Mbate Pedro, jovem escritor moçambicano, foi anunciado na última quinta-feira, vencedor do prémio
literário BCI 2015.
“Debaixo do silêncio que arde”, editada em 2015, é a obra através da qual Mbate Pedro venceu a 6ª edição do Prémio BCI de Literatura. O anúncio foi feito pelo presidente do júri Jorge Oliveira.
Para a decisão do júri, segundo Oliveira, pesou o facto de na obra estarem conjugados “os principais elementos da escrita artística, como o compromisso com a tradição literária, o labor da linguagem e a criatividade e imaginação do artista.” E acrescentou: “Debaixo do silêncio que arde’ é também um livro que consagra o sonhador que ao longo dos últimos anos não se tem deixado esmorecer e desse modo não deixa de ser uma homenagem a quem encontra na poesia o melhor da arte universal. A atribuição do prémio a esta obra foi uma forma que julgamos salutar de premiar a obra, o artista e o género”, concluiu Oliveira.
Após receber o cheque gigante, no valor de 200 mil meticais, entregue pelo Presidente da Comissão Executiva do BCI, Paulo Sousa, Mbate Pedro começou por dizer que aceitava o prémio com “indisfarçável deslumbramento” para logo acrescentar: “Faço votos que este deslumbramento não seja melhor do que a minha escrita.” Depois destacou os mestres que o inspiraram, esclarecendo que tinha “o temor de falar em público”.
Mbate chamou a atenção para o actual sofrimento dos compatriotas refugiados no vizinho Malawi. “Muitos desses cidadãos fazem parte dos 95% que vivem com menos de dois dólares/dia. Não raras vezes tenho-me sentido atraído e aprendido muito com eles, muito mais do que com os que vivem com mil dólares/dia. Os que abandonam as suas casas sofrem não de uma, nem de duas, mas sim de várias mortes”.
O vencedor do premio BCI afirmou ainda que “Esses que se afastam do país contrariados estão mais próximos do escritor, são a matéria mais líquida dos seus escritos, porque o papel de um escritor é também escrever sobre a tragédia do seu povo e esperar que haja um mundo mais justo. Recuso-me pois a aceitar que haja mais justiça e paz nos livros que escrevemos do que na vida real.”
A terminar Mbate Pedro, que é médico de profissão, “escritor aos domingos e feriados”, disse ter chegado à conclusão que, “com muito respeito pelo BCI, o maior prémio que a literatura nos pode dar é a existência de leitores e o enriquecimento que eles dão à obra do autor. Escrevo para curar as minhas próprias feridas por isso decidi que metade do valor monetário do prémio – ou seja, 100 mil meticais – vai para duas entidades que muito têm feito pela promoção da leitura e do livro: o movimento literário Kuphaluxade Maputo e o Clube de Escritores CEPAN sedeado no Niassa.”