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Escrever para conquistar uma namorada

Por admin

A poesia foi a sua estreia através da obra Raíz de orvalho em 1983.  Qual foi o factor motivacional?

Era o de conquistar uma namorada que não consegui que ela olhasse para mim sequer. Os jovens fazem versos para atrair namorada. Mas os primeiros versos que escrevi foi para meu pai. Tinha 14 anos. A nossa casa era frequentada por um núcleo de poetas, jornalistas.  E esse ambiente ajudou muito. A poesia era como uma língua, idioma.

 

 

Gosta da poesia ou escreve apenas?

Eu sou da poesia. A minha morada é poesia. E conto histórias usando uma linguagem poética. O que é logo um problema porque um romance pede uma linguagem própria, solta. E eu tenho que trabalhar essa linguagem de modo que o leitor não se canse.

 

Onde é que se sente à vontade, na poesia ou na prosa?

Esse dilema não existe porque  mesmo quando estou a escrever em prosa, surge uma ideia poética e já sei que vou colocá-la na secção da poesia.

 

Já declamou?

Sou um desastre a declamar. E não o faço por amor a própria poesia.

 

Qual é o escritor que é referência para si?

Como disse, fui impressionado por Luandino Vieira.  Na minha geração é muito difícil  saltar José Craveirinha, Rui Knopfli que era director do jornal Tribuna. A primeira vez que trabalhei foi sobre a ditadura de um poeta. Ele não era o tipo que fazia poesia. Tinha alma de poeta. Marcou-me muito. Fora influenciaram-me  Fernando Pessoa, Sophia de Mello, Carlos Drumond de Andrade,  João Cabral Melo Neto, meu pai que tinha uma ligação forte com a poesia francesa.

 

Fernando Pessoas tinha vários Heterónimos. Qual deles aprecia?

Álvaro de Campos. Uma vez em Cabo Delgado vi um grupo de jovens declamando poesia de Fernando Pessoa. Gente que não tem nenhuma referência cultural, familiar com Portugal ou com a poesia portuguesa, mas que via Alvaro de Campos tem uma habilidade especial de mostrar como nós somos múltiplos,  como somos várias pessoas ao mesmo tempo. Ser um um só.

 

E o  Camões?

Camões era orbigatoriedade na formação escolar. Não, traziam Camões a força. Traziam Camões como uma disciplina escolar, era uma disciplina fria. Acho que a maneira como aprendemos camões na escola matava o camões. Era um assassinato programado. Ensino da língua é uma coisa. Ensino da literatura é outra.

 

A CARTA PARA BUSH

 

É verdade que escreveu uma carta para George Bush?

Nunca escrevi para ele. Era uma carta para nós discutirmos um bocadinho aquilo que parecia ser uma legitimação moral de uma intervenção em nome dessa condição de polícia do mundo.

A carta foi traduzida para várias línguas. Tive muita gente me escreveu. Outros a parabenizar, muitas pessoas solidarias com a minha posicao, outros contra o que eu estava a dizer.

O que eu fiz foi coleccionar intervenções que os Estados Unidos fizeram ao longo da sua históoria. Grande parte das vezes aquelas intervenções . os eua fizeram intervenções que áfrica que derrubaram e prenderam africanos que eram democratas, estou a falar de Lumumba, por exemplo. Americanos colocaram ditadores no poder em áfrica. Apoiaram a ascensao criminosa em nome da guerra fria.

Guiné equatorial . de repente apareceu o petroleo . tudo mudou .deixou de ser ditado.    A dualidade de criterios.

 

Como funciona a máquina da edição de livros?

Acho que há um problema de base.  As editoras não conseguem fazer um livro que possa ser mais ou menos vendido a um preco acessível. Só o fazem tendo subsídio.  A política do livro não pode ser deixada ao sabor do mercado. Tem que haver  uma vontade do Governo de subsidiar e não deixar que este dependa de patrocínios. Tenho uma ligação vaga com a editora Ndjira mas há uma coisa que me custa, não editar os livros.  Acho que o escritor não devia estar do outro lado para opinar sobre quem deve ser publicado.

 

O escritor tem que pedir patrocínios?

 Acho uma posição pouco digna o escritor andar a pedir patrocínio como se fosse mendigo para publicar seu livro. Isso não dignifica a actividade das editoras nem do escritor.

 

 

Os livros são financiados, pelo menos alguns, no âmbito da responsabilidade social, por empresas. Mas continuam a preços elevados?

O livro continua caríssimo. Acho que é em todo mundo. Se se deixa isso ao critério da editora fica difícil porque  a editora tem que ter lucros, por mais pequeno que seja. O custo da produção do livro é elevado. O papel está caro. A distribução também.  Isso tudo é feito com sacrifício do escritorque ganha uma margem pequena. Ganha mais quem imprime e distribui o livro que o próprio autor. 

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