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Em terra de zarolhos quem é cego não vê nada

Por admin

A história, como se sabe, pode durar um dia em questão de minutos. É só nos lembrarmos dos contos e fábulas contados à volta da fogueira. Começam, todos sem excepção, com um calmo mas audível “N`Karingana wa N`karingana”, seguido de um calmo mas ansioso e igualmente audível “N´karingana”, quase sempre acompanhado de risos em surdina como que adivinhando o final da história.

Noutras paragens, o “N`Karingana wa N`karingana” é substituído por um “Era uma vez” ou “Once upon a time”, que é a mesma coisa…

Mas vamos a história que desta vez não é contada à volta da fogueira mas, pelo conteúdo, bem que podia ser… é que é tão interessante quanto hilariante. Mas vamos por partes e se calhar é melhor – afinal somos gente que se preza – comecemos assim: Era uma vez uma senhorita (dessas bem lindonas e ainda por cima adepta da famosa capulana) que, tal como nos contos de fada, pertencia a um Reino que comandava as trevas. Ela, em compensação, andava à luz do dia. Não era como os outros que em verdes pastos e de verdes vestes faziam o povo refém das vontades do tal rei das sombras.

O rei das sombras faz lembrar a história do Rei Procusto. Procusto era um bandido que vivia na serra de Elêusis. Em sua casa, ele tinha uma cama de ferro, que tinha seu exacto tamanho, para a qual convidava todos os viajantes a se deitarem. Se os hóspedes fossem demasiados altos, ele amputava o excesso de comprimento para ajustá-los à cama, e os que tinham pequena estatura eram esticados até atingirem o comprimento suficiente. Uma vítima nunca se ajustava exactamente ao tamanho da cama porque Procusto, secretamente, tinha duas camas de tamanhos diferentes.

Bula bulasabe que algumas mentes irão perguntar: o que é que a tal lindona tem a ver com o rei das sombras e este com o Procusto? Tudo. Ou se calhar nada mas as histórias, como se sabe, têm sempre ligações umas com as outras… mas para não perdermos o fio da meada, retomemos a história da lindona que, dito por ela mesma, viu-se, de repente diante da morte em forma de uma AKM.

Imaginem o susto. Uma AKM. Arma de guerra. Mas, como os deuses protegem sempre as mulheres belas, a bala ficou encravada e, como que por milagre, ela escapou.

Fugiu a sete pés e foi contar para quem a quis ouvir. Testemunhas, nicles. A coisa tinha acontecido num destes muitos becos das nossas cidades. Ninguém viu, ninguém ouviu nada. Só ela e o tal assassino a soldo de um certo regime, segundo ela. Provas, nenhumas mas só podia ser o tal regime. Aliás, segundo as leis do reino do qual fazia parte, basta a palavra da princesa. O resto, segundo esse princípio, é balela.

Bula buladepois de ouvir a história ficou a cofiar na sua rala barba. Como é que ela soube que aquele tal homem armado era enviado de outro rei? E mais: será que houve tal atentado?

Hummm!

Mas considerando que sim, como é que ela concluiu “ipsis verbis” que a cena tinha contornos políticos? Muitas perguntas. Respostas? Outro hummm!

Mas tudo bem… ainda segundo a história (ou será antes estória?), a beleza em questão pertence a um reinado onde impera a lei do mais forte. A lei da bala é que manda mas quando o alvo é alguém da corte, a coisa muda de figura. Já não há direito. É por inveja política. Quando são os acólitos do rei a despejarem chumbo nos incautos, está tudo bem e é em defesa da liberdade. Como assim? As balas são de açúcar quando é contra o povão mas de sal quando o alvo é da família real?

Como em todos os contos, há sempre uma lição de moral no final. No caso desta história pode ser a seguinte: há coisas que nunca vamos entender mas uma coisa é certa; um dia, tal e qual como aconteceu com o Procusto, a bala pode muito bem sair pela culatra.

Agora, como acontece nos filmes, vale dizer que a história acima relatada foi baseada em factos(?) fictícios e que qualquer semelhança com a realidade é pura coincidência…. Será isto que escrevem mesmo ou será “qualquer iludência é pura…”

Bem não vale a pena tentar dizer mais nada… a realidade e a ficção às vezes confundem-nos a cabeça!

 

 

 

 

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