Continuemos a ler o livro de John Hewlett, rezando, todavia, para que as semelhanças que possam existir com o actual processo em busca de paz não passem disso mesmo, semelhanças! Os actores são os mesmíssimos, tirando aquilo que parece produto da engenharia de Filipe Nyusi, que provavelmente não poderá admitir que se volte a brincadeiras com nome de acordo. Pelo menos tem-nos dito que quer algo efectivo, sério e não perecível.
Com efeito, diz Hewlett que, enquanto os convidados faziam fila para aquela cerimónia de Roma, recordou-se como cada um tinha participado nos eventos que os tinham trazido àquele momento. O CIO (a secreta da antiga Rodésia) tinha sido responsável por apoiar a Renamo como força desestabilizadora em Moçambique. O Zimbabwe do Presidente Mugabe tinha actuado como mediador para conseguir o cessar-fogo.
O Quénia foi igualmente importante ao tentar garantir os encontros iniciais a que Dhlakama se tinha esquivado. O Malawi tinha sido crucial ao permitir o avanço fundamental. Eram africanos que procuravam resolver os problemas africanos.
Quanto aos europeus eram uma estranha mistura, diz o autor, que prossegue: Portugal era vital como antiga potência colonizadora, mas de facto tinha feito pouco para trazer o fim da guerra. A Renamo tinha muitos simpatizantes em Portugal e lá mantinha escritórios. Embora os portugueses tivessem um papel oficial nas conversações de Roma, os italianos não apreciavam esta presença e tinham boas razões. Em todo o tempo os italianos foram mais proactivos e positivos.
O embaixador do Reino Unido beneficiava de uma relação especial com Moçambique, em parte, talvez, porque a Lonrho era o maior investidor, mas também porque Moçambique tinha dado apoio nas conversações de “Lancaster House” que conduziram o Zimbabwe à Independência.
Em Washington tinha havido uma substancial pressão da “Heritage Foundation” para apoiar a Renamo que era pintada como combatente para a democracia, que lutavam contra um mal que era o regime marxista. O Departamento de Estado tinha resistido a isto, o que se prolongou pelos primeiros anos de Chester Crocker. Os EUA tinham apoiado o Acordo de Nkomati em 1984. As Nações Unidas foram cruciais para que as assinaturas nos documentos se transformassem em acção.
A assinatura do cessar-fogo foi acolhida pelo Governo da Itália na sede do Ministério dos Negócios Estrangeiros. A relação da Sant´Egídio com Moçambique surgiu quando esta comunidade tentou melhorar os laços entre o Estado moçambicano e a Igreja Católica, nos anos 1980, e foi influenciada pelo bispo da Beira (ora falecido) Dom Jaime Gonçalves. As relações tensas ficaram desanuviadas quando o Papa João Paulo II visitou Moçambique a convite do Presidente Chissano, em 1988.
A Sant´Egídio tinha negociado com a Renamo a libertação de alguns missionários sequestrados em 1985. Este contacto levou-a a iniciar e acolher as conversações do cessar-fogo em Roma, conduzidas por Mário Rafaell.
PS: Está uma titânica luta movida pelos organizadores da marcha de sábado antepassado, rotulada de manifestação, para que a imprensa, principalmente a escrita, escreva algo. Até há quem ameaça que, caso não, poderá usar “outra” imprensa para lixar a que não publicar. Fica a ideia de que se realizou para que saísse na imprensa, na minha convicção sempre presente, de que as publicações servem de factura/recibo para justificar o “trabalho” a quem mandou fazer.
Pedro Nacuo
nacuo49nacuo@gmail.com