Há saudades que podemos matar. Na última sexta-feira, muitos espectadores tiveram o privilégio de fazer isso e reviver os “bons momentos musicais” que tiveram no passado. Fizeram-no assistindo o espectáculo “Velha Guarda”, realizado no Centro Cultural Universitário (CCU).
Desfilaram no palco dezanove músicos, acompanhados pela banda Homba Mô, que rejuvenesceu e actualmente composta por: Fadir (guitarra), Nando (baixo), Agostinho (teclado), Sima (bateria) e as irmãs Belita e Domingas nos coros.
Apresentado por Arsénio Sérgio, o espectáculo transmitido em directo pela RDP África, com a presença e testemunho de Nuno Sardinha e Carlos Pedro, dois comunicadores daquela estação de rádio que divulgam incansavelmente as músicas africanas.
O evento teve a duração de aproximadamente duas horas. Plateia bem comportada, sala cheia, bom som que em alguns momentos oscilou, principalmente quando actuou Wazimbo, horário de início cumprido, são notas de referência do espectáculo organizado e produzido pela Chitará Sound, do jovem Abdul Chitará que mesmo sem patrocínios, fora o da ZAP, decidiu juntar no palco velhos compositores e intérpretes moçambicanos.
“É sempre difícil ter patrocínios quando trata-se deste tipo de espectáculos. Mas porque nós sabemos que aqueles músicos são nossos pais, são a referência e modelo da música em Moçambique, decidimos avançar e fazer este espectáculo. Agradecemos, primeiro aos músicos e ao público que se fez presente para viver e acarinhar a iniciativa”, explica Abdul Chitará, organizador do evento.
ARTISTAS E PÚBLICO BEM COMPORTADOS
Foram dezanove os músicos que passearam a sua classe no CCU. Tomás Moiane cantou (Zula mbiluene yako), Will e Aníbal (Buia muzandziwa), Zena Bacar (Ophentana), Rosália Mboa(Tudo que voa), Paulo Miambo(Naku zandza), Joana Coana(Djuwawana), António Marcos(Maengane), Hortêncio Langa(Alirandzu), Dilon Djindji(Maria Teresa dzukuta), Gabriel Chiau(Wene unga Yale), Xiduminguana(Xicona), Safira José(Culete), José Barata(Grito de molwene), Chico António(Mamate), Elvira Viegas(Lizeze), Roberto Chitsondzo(Kuhanya), Salimo Mohamed(Gungula nhawutomi), gémeos Parruque(Katchassa), Wazimbo (Maria nwahulana) são os músicos que cantaram para uma plateia alegre e ávida. O público, conforme disse Arsénio Sérgio, foi o vigésimo artista.“ Todas as vezes que fui ao palco foi para apresentar grandes artistas. Mas hoje vim apresentar artistas grandes que estão de parabéns. O sucesso deste espectáculo só nos permite dizer que o próximo show vem aí “, disse Arsénio Sérgio.
Quis o destino que o músico João Cabaço partisse, eternamente, mais cedo, não podendo emprestar a sua voz naquele concerto. Mas porque ele era o dono da voz e eloquência sem igual ao cantar, seus colegas, decidiram homenageá-lo, cantando “Hi Mahala”, como música do fecho do espectáculo.
ISTO É HISTÓRIA
– Nuno Sardinha
O apresentador do programa Música sem espinha, na RDP África, Nuno Sardinha, esteve em Maputo e dirigiu a transmissão em directo do espectáculo Velhas Guardas. Acostumado a falar dos músicos e suas composições, desta vez veio vê-los cantar.
“ Estamos a fazer história de Moçambique no campo cultural. Estes músicos, Dilon Djindle, Xidiminguana, Gabriel Chiau têm muito para ensinar. Eles são a referência e incontornável da música moçambicana e a prova disso é o que eles estão a mostrar neste espectáculo. O público acarinha-os e admira o que eles fazem”, disse Nuno Sardinha.
NOSSA MÚSICA É RECONHECIDA INTERNACIONALMENTE
– Glória Muianga
Durante anos, ela apresentou espectáculos e falou da música moçambicana. É uma voz com autoridade para falar dos fazedores da música moçambicana. “ A nossa música tem um valor inquestionável e é reconhecida internacionalmente. A RDP África está a transmitir o espectáculo de Velhas Guardas sustentando ainda mais a sua internacionalização”.
Glória fez uma observação em relação ao apoio. “ Não há patrocínios para este espectáculo, mas hoje ficou uma vez mais provado o quão boa é a nossa música para merecer apoio. Parabéns aos organizadores. Estas realizações têm de ser constantes e em todo país”.
O PÚBLICO CORRESPONDEU
– Gêmeos Parruque
Os gémeos Parruque foram a sensação da noite, quase todos os músicos foram ovacionados. Mas, os dois irmãos gémeos foram os que mais aplausos arrancaram da plateia. Bem vestidos, de fato azul e plóver com tons vermelhos a condizer com a indumentária das coristas Belita e Domingas, os gémeos cantaram e dançaram, relembrando o mítico Michael Jackson. Bebe katchassa é o tema que eles cantaram, sendo desta feita a ponte entre os mais experimentados na música e os seguidores.
“Temos o privilégio de poder partilhar o palco com estes embondeiros. Aprendemos deles e hoje estamos a implementar o que nos ensinaram. Fazer parte deste espectáculo é uma honra”, dizem os gémeos.
Uma das satisfações deles é a forma como a plateia reagiu.“ O público correspondeu às expectativas, o que significa que a música moçambicana tem futuro e recomenda-se. É preciso fazer mais espectáculos desta natureza e em todo o país”.
FOI UM REENCONTRO DE AMIGOS
– Hortêncio Langa
Igual a si mesmo, Hortêncio Langa entrou para o palco do CCU com atitude. Cantou o amor para o gáudio da plateia. Alirandzu é o tema por ele cantado.
“Mais do que um espectáculo, este foi o reencontro de amigos. Faz muito tempo que não desfilamos no mesmo palco”, disse Hortêncio.
O músico elogiou o público dizendo: “Os que vieram para este espectáculo sabem porque é que vieram. E foi um privilégio cantar a ser transmitido pela RDP África e filmado pela STV”.
Frederico Jamisse
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Fotos de Carlos Uqueio