Está a brotar, no município da Matola, uma equipa de ciclismo. O grupo, ainda amador, é constituído por pessoas que buscam todos os finais de semana pedalar para manter o corpo saudável. É uma prática que se vem tornando hábito já há uns dois anos e agora querem oficializar a equipa.
Farida Lewis (37 anos), quase que religiosamente, acorda todos os sábados e domingos para pedalar. Não é um exercício qualquer, trata-se de Mountain Bike e ela precisa de virar as costas à metrópole e buscar um trilho, desafiar animais selvagens e percorrer alguns quilómetros pedalando.
É das poucas mulheres que fazem parte do Matola MB, equipa que pretende ser reconhecida a nível nacional e não só, num grupo constituído maioritariamente por homens.
No penúltimo sábado tinha percorrido cerca de 55 km de distância. Segundo contou a nossa equipa de reportagem, o seu maior desafio é manter-se na linha da liderança da corrida, colocando todos os homens atrás.
Com três meses de prática, conta que pedalar “tem sido uma experiência boa, ajuda-me a manter a saúde e sinto-me melhor assim. No princípio não era fácil abandonar as mantas para vir fazer isso, só que aqui nada é discriminatório”, narrou, convidando as outras mulheres a fazerem parte do grupo.
Mas a saúde não constitui o único objectivo do grupo. Segundo Daule Lewis, líder dos ciclistas, a meta é unir todos os praticantes da modalidade da cidade de Matola a se empenharem na prática daquele desporto. Segundo assegurou ao domingo, pretende-se, brevemente, criar uma equipa para competir.
Os planos incluem também organizar-se em associação para ganhar o reconhecimento legal por parte da Federação Moçambicana de Ciclismo.
Já houve uma tentativa de criar uma associação, mas a ideia não deu certo por falta de dedicação e união por parte dos membros do grupo. “Mas nem gostamos de falar disso, quando a coisa ficar séria vai-se ver”, explicou.
Actualmente, o grupo é composto por mais de 45 membros, com idades compreendidas entre os 5 e 60 anos.
UM ATROPELAMENTO POR SEMANA
Daule Lewis contou à nossa equipa de reportagem que se torna cada vez mais difícil pedalar devido ao número de acidentes que os seus colegas sofrem nas estradas. Segundo narrou, quase todas as semanas há um membro que é atropelado, o que constitui um perigo para as suas próprias vidas.
No seu entender, a falta de civismo e humanismo por parte dos automobilistas faz com que reine medo por parte dos ciclistas. “Tentamos pedalar fora da estrada, é complicado, vamos falando entre nós para termos cuidados, tentamos alertar para que os motoristas não buzinem, para dar espaço aos ciclistas, mas é complicado”.
Para consciencializar a toda a comunidade, são postas a circular mensagens educadoras nas redes sociais, e através de autocolantes nas viaturas. Por causa dos acidentes, o desafio de pedalar com as crianças torna-se ainda maior. Para já, exigem um metro e meio na estrada para se poderem movimentar com tranquilidade.
MATERIAL: BICO-DE-OBRA!
Segundo o que o líder do grupo elucidou ao nosso jornal, o material para a prática daquele desporto é caro. Adquiridas na África do Sul, as bicicletas custam mais de 10 mil meticais, sem contar com outros acessórios, como é o caso de óculos e capacetes.
Para além da falta de material, eles reclamam um médico que possa cuidar dos feridos em atropelamentos, uma vez que sempre que isso acontece, cada um paga as suas contas no hospital.
Esses factores todos, segundo narraram, não contribuem para que a comunidade adira à prática. “Quando existe vontade, o pessoal pedala, há bicicletas acessíveis, é mais por medo de cair que qualquer coisa. O lema é um por todos e todos por um”, comenta o líder do grupo.
Enquanto isso, Domingos Novela, um dos atletas, disse que o risco que corre não lhe pode impelir a desistir de se fazer aos trilhos. “É espectacular, ali mesmo começa o dia, é como quem acorda para orar todos os dias”, contou.
Segundo ele, a vida já é um perigo, a civilização está cada vez mais irracional, andar nos trilhos das matas é mais seguro que estar na cidade e montar uma bike faz dele estar a escrever a sua história.
Dizem já ter participado em campeonatos fora de Moçambique, mas nunca arrecadaram nenhuma medalha, fora a de participação. Em Janeiro próximo, alguns membros vão participar em campeonatos na África do Sul e Suazilândia.
Para além do ciclismo, o grupo participou numa acção de responsabilidade social, oferecendo vestuário, produtos alimentares e valores monetários ao Infantário da Matola.
Texto de Pretilério Matsinhe