Início » Continuo activo mas afastado da “media”

Continuo activo mas afastado da “media”

Por admin

Filipe Nhassavele é o mais novo de quatro irmãos, todos músicos, conhecidos por “Irmãos Nhassavele”. É compositor, guitarrista e agora docente universitário. Conta com quatro álbuns editados e lançados no mercado, dois dos quais a solo (Xirema e In trevas), e outros dois (Zula Mbilo e Wani Vavissa) frutos da parceria com João Bata.

 Apesar de andar “foragido” da imprensa, Nhassavele revela que vive com a agenda carregada de actuações em festas, casas de pasto, entre outros.

Filipe Nhassavele há muito que não é visto em concertos nacionais. Por onde tem andado? Terá já abandonado a sua carreira musical?

Nunca deixei de fazer música. Afastei-me da media, talvez seja por isso que algumas pessoas acham que parei com a minha actividade artística. Tenho tocado quase todos os finais de semanas nalgumas casas de pastos e em festas.

E porquê esse distanciamento da imprensa. Teve algum dissabor?

Não! É que não gosto de aparecer nos meios de comunicação sem nada para dizer. E como ainda não tenho novidades prefiro ficar no silêncio a trabalhar. Actualmente, estou a tentar criar condições de levar o meu disco à praça, talvez depois disso poderão ver-me constantemente.

Está a preparar um disco de originais?

Não! Pretendo fazer uma reedição dos trabalhos já conhecidos. Um “Best Of”.

Nas actuações que diz realizar aos finais de semanas, apresenta temas novos? Quando irá lançar um disco de originais?

Já tenho temas novos sim, e sempre faço questão de apresentar a esse público restrito para ver como reagem. Mas o que acontece é que os meus fãs já estão muito apegados às músicas mais antigas e sempre pedem para toca-las. No que se refere à possibilidade de lançar um novo disco, posso afirmar que já tenho-o preparado e apenas me falta financiamento para que possa fazer as capas, a maquetização, impressão, edição e outras coisas. Na verdade, o que está a faltar não depende apenas da minha vontade.  

Apesar desse percalço mantém viva a esperança?

Sim! O principal projecto agora é do lançamento do meu disco, a intitular-se The Best of Filipe Nhassavel, que será resultado da selecção das minhas melhores músicas. E como vinha explicando ainda não fi-lo por falta de patrocínio. Enquanto isso, vou trabalhando para melhorar a minha performance. 

NÃO É SUSTENTÁVEL

ACTUARMOS JUNTOS

Já tocou com João Bata e têm dois álbuns juntos. Como foi essa troca de experiência com ele que durou cerca de 10 anos? E porque já não tocam mais juntos?

Foi uma experiência muito boa e marcante. A nossa ligação (com João Bata) começou aquando da criação do grupo “Halakavhuma”, do qual também fazia parte Zeca Murasse. Mas não ficamos por muito tempo. Eu e o João abandonamos para criarmos “Dulho” com o qual gravamos dois álbuns intitulados“Zula Mbilo” e “Wani Vavissa estapora”. Depois de alguns anos, decidimos separarmo-nos.

Por desavenças?

Não! Separamo-nos porque o mercado assim pediu.

Como assim?

Era difícil conseguir que nos pagassem como dois músicos com responsabilidades iguais na banda. Ou seja, não nos viam como dois chefes de famílias diferentes, e isso não nos ajudava. Porém, em determinadas situações trabalhamos juntos para reviver os bens velhos tempos.   

É músico desde a década 80 e, mesmo assim, foi estudar música na Escola de Comunicação e Artes (ECA) da Universidade Eduardo Mondlane (UEM). O que te motivou a ir fazer a formação?

Aprender é algo que faz-se até a morte. Entrar na ECA foi muito bom porque, apesar de já ser uma pessoa que já tinha conhecimentos de música, aprendi a fazer de maneira mais científica algumas coisas que já sabia e adquiri alguns conhecimentos novos. Agora digo de boca cheia que sou professor de música. É que antes já ensinava música a algumas pessoas que me procuravam, mas não tinha o canudo e agora sinto a diferença. Tanto é que até fiquei na própria universidade para dar aulas.

