“Quem diz a verdade, manifesta a justiça, mas a testemunha falsa engana.” Pv 12:17
HUMANIZAÇÃO: PRECISA-SE NA NOSSA TERRA!
Este é o último “DESABAFO”, feito deitado num Catre duro desconfortável em terras Indianas. Até é porque, julgo não existir no mundo inteiro uma cama confortável numa enfermaria. Estou a sair duma crise de vómitos que quase enviava-me para junto do meu paizinho que espera por mim no Inferno passam duas décadas. A crise teve como causa o sorvo de um chá com leite de Búfala, (será esse o nome da fêmea de Búfalo!?), misturado com temperos e demais especiarias picantes típicas da culinária Indiana. Os vómitos degeneraram numa limpeza de tudo quanto tinha comido até ai, incluindo Mathapa ingerido em Maputo. Foi uma situação tão embaraçosa que alvoroçou toda a equipe que me assiste (médicos, fisioterapeutas, dietista, etc.). Entrei em delírio e, durante a minha “agonia” cheguei a confundir a Equipe com o grupo coral da minha Igreja tomando o meu médico como o Pastor a proferir Homilia daquelas onde toda a mentira é valida, pois mesmo em se tratando de um crápula diz-se dele que “este irmão era uma excelente pessoa…bla, bla, bla”. Fragilizado quando recuperei vi que, além de Soro, estava recebendo também transfusão de Sangue Indiano. Agora, corre-me também sangue Indiano em mim! Toda a Equipe congratulou-se, quando finalmente fiquei lúcido. Uma das coisas que me marcou positivamente neste Hospital, é o contacto directo com que todo o pessoal que cuida de nós se entrega. Diariamente interessam-se por saber como nos sentimos e se temos notícias das nossas famílias. Nunca em toda a minha existência (mais de sete décadas), tinha estado a conversar com um médico uns cinco minutos que fossem, coisas que aparentemente nada tivessem a ver com a nossa doença. Diária e pontualmente as nove horas o meu médico, (Dr. Hari Krisiina Ankem), reserva uns cinco minutos para sentado a meu lado e, numa conversa informal quer saber: o que eu faço ou fazia, de quantos membros é a minha família, quais são os meus hábitos culturais, etc.). É a isto que eu chamo humanização. Na minha Pátria Amada, o Paciente que conversar com um médico três minutos, esse deve ser muito especial, enquanto aqui diz-se que é rotina deles. Por exemplo, na nossa Pátria Amada, o Corpo de Médicos que homologou a minha vinda a Índia, tirando o meu Ortopedista e o Director do HCM, os restantes estariam a faltar a verdade se disserem que alguma vez me viram pintado ou falaram comigo. Sei que a crítica dói, conforme o Escritor Norte-americano Dale Carnegie disse um dia: “A Critica é fútil, porque coloca um homem na defensiva, e, comumente, faz com que ele se esforce por justificar-se, e por isso a critica é perigosa porque fere o preciso orgulho do indivíduo, alcança o seu senso de importância e gera o ressentimento”, mas o facto é que eu pelo menos fui “despachado” para aqui como se de uma encomenda se tratasse, (um saco de batatas). Discutiram a minha doença através do meu processo sem nunca me terem visto. Para mim a Humanização implica a mudança de mentalidades dos profissionais da saúde e não só, criando novos profissionais mais capacitados e tendo a Humanização como um dos seus principais objectivos. Por exemplo, espera-me uma fisioterapia de cerca de dois meses que, conforme o meu médico, terá de ser feito aí na Terra. Como serei tratado? Até breve.