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Mahubo: terra do gado ou reduto de criminosos?

Por admin

Texto de Carol Banze e Fotos de Jerónimo Muianga

Uma terra conhecida pela actividade de criação de gado e produção de diferentes culturas, a localidade de Mahubo, distrito de Boane, província de Maputo parece ter-se tornado num esconderijo de indivíduos praticantes de diferentes crimes, incluindo homicídios voluntários, que se ausentam, desse modo, da prestação das suas contas às autoridades de justiça.

Trata-se de um lugar com características marcadamente campesinas. A densidade populacional dispõe-se colocando os seus moradores praticamente distantes uns dos outros. A mata, relativamente densa, ofusca o que aquela terra tem para mostrar, os habitantes aparecem esporadicamente, ora atravessando de uma parte para a outra de enxada em punho ou apascentando o gado, que dá o ar da sua graça irrompendo mata afora, ora fazendo deslocações a caminho do lado de fora de Mahubo. A paisagem chama atenção, igualmente, pelo cenário ressequido, pouco chove, o que, diga-se de passagem, agrava a crise de água naquele local.

Entretanto, se as questões telúricas preocupam em Mahubo, elas caminham lado a lado com o facto de, segundo alguns moradores, o local ter-se transformado em reduto de criminosos que, cientes dos danos perpetrados na sociedade, embrenham-se naquelas matas e, ao que parece, com a garantia de integridade física e repouso de consciência.

Estes dados foram colhidos pelo domingo aquando das suas deslocações a Mahubo, na tentativa de localizar Belarmino Timbe, o cidadão natural de Massinga, zona do Rio das Pedras, Província de Inhambane, que praticou um delito ao desferir golpes de catana no corpo da própria mulher, o que culminou com a amputação de um membro inferior e outro superior da vítima.

Coincidência ou não, a verdade é que o julgado e condenado (presumivelmente não cumpriu a pena) Belarmino Timbe, recorreu, também, àquela localidade para levar a vida no sossego, de acordo com informações avançadas por Maria Teresa Carlos, sua vítima.

Assim sendo, levanta-se aqui a seguinte questão: terá Mahubo se tornado no reduto dos criminosos?

Esse pressuposto ganha forma quando alguns moradores relatam histórias de indivíduos que praticaram crimes em diferentes locais do país e encontraram naquela região um refúgio.

Salmina Macuácua, moradora de Mahubo, conta que já houve registo de casos de cidadãos que ali se instalaram sob pretexto de encontrar trabalho, porém, ao andar do tempo “descobriu-se que se tratava, afinal, de criminosos que têm contas com a justiça”. Conforme nos foi narrado, muitas vezes o desvelamento desses farsantes é feito quando o azar lhes bate à porta, ao serem reconhecidos por pessoas com conhecimento dos seus actos criminosos cometidos no passado. “Há vários casos. Um deles tem a ver com um indivíduo natural de Inhambane, que, há alguns anos, tirou a vida da sua mulher com recurso ao pau de pilar. Foi reconhecido por pessoas da mesma zona de origem que, em seguida, traçaram um plano que culminou com a sua entrega às autoridades policiais”, disse Salmina Macuácua.

Esta situação é testemunhada pelo responsável de um dos Quarteirões da localidade de Mahubo, Alfredo Zunguze. “Temos conhecimento desses factos. O que acontece é que algumas pessoas chegam à nossa localidade e não se apresentam às autoridades, ou seja, não se identificam”.    

Facto curioso é que moradores daquela localidade dificilmente se tratam pelo nome próprio. Ali, funciona ou o apelido ou uma alcunha que pouco ou nada tem a ver com a real identidade da pessoa. “Aqui as pessoas tratam-se dessa maneira. Só sabemos da existência de Manhiques, Matsinhes, Macovelas, Zandamelas… ninguém conhece o nome do outro”, denunciou Salmina Macuácua.

Por este motivo, Alfredo Zunguze, reforça a necessidade de “não se acolher indivíduos desconhecidos, sem a devida apresentação. Temos falado sobre isto nas reuniões das sextas-feiras, mas certos colegas não acatam essa ordem”.

É o que também preocupa a Simião Hlambisse, morador e elemento da polícia comunitária. Para este cidadão, uma das medidas que resolveriam o problema de invasão de criminosos seria “a apresentação de um documento passado do local de proveniência a ser apresentado no destino do migrante”.

Entretanto, a vizinhança ressoa a fama. Em Boane, fala-se que Mahubo é, de facto, o reduto dos bandidos. “Sabemos disso, mas não efectuamos denúncias por temer represálias”, disse uma moradora que não quis se identificar.

População deve denunciar suspeitos

– Sidique Bila, do Comando Distrital de Boane

Reagindo às queixas apresentadas por alguns moradores de Mahubo, segundo as quais aquela localidade é um reduto de marginais, Sidique Bila, responsável pelo Comando Distrital de Boane distanciou-se dessas alegações, entretanto, chamou atenção para o facto de, geralmente, as zonas de expansão, incluindo parte de Mahubo, serem susceptíveis de acolher pessoas de diversas origens, sendo que, “dificilmente se sabe quem são e quantos são” o que, eventualmente, poderá ser apontado como factor para os criminosos se infiltrarem.

De qualquer forma, Comandante Sidique avançou que não existiamocorrências que pudessem levar a essa conclusão, tendo em seguida referido que Mahubo conta, já, com um posto policial local, cujo trabalho é feito de maneira coordenada. “Em todo o distrito de Boane temos trabalhado dessa forma e contamos com a colaboração das autoridades tradicionais, para que, à mínima suspeita de ocorrência de crimes, a informação chegue às autoridades da Lei e Ordem”.

Num outro desenvolvimento, referiu que relativamente ao caso de Belarmino Timbe, poderão ser feitas diligências, mas “baseados no trabalho jornalístico publicado no jornal domingo. Na verdade, esse caso já não é matéria policial, está ao nível do tribunal ou da procuradoria. A partir dessas instâncias poderá se aferir se de facto aquele cidadão furtou-se ou não ao cumprimento da pena pelo crime por ele cometido”, esclareceu.

Na senda deste caso, Sidique Bila lançou um apelo no sentido de a população denunciar qualquer movimentação suspeita no seio das comunidades. “Hoje em dia é possível fazê-lo através das linhas telefónicas abertas para esse efeito, cujos números de contacto são amiúde informados à população”.  Outra alternativa avançada pelo Comandante Sadique consiste em fazer chegar as denúncias através do Polícia-Padrinho, um agente indicado para, de forma especial, disponibilizar os serviços da polícia nos bairros, tornando assim mais próxima a relação entre a PRM e a comunidade.

Texto de Carol Banze

carolbanze@yahoo.com.br
Fotos de Jerónimo Muianga

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