Dá aulas para além de cantar, como é que faz para conciliar isso com a sua actividade artística?

É fácil. Já houve tempos complicados quando era estudante e tinha obrigações académicas de rever as matérias, frequentar bibliotecas, fazer exercícios, enfim. Pior porque era estudante do curso nocturno e a maior parte dos concertos acontecem a noite, pelo que tinha que fazer imenso esforço. Mas, como vê, consegui superar e cá estou. Agora que sou docente, e dou aulas de manha, é fácil conciliar as duas actividades. Para além disso, são áreas que estão ligadas uma vez que estão relacionadas com a música.

Que cadeira lecciona na ECA?

Na ECA dou aulas de timbila.

Porquê timbila se é guitarrista?

Apenas porque sei tocar e gosto deste instrumento. Tem uma sonoridade diferente. Foi uma escolha minha, meio casual.

PIRATARIA MATA EDITORAS

Quais são os temas que mais gosta de abordar nas suas músicas, sobretudo agora que tem conhecimentos científicos em mão?

Gosto de cantar o amor e de me embrenhar pelos acontecimentos sociais como guerras, mortes, entre outros. De um modo geral, os meus temas são focalizados na crítica social.

Troquemos de assunto. Como vê o cenário actual da cultura nacional, particularmente da música?

Bem a nossa música está a desenvolver, já é possível estar numa festa e ouvir música moçambicana até amanhecer, isso é um ganho. Não interessa que tipo de música se está a tocar. Estou apenas a falar do que é feito por artistas nacionais. Há uns que actuam em play back, mas na própria sociedade já há aqueles que não gostam disso e começaram a exigir mais música ao vivo. Com isso uma parte dos músicos que dispensava música ao vivo está já a mudar e a preocupa-se em tocar com bandas.

Como vê a pirataria? E o que acha que deve ser feito para contornar essa situação?

Bem acho que a política cultural no nosso país não nos é favorável. Não há vontade em combate-la. Por vezes os piratas vendem discos em frente a um estabelecimento de venda de discos originais, sob o olhar impávido das autoridades. Há até grandes editoras internacionais que vem ao país com a vontade de investir na nossa música, mas quando vêm a maneira como é feita a pirataria ficam desmoralizados, e voltam para seus países. Estamos a perder muito, outros países estão a desenvolver por conta da cultura, essa que cá não está a ser tão valorizada. Veja que por conta da pirataria, editoras como a Orion, Sons d´África, Vidisco, Diamante, entre outras, morreram.

O que acha que deveria ser feito para combater esse problema?

Acho que o Ministério da Cultura deve ser mais agressivo e empregar ali pessoas ligadas a área. No Ministério da Saúde, por exemplo, só trabalham os que sabem lidar com medicamentos e doentes, mas no nosso ministério não é assim. Ali deveria ser injectada gente ligada à cultura porque temos instituições académicas a formarem jovens, mas pelo que me parece não lhes é dado espaço.

Fugindo um pouco da cultura, como é que vê o cenário actual da política moçambicana? E qual é o seu sentimento em torno disso?

Estou agastado com a tensão político-militar que o país vive. Acho que deveriam sentar e tentar resolver o mais breve possível para que o Moçambique possa progredir. É lamentável ver o país a mergulhar num caos e assistir aos moçambicanos a serem impedidos de viajar livremente e de fazer os seus negócios. Aqueles que por exemplo antes viajavam quatro vezes por semana para o Norte e outros Sul do país, levando produtos daqui e trazendo outros de lá, agora reduziram as suas viagens, ou seja, só as fazem uma vez por semana, e isso é um atraso. E nós não queremos isso, porque o país precisa continuar a crescer, e a guerra só atrapalha. Por mim os políticos deveriam dialogar mais e procurarem fazer coisas para o bem da população.

 

Maria de Lurdes Cossa

Você pode também gostar de:

Leave a Comment

Propriedade da Sociedade do Notícias, SA

Direcção, Redacção e Oficinas Rua Joe Slovo, 55 • C. Postal 327

Capa da semana