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Girassol: do Papá Samora ao teatro do inverno

Por admin

 

Em 1987 a Organização Continuadores de Moçambique juntou, como forma de dinamizar a cultura, especificamente a dança, música e teatro, um grupo de 80 crianças o qual designou Girassol. Pouco tempo depois este foi dividido em dois, ficando 40 crianças em cada. A designação de Girassol manteve-se, mas foi atribuída as que fariam teatro, e as da música obtiveram o nome de Pétalas Amarelas.

 

Assim começava a estória da Associação Cultural Girassol, antes Grupo Girassol. A primeira peça que exibiu foi em homenagem ao primeiro presidente de Moçambique independente, Samora Machel. Designava-se “Nós Recordamos Papá Samora”.

Girassol é iminentemente um grupo de formação, uma associação cultural que tem como objectivo a promoção de teatro em todas camadas e lugares. Tem impulsionado a criação de grupos de teatro e ajudado jovens amadores.

Estamos preocupados com a promoção cultural, muito particularmente o teatro, afirma Joaquim Matavel, membro do Girassol. 

Com o decorrer dos anos cresceu e quando surgiu a necessidade de registá-lo foi denominado Associação Cultural Girassol, abarcando a componente da promoção cultural especificamente de teatro e dança.

Joaquim Matavel afirma que algumas crianças, que na altura tinham 11 a 12 anos, continuam no grupo, outras por diversos motivos não puderam continuar.

Enquanto grupo infantil ainda continuava ligado a Continuadores. Com o crescimento, as antigas crianças passaram a monitores, ainda ligados a Continuadores, e mais tarde passaram a grupo independente.

Apesar disso, o Girassol continuou a ser escola de formação em matéria de teatro, apresentando espectáculos esporadicamente, mas afirmando-se sobretudo como uma agremiação de formação.

Em suas peças os temas são diversificados. São sobre os direitos da criança, família, escola, juventude, promoção da cidadania (justiça, saúde) e democracia. Apresentam pecas de teatro por eles escritas e outras adaptadas de livros de vários autores, entre nacionais e estrangeiros.

Apesar de não ser profissional, a associação tem um público que admira seus trabalhos. Suas peças são exibidas frequentemente na cidade de Maputo, nomeadamente na Casa Velha, Teatro Avenida e no Centro Cultural franco-moçambicano.

Fazem igualmente apresentações em outras províncias e fora do país. Já exibiram-se em festivais no Brasil, Portugal e tem participação regular no festival de Cazenga, em Angola.

Mas o objectivo não é apenas a nossa apresentação no Cazenga, esta é apenas a contraparte moçambicana no Memorando de Entendimento existente entre o teatro dos dois países. Isso também não significa que o Girassol vá anualmente a este festival, ela é sim responsável pela indicação dos grupos que irão apresentar o nosso país em Angola e recebe os grupos daquele país quando vem cá, disse Matavel.

Os laboratórios de ensaios do grupo estão na Casa Velha, local onde o Girassol tem desenvolvido maior parte das suas actividades. O Teatro Avenida é também um dos lugares que tem as portas abertas para aquela agremiação.

Actualmente conta com cerca de 16 membros efectivos, cerca de 12 pré-adolescentes em formação e mais de 20 membros não efectivos, que sempre que solicitados se predispõem a contribuir.

 

TEATRO DE INVERNO

A Associação Cultural Girassol organiza desde o ano de 2004 o Festival Internacional Teatro de Inverno (FITI). No início, quando este começou, designava-se Festival Girassol, tudo porque, na altura, existia o Festival de Agosto, mais profissional, que acontecia no verão. 

Para promover um evento que juntasse amadores sem atropelar o calendário internacional, a Girassol decidiu realizar o FITI numa altura sem teatro. Maio e Junho foram os meses escolhidos. A ideia era terminar o festival nas vésperas da celebração da independência e fazer aquela festa toda, disse Matavel.

Acrescentou que“na segunda edição vimos a necessidade de tornar o FITI mais dos grupos participantes e não só do Girassol. E porque vimos que a primeira edição realizou-se num período de muito frio acabamos atribuindo este nome”.

O principal objectivo do FITI é divulgar e fazer amostra dos produtos artísticos dos grupos de teatro. Visa igualmente proporcionar oportunidades de formação e intercâmbios de troca de experiência entre os grupos.

No princípio aceitava-se que viesse todo aquele que quisesse apresentar o seu espectáculo, mas com o decorrer de tempo os próprios grupos exigiram que o festival fosse corporizado por aquelas peças que pudessem garantir efectivamente a troca de experiências. Agora a condição principal é a qualidade da obra a ser apresentada, avançou o nosso interlocutor.

 

SUSTENTABILIDADE DO GRUPO

 

Anualmente a associação Girassol desdobra-se na busca de apoios para viabilizar o FITI. Segundo o nosso interlocutor, não tem sido fácil conseguir financiamento, orçado em 10 mil dólares. 

As embaixadas ou cooperações internacionais são os que mais ajudam esta associação. Mesmo assim nunca conseguiram obter 40 ou mesmo 50 porcento do orçamento. Matavel afirma que o empresariado nacional não tem sido pela nossa causa. Não se abre para os fazedores de teatro.

 

O Girassol tem a responsabilidade de garantir a alimentação e alojamento dos grupos de teatro que participam do FITI, sejam estes das províncias ou internacionais. Pelo que consta, devido a falta de recursos financeiros, os organizadores acolhem os hóspedes em suas residências. É lá onde também passam as refeições.  

– O festival dura quatro semanas mas os grupos que vêm não levam este todo tempo. Ficam apenas uma ou duas noites para apresentar seus espetáculos. Estes alojam-se onde for possível, incluindo as nossas próprias casas. Sim. Não temos condições de alugar hotéis.

No entanto, quando aparece um e outro apoio que possibilite um alojamento diferente, os convidados são levados a pequenas residências “artísticas”. Segundo Matavel, não há nenhum constrangimento em receber os actores, sobretudo internacionais, pois é assim como também sobrevivem quando vão participar de seus festivais.

Apesar da organização do Festival Internacional Teatro de Inverno ser de bastante sacrifício nunca falhou nenhuma edição desde o seu lançamento. O motivo da persistência, mesmo com tantas dificuldades, deve-se ao facto do evento ter si tornado numa tradição para os fazedores de teatro amador. Este também serve para que os diversos grupos que não têm onde apresentar os seus trabalhos o façam quando chega o período de Maio e Junho.

Segundo Matavel, também já estão em curso os preparativos da 13ᵃ Edição do evento. Existem grupos, peças de teatro e um bom teatro em Moçambique que além-fronteiras nunca volta sem nenhum prémio, isso nos motiva, afiançou.

Referiu que o teatro moçambicano está a progredir, mesmo sob dificuldades, uma vez que em cada ano surgem grupos com boas obras. Temos a representação, criatividade, improvisação nas nossas veias e isso faz com que sejamos admirados fora do país. Também já temos uma escola superior de teatro, congratula-se.

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