros musicais moçambicanos, que são um importante factor para a afirmação da identidade cultural e da moçambicanidade.
“A obra conta a história social da Marrabenta, género musical urbano, que se popularizou ao longo da década de 1960, em pleno período colonial, num contexto pouco favorável a promoção da cultura Moçambicana e, manteve – se popular até ao presente, apesar de momentos de menor fulgor em períodos imediatamente a seguir a independência nacional. O texto tem como propósito demonstrar como esta evoluíu e estilizou- se sem ignorar o seu contexto sócio-politíco”, explica Rui Laranjeira.
Questionado sobre a incidência do estudo, Rui Laranjeira defende: “O enfoque reacaíu sobre as duas principais associações de Africanos, A Associação Africana (AA) e o Centro Associativo dos Negros (CAN), localizadas na cidade de Lourenço Marques, que estiveram por detrás do movimento de retorno às raízes, lideradas por José Craveirinha e Samuel Dabula, respectivamente. Pois, os Conjuntos João Domingos, Harmonia e Djambu estavam ali sediados e foi através destes agrupamentos que a marrabenta se tornou conhecida e popularizou-se”.
O estudo sobre a Marrabenta centra-se na zona urbana e na cidade capital da província ultramarina de Moçambique, então Lourenço Marques. “Este enfoque é motivado pelo facto de a Marrabenta ser um género musical urbano e por Lourenço Marques ter -se tornado a cidade que viu nascer este ritmo e tornar-se popular devido as condições oferecidas por esta urbe. Em finais do Sec. XIX, Lourenço Marques transformou – se num importante centro urbano em virtude da descoberta de importantes jazigos de ouro na África do Sul e pelo estabelecimento dos caminhos de ferro que passaram a escoar a produção mineira sul – africana”.
O historiador Rui Lanranjeira defende ainda que para os africanos a Marrabenta serviu para se identificarem culturalmente, enquanto para o estado colonial português ela serviu para justificar a sua presença em Moçambique. “Esta era entendida como resultado da presença colonial portuguesa. Segundo, estes a Marrabenta era produto do modo particular, singular do ser português, que tinha tendência a mestiçagem como Gilberte Freire procurou demonstrar com as suas teorias lusotropicalistas, logo perfillhadas, pelo estado colonial. Assim, a Marrabenta era um produto mestiço, prova da presença portuguesa em Moçambique e, por isso promovida para mostrar ao mundo a multirracialidade e multiculturalidade do império colonial português e justificar a sua presença”